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   Sai na próxima quinta-feira
  Tentação

Joaquim fala de...
... Joaquim

Por Vasco T. Menezes

Primeiro de uma série de filmes portugueses que fazem a sua estreia em DVD com a Série Y, “Tentação” conta a relação proibida entre um padre e uma toxicodependente, algures no Portugal profundo.
Vagamente inspirado num caso real, é ao mesmo tempo uma história de amor e uma aboradagem a problemáticas como o racismo e as milícias populares. Fenomenal sucesso comercial — o primeiro filme português a ultrapassar a marca dos 300 mil espectadores —, motivou mais um encontro entre dois Joaquim do cinema português: Leitão e De Almeida.

PÚBLICO — O que o atraiu em “Tentação”?
JOAQUIM DE ALMEIDA — Interessou-me o facto de ser baseado numa história verdadeira. Depois, toda a ideia de que os padres são pessoas normais — como as outras pessoas, com emoções — e todo o diálogo interno da personagem (a Igreja, o celibato) e a sua relação com a mulher [Cristina Câmara]. É uma personagem interessante.

A que se deveu o êxito estrondoso do filme?
Eu e o Joaquim [Leitão] já tínhamos tido bastante bilheteira com “Adão e Eva” (1995) e as pessoas perceberam que havia uma dupla que fazia filmes que estavam a ser bem aceites. Portanto, o êxito foi produto do trabalho feito anteriormente. Isso e o facto de o tema ser muito interessante. Hoje em Portugal, os filmes já têm por trás todo um “marketing”— as pessoas já sabem que os filmes se vão estrear, vão ao cinema não só por causa dos actores, mas porque sabem do que se trata e isso é importante — e há anos isso não se fazia. O filme estreava-se e as pessoas nem se davam conta.

Entrou em vários filmes de Joaquim Leitão. A que se deve essa relação profissional?
Acima de tudo, a termos começado a trabalhar juntos e nos termos dado muito bem nos primeiros filmes. Depois, entendemo-nos na maneira de fazer cinema, temos um gosto que é parecido e somos amigos. Se já se fez um filme com alguém com quem se gostou de trabalhar e os resultados foram positivos, temos sempre vontade de voltar a trabalhar.

É o seu realizador preferido?
Em Portugal, é aquele com quem tenho gostado mais de trabalhar. Se é o meu preferido, não sei… Mas gosto muito da maneira de trabalhar do Joaquim [Leitão]. É uma pessoa que, por ser também um bom actor, sabe dirigir actores. Não se preocupa apenas com a câmara, mas também com os actores e isso é importante. Muitos realizadores não têm uma boa relação com os actores e isso é indispensável.

Qual é o seu filme preferido de Joaquim Leitão?
Dos que fiz com ele, “Uma Vida Normal” (1994), um dos primeiros e que talvez tenha tido menos audiência, porque na altura não teve a publicidade que os outros tiveram.

Tem consciência do que representa, enquanto figura masculina, no universo do realizador?
Sinto que às vezes sou o “alter ego” dele, já que os filmes do Joaquim têm sempre algo de pessoal. Acho que projecto um bocado uma parte dele O Joaquim gostava de fazer aquele papéis, mas como está atrás da câmara e acha que é trabalho a mais, tem-me mim (risos)…

Chegou a afirmar que o cinema de a não lhe interessava. Como explica então participação em filmes de Teresa Villaverde, “A Idade Maior” e “Água e Sal”?
Nunca disse que o cinema de auto me interessava. Acho é que o cinema d francês dos anos 70 é culpado pela destruição do cinema europeu a nível comercial. tudo nos anos 70, o cinema francês, Godard por exemplo, foi responsável por ter deixado de haver “star system”. O mesmo aconteceu em Itália e o cinema italiano está como está; o cinema espanhol está com dificuldades. Os americanos aproveitaram para se lançar na Europa — o que já vinham preparando — e hoje têm uma hegemonia que não tinham na altura. Agora, gosto de fazer todo o tipo de cinema e não tenho nada contra o cinema de autor. Pelo contrário: muitas vezes gosto muito (nem sempre…), mas o cinema não pode viver dele. É raro o cinema de autor que se pode fazer sem ser subsidiado.

PÚBLICO Por que é que escolhe sempre Joaquim de Almeida para os seus filmes?
JOAQUIM LEITÃO - Não só o longo dos tempos, nos termos o amigos. É sempre mais agradável trabalharmos com alguém cujo trabalho amos e de quem somos amigos. O em acontecido nestes últimos filmes e há papéis para os quais acho que Joaquim [de Almeida] é adequado, o é óptimo.

É o seu actor preferido?
É. Se houver um papel para o qual o aquim é o actor ideal, convidá-lo-ei sempre primeiro.

É o seu alter-ego?
Nunca tive uma relação mítica com os actores. Nunca tive “posters” lyn Monroe ou do James Dean... à questão do alter-ego, o que se passa é que nenhum dos meus filmes é autobiográfico e todos o são, já que transportam sempre uma parte de mim. Nesse sentido, qualquer um dos meus actores principais, mesmo as mulheres, funciona um pouco como meu alter-ego.

Qual é o melhor desempenho dele?
Nos meus filmes, “Tentação”. Nos outros, “Perigo Imediato” [Phillip Noyce, 1994].

Como surgiu a ideia para “Tentação”?
Procuro fazer filmes sobre questões que me inquietam, acerca das quais tenho dúvidas, e discutir esses problemas comigo próprio. Numa primeira fase do argumento existia já uma história de amor, só que entre um presidente da câmara e uma toxicodependente. Depois, o Tino Navarro chamou-me a atenção para uma notícia sobre um padre nessa mesma situação. Tentámos contactá-lo, mas foi difícil. Quando a oportunidade surgiu, já a história “real” tinha sido substituída por uma que eu tinha escrito e que já estava demasiado adiantada. Nessa altura, a questão das milícias populares também me preocupava bastante, principalmente porque não se coadunava com a imagem que tinha de nós.

Na sua opinião, a que se deveu o êxito do filme?
Como todos os sucessos, é fruto de as pessoas terem sentido um fascínio por ele e gostado de o ver. É uma opção do público que não controlamos e uma coisa que nem sequer me preocupa, porque é inútil. É claro que uma parte do êxito teve também a ver com o facto de o filme ter sido distribuído de uma maneira que não era habitual no cinema português — estava disponível nas salas a que as pessoas vão, mas isso só aconteceu porque os distribuidores e exibidores acharam que o filme tinha potencial.

Durante alguns anos, foi o único representante de um hipotético cinema comercial português. Considera marginal o seu estatuto de “autor” de um cinema que necessita de uma indústria que em Portugal não existe?
Não me considero representante de um cinema comercial português, porque não aceito a distinção entre cinema comercial, feito para o público, e “cinema de arte”. A única coisa que me preocupa é fazer filmes dos quais goste — sobre temas de que me apeteça falar e personagens que me interessam —, tentando que sejam bons. A única distinção que para mim funciona é entre filmes bons e maus. Há maus filmes de que o público gosta, por isso o sucesso não é um critério válido para aferir a qualidade de um filme. O ideal, e o mais recompensador, é quando as pessoas também gostam dos filmes que fazemos, o que já me aconteceu algumas vezes. Mas, felizmente, há outros realizadores que também têm tido sucessos.