Jackie Brown Amo-te Foxy Lady
Por Vasco T. Menezes
"Jackie Brown", ou de Tarantino como amor.
Um "thriller" feito em homenagem à rainha de um
certo cinema americano dos anos 70, Pam Grier. É o próximo
DVD da série Y.
Jackie Brown, uma hospedeira de meia-idade, trabalha
numa companhia aérea miserável que faz a ligação
entre os EUA e o México e transporta dinheiro para Ordell
(Samuel L. Jackson), um traficante de armas. Até ao dia em
que, após ter sido descoberta pela polícia e cansada
de ser um mero peão nas mãos de outros, resolve mudar
de vida e engendra (com a ajuda de Max, um fiador de fianças)
um plano para ficar com o meio milhão de dólares que
Ordell tem no México...
Depois do magistral "Cães Danados"
(1992) e de "Pulp Fiction" (que lhe trouxe a consagração
definitiva em 1994, com a Palma de Ouro em Cannes), Quentin Tarantino
regressava ao "thriller", numa adaptação
do romance "Rum Punch" de Elmore Leonard. Os seus filmes
são verdadeiros baús de cinefilia (e de roubo cinéfilo).
Mas nunca antes uma personagem, num filme de Tarantino, foi uma
fantasia tão privada. E nem é tanto uma personagem
como o corpo de uma actriz: Pam Grier, a rainha dos "blaxploitation
movies" dos anos 70, género feito para, e pela, orgulhosa
consciência negra, que assim reagia à marginalidade
que o "mainstream" lhe reservava. Pam surge aqui almofadada
pelo enlevo açucarado do olhar do realizador. Num filme feito
para ela - e para ele, Tarantino.
Percebe-se quando se vê o genérico:
metros e metros de película para a câmara se embasbacar
com Pam Grier, enquanto ela desliza sobre a passadeira rolante de
um aeroporto e os mosaicos da parede se vão desenrolando,
como cenário móvel em fundo. É um "thriller",
não conseguiu, afinal, reavivar a carreira de Grier (como
o realizador conseguira fazer a John Travolta, após "Pulp
Fiction"), mas fica sobretudo o amor: de Tarantino, com amor.
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