"Austin
Powers, o Agente Misterioso",
de Jay Roach
Por Vasco T. Menezes
Um "pastiche" hilariante dos filmes de
espionagem pela mão de um dos mais talentosos cómicos
actuais, Mike Myers Irresistível para as mulheres e mortífero
para os inimigos. É Austin "Danger" Powers (Mike
Myers), um fotógrafo "playboy" que é também
o maior agente secreto inglês dos anos 60. Quando o seu arqui-inimigo,
Dr. Evil (novamente Myers, num vilão saído de um filme
de James Bond e que é uma cópia perfeita da "némesis"
de 007, Ernst Blofeld, careca e com um inseparável gato),
foge para o espaço e é congelado criogenicamente,
Austin aceita passar pelo mesmo processo. O objectivo é simples:
ser descongelado se o maléfico terrorista internacional alguma
vez reaparecer. O que de facto acontece, em plenos anos 90, quan
o Dr. Evil rouba uma arma nuclear e, a partir da sua base no Nevada,
sequestra o mundo inteiro (!). Com a ajuda de Vanessa (Elizabeth
Hurley), a bem-comportada filha da sua antiga parceira, Mrs. Kensington
(Mimi Rogers), Austin vai enfrende novo o louco megalóno.
O problema é mesmo optar as suas convicções
e atitudes aos novos tempos, radicalmente distantes do amor livre
e dos "swinging sixties" londrinos.
"Austin Powers, o Agente Misterioso" (1997), de Jay Roach,
é uma paródia hilariante não só de espiões
tão em voga nos anos 60, como a toda a cultura dessa época.
O melhor exemplo é dado pelo próprio protagonista,
um psicadélico e excitável espião ao serviço
de Sua Majestade, com uma libido incontrolável (o seu verbo
preferido é "shag", qualquer coisa como "coisar")
e uns dentes muito podres. Se o principal modelo é James
Bond, encontram-se também nesta figura ecos de Harry Palmer
- o agente secreto celebrizado por Michael Caine a partir de 1965
(daí os óculos...) - e do fotógrafo que David
Hemmings interpretou no "Blow Up" de Antonioni (1966).
Por aqui se percebe que "Austin Powers" é uma irresistível
máquina centrifugadora de referências e piscadelas
de olho, uma celebração jubilatória da cultura
popular. O filme faz gáudio do seu humor de mau gosto, escatológico
(sem no entanto cair na boçalidade alarve de objectos como
"American Pie" ou "Scary Movie"), com um ritmo
imparável e uma energia libertária contagiante. Além
disso, é o veículo perfeito para mais um "one
man show" do cómico fabuloso que é o canadiano
Mike Myers. Para ver (e rir) sem preconceitos, portanto.
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