“O Grande Lebowski”, de Joel
e Ethan Coen
Por Vasco T. Menezes
Tresloucada comédia sobre raptos, “bowling”,
niilismo e a guerra do Golfo é o objecto de culto por excelência
da filmografia dos Coen.
A história de um herói para os anos
90. Jeffrey “The Dude” Lebowski (um anafado Jeff Bridges,
notável como sempre), possivelmente o homem mais preguiçoso
de Los Angeles, é um “hippie” barbudo de meia-idade,
desempregado e despreocupado. Um dia, entra no seu apartamento decrépito
e encontra dois rufias que o confundem com outro Lebowski —
um milionário velhote, casado com uma mulher, Bunny, que
deve dinheiro a metade da cidade, incluindo o patrão destes
— e lhe urinam no tapete querido, que “compunha muito
bem a sala”. Resolve então ir falar com o irascível
magnata, à procura de compensação financei
ra pelos seus prejuízo No entanto, as coisas nã correm
como esperava depois de ter sido aconselhado pelo seu homónimo
a arranjar um emprego, o máximo que consegue é surripiar
um tapete à saída da sumptuosa mansão. Apesar
disso, quando a mulher de Lebowski é raptada (terá
sido mesmo?), Dude é escolhido para servir de intermediário
na entrega esgate, a primeira muitas peripécias urdas e hilariantes
que se vai envolver, lado de dois amigos ompanheiros de “boing”,
Donny (Steve uscemi) e Walter John Goodman), um sicótico
veterano do Vietname.
Depois de “Fargo” (1996), “O Grande
bowski” (1998) é o segundo título dos irmãos
Coen a ser lançado pela série Y. Eternos desconstrutores
de géneros, deixam transparecer, mais uma vez, a fixação
que nutrem pela tradição da literatura “noir”
— autores como Raymond Chandler, Dashiell Hammett ou James
M. Cain —, que funciona como fonte inesgotável de inspiração
(houve mesmo quem referisse que os herdeiros de Hammett já
poderiam muito bem ter processado os manos por plágio, tais
as semelhanças de “História de Gangsters”
com “A Chave de Vidro” e “Colheita Sangrenta”...).
O filme funciona assim como uma homenagem, em forma de paródia,
a Chandler e às suas histórias tortuosas passadas
em Los Angeles, oportunidade para os Coen satirizarem os estilos
de vida da costa oeste americana e repetirem o olhar idiossincrático
que lançaram ao Minnesota no anterior “Fargo”,
agora direccionado para a cidade dos anjos.
O resultado é uma das obras mais divertidas
dos últimos tempos (mais próxima da anarquia alegre
de “Arizona Júnior” do que da sofisticação
de “O Grande Salto”/”Hudsucker Proxy”, os
outros dois exemplos de comédias puras que os irmãos
nos tinham dado), repleta de memoráveis diálogos insanos,
debitados por uma insuperável colecção de excêntricos,
comandada pelo letárgico e charrado Dude.
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