"Balas
sobre a Broadway", de Woody Allen
Por Vasco T. Menezes
Uma comédia hilariante que fica como um
dos melhores Woody Allens dos últimos Anos
Incompreendido pelo grande público,
David Shayne (John Cusack) é um jovem e idealista dramaturgo.
Depois das duas primeiras peças terem sido rotundos fracassos,
resolve que à terceira será ele o encenador, para
que a sua visão não seja novamente desrespeitada.
David jura não comprometer a integridade artística,
mas depressa é obrigado a rever as suas convicções
quando percebe que, em troca de financiamento e da participação
de estrelas como Helen Sinclair (Dianne Wiest) e Warner Purcell
(Jim Broadbent), terá que oferecer à namorada do novo
mecenas, “gangster” Nick Valenti (Joe Viterell um pequeno
papel.
Mas as concessões não terminam aí,
pois a corista sem talento (Jennifer Tilly) vem acompanhada de uma
“sombra”, Cheech (Chazz Palminteri), um guarda-costas
que vigia incessantemente os ensaios e resolve ensinar David a “escrever
como as pessoas falam”, revelando uma insuspeitada apetência
artística...
Com “Balas sobre a Broaway” (1994), chega
à série Y um dos autores mais prestigiados do actual
cinema americano, Woody Allen. Com inteira justiça, diga-se,
já que poucos cineastas, americanos ou não, conseguem
manter um nível médio tão elevado (apesar dos
sinais de algum cansaço que as últimas obras começam
a revelar). Woody Allen, ainda por cima, já nos habituou
a esperar por um filme todos os anos (se eles chegam ou não
rapidamente a Portugal, isso já é outra história...).
Depois de uma fase mais “séria”
e bergmaniana (que, ao que parece, coincidiu com o casamento com
Mia Farrow), a obra do realizador tornou-se mais “leve”
e lúdica. “Balas sobre a Broadway” é talvez
(a par de “Toda a Gente Diz Que Te Amo” e “As
Faces de Harry”) o ponto alto dessa viragem. Não se
trata tanto de um regresso aos tempos iniciais do burlesco e do
“slapstick” anárquico, à maneira de um
“Bananas” (1971) ou “ABC do Amor” (1972),
mas sim de um formidável exemplo de comédia sofisticada,
uma sátira hilariante às pretensões e hipocrisias
do mundo do teatro.
Allen assina uma obra quase perfeita, que capta,
com elegância e fulgor, a loucura da Nova Iorque dos anos
20 e permite a um elenco magnífico (liderado por Cusack,
no papel de um neurótico inseguro que costuma estar reservado
para o realizador) espraiar todo o seu talento. Apesar da excelência
uniforme, realce para a saborosa rábula de Wiest, que lhe
trouxe o Óscar de melhor actriz secundária.
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