"Um
Casamento Atribulado", de Jennifer Jason Leigh e Alan Cumming
Por Vasco T. Menezes
Drama e humor entrelaçamse num filme sobre as dificuldades
e a fragilidade das relações humanas
Depois de terem vivido seis meses separados,
Sally Nash (Jennifer Jason Leigh) e Joe Therrian (Alan Cumming),
um casal de celebridades que vive numa sumptuosa casa num desfiladeiro
de Beverly Hills, voltam a juntar-se, a tempo de celebrarem o sexto
aniversário de um casamento que não tem primado pela
estabilidade. Enquanto ele é um escritor de sucesso, vencedor
de inúmeros e prestigiados prémios e prestes a estrear-se
na realização, ela é uma actriz cuja carreira
já conheceu melhores dias.
Para a festa de aniversário convidam uma série de
amigos, quase todos ligados ao meio de Hollywood: actores, realizadores,
fotógrafos, agentes... À medida que as horas avançam
e o dia dá lugar à noite, os sentimentos mais íntimos,
medos, ansiedades e defeitos do grupo vão sendo revelados.
“Um Casamento Atribulado” (2001) marca a estreia na
realização de dois actores, a americana Jennifer Jason
Leigh e o escocês Alan Cumming (que também escreveram
o argumento e produziram o filme a meias). Ao contrário de
outra dupla que já passou pela série Y, os irmãos
Coen, os laços que os unem não são fraternais,
mas sim de amizade. Logo, faz todo o sentido que tenham convidado
uma série de amigos — entre os quais vedetas como Paltrow
ou Kevin Kline e baluartes da cena independente como Parker Posey,
Jennifer Beals ou Jane Adams – para encarnar um grupo de trintões
a caminho (rapidamente) dos 40, que interagem e entram em confronto,
ao sabor do improviso e em registo de constante intensidade emocional.
Se o tema não é propriamente novo — a instabilidade
e as inseguranças que se escondem por trás da superfície
do “glamour”, normalmente associado às vidas
dos “ricos e famosos” —, “Um Casamento Atribulado”
não deixa por isso de ser uma obra interessante, na medida
em que dele se desprende uma sensação de intimidade,
descontracção e autenticidade (quase como se fosse
um “home movie” confessional, sem “história”
a intrometer-se) ausente na maioria dos “filmes sobre festas
pela noite dentro em que verdades dolorosas são reveladas”.
Além disso, é inegável o imenso prazer que
se sente ao ver um fabuloso elenco de actores a “fazer deles
próprios”, interpretando personagens (escritas especificamente
para cada um deles) que, de certa forma, correspondem às
suas essências e representam os hábitos e idiossincrasias
que lhes associamos. |