"Sleepers — Sentimento de Revolta”,
de Barry Levinson
Por Vasco T. Menezes
A colecção de DVD do PÚBLICO
prossegue com um drama sobre a destruição da inocência
e o valor da amizade
Lorenzo, Michael, John e Tommy são quatro
amigos inseparáveis que vêem as suas vidas alterarem-se
para sempre, quando uma simples brincadeira põe um velhote
em coma e os envia, durante um ano, para um reformatório,
o Wilkinson Center. Aí, sofrem humilhações
e maus tratos diários, espancados e violados por um grupo
de guardas liderado pelo abjecto Nokes (Kevin Bacon). Passados 13
anos, Lorenzo é repórter e Michael advogado, enquanto
John e Tommy se tornaram assassinos profissionais. Quando um encontro
fortuito entre os dois últimos e Nokes resulta na morte deste,
Michael, com a ajuda de Lorenzo engendra um plano de vingança...
“Sleepers — Sentimento de Revolta (1996),
de Barry Levinson, a proposta da série Y para amanhã,
é um drama sobre a inocência destruída de quatro
rapazes (os “sleepers” do título, o nome dado
aos que passam pelos reformatórios juvenis) e de um vazio
que, enquanto adultos, nunca conseguiram preencher. Adaptação
do livro de Lorenzo Carcatera, supostamente baseado ma história
verídica, também a denúncia de sistema correccional
onde os abusos de autoriade são uma constante, evitando lidar
de uma forma gratuita com um tema delicado como a pedofilia.
Realizador desigual, Levinson tem dividido a carreira
entre interessantes projectos pessoais — geralmente centrados
na sua Baltimore natal, como o seu filme de estreia, “Diner/Adeus,
Amigos” (1982) e “Tin Men/Caixeiros Viajantes”
(1987) — e pastelões anódinos — de que
“Revelação” (1994) e “A Esfera”
(1998) são bons exemplos. “Sleepers”, escrito,
produzido e realizado por Levinson, situa-se algures entre esses
dois pólos e, acima de tudo, revela os pontos fortes do cineasta:
o agudo sentido de época — o melhor do filme é
mesmo a evocação inicial da infância dos protagonistas
no bairro nova-iorquino de “Hell’s Kitchen” (local
de tradições enraizadas onde os ecos da revolução
dos anos 60 tardavam em chegar), filtrada pela memória dos
sons dos Beach Boys, Trashmen, Doris Day ou Dean Martin —
e a segura direcção de actores. O realizador consegue
interpretações notáveis de um elenco soberbo,
que vai dos veteranos Robert de Niro, Vittorio Gassman e Dustin
Hoffman ao “bebé” Brad Renfro, passando pelo
“maduro” Kevin Bacon e pelos “novatos” Brad
Pitt, Jason Patric, Minnie Driver e Billy Crudup.
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