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   SérieY
  De culto

 
 

Às quintas-feiras, por 8,9 euros, a Série Y oferece-lhe um DVD de um grande nome do cinema. Primeiro lance: dia 28, "O Jogo". Segundo: 5 de Dezembro, "Fargo". Terceiro: 12 de Dezembro, "A Última Caminhada".

 

Alguns títulos e filmes mais carismáticos dos últimos 10 ou 15 anos de cinema passam por aqui. Como é que se pode pensar, por exemplo, na década de 90 sem mencionar Quentin Tarantino, Joel e Ethan Coen, Cronenberg ou David Fincher? Ou actores como Brad Pitt, Jeff Bridges, Susan Sarandon, Sean Penn, Johnny Depp... A série Y, 25 DVD que, a partir de dia 28, e por apenas 8,9 euros, poderá começar a coleccionar com o PÚBLICO, é um mosaico iconográfico de cenários, paisagens, personagens do imaginário cinematográfico das últimas décadas.

Os três primeiros DVD da colecção são exemplos eloquentes: a paranóia urbana, em São Francisco, por um dos cineastas de culto da actualidade (o "kafkiano" "O Jogo", de Fincher); as enigmáticas paisagens geladas do Minnesota ("Fargo", de Joel e Ethan Coen), cenário de um hilariante "thriller" em que a violência anda de mãos dadas com o retrato de uma cidade; os corredores do melodrama e da morte ("A Última Caminhada", de Tim Robbins), palco onde irrompe a relação invulgar entre um assassino condenado e a freira que lhe presta conforto espiritual.

Dos Coen, mais dois títulos que fizeram o culto dos irmãos: "Sangue por Sangue", revisão do mortífero triângulo amoroso, e "O Grande Lebowski", o filme mais querido pelos fãs mais aguerridos dos Coen ‹ para os que se iniciarem aqui vai um resumo: ex-hippies jogadores de "bowling", veteranos do Vietname, um narrador "cowboy", um grupo de niilistas psicopatas e outros excêntricos; para além disso, Jeff Bridges passa o filme à procura de um tapete; para os obsessivos que gostam de citar diálogos, há muito por onde escolher, como "don't fuck with Jesus".

Fica dado o mote para a viagem. Que terá como paragem obrigatória um clássico como "Seven" (o segundo filme de Fincher na colecção), policial apocalíptico onde a decadência é matéria palpável (a chuva, não se esquece a chuva ‹ na verdade, foi contingência: não parou de chover na seca Los Angeles durante a rodagem, mas a partir de então quantos "thrillers" não se serviram da humidade como adereço?).

E também o último Tarantino, "Jackie Brown", em que o sôfrego coleccionador de imaginários remexeu no baú dos seus afectos e homenageou os "blaxploitation movies" dos anos 70 (género feito para, e pela, orgulhosa consciência negra, que assim reagia contra a marginalidade que o "mainstream" lhe reservava).

E há um momento incendiário da cinematografia americana, "Miúdos", a estreia na realização do fotógrafo Larry Clark. "Filme-choque", acusado de sensacionalista ‹ mas é assim, invariavelmente, que são rotulados os filmes de Clark ‹, é um retrato dos "kids" e do seu mundo amoral, onde os pais estão ausentes. Mais uma razão para esse olhar impiedoso (a turbulência da adolescência passa por aqui) ser enfrentado.
Não há só, na Série Y, a crispação do risco (que preside, por exemplo, a algum do cinema independente americano). Também se encontram autores que, por iconoclastas que sejam, permitem o conforto do reconhecimento. É o caso do universo de cineastas como Woody Allen, Robert Altman ou Pedro Almodóvar.

Do primeiro, veremos um dos melhores exemplos da fase mais recente e "leve" da sua obra, quando o cineasta começou a procurar novos rostos para o seu mundo ‹ por exemplo, John Cusak, que em "Balas Sobre a Broadway" é um encenador neurótico (papel que Allen normalmente reserva para si) que tem que lidar com uma actriz sem talento só porque ela é a amante do mafioso que lhe financia a peça.

De Altman, veremos como dissecou a moda, em "Pronto a Vestir" (está neste momento a enfiar o bisturi no mundo da dança, em "The Company", em rodagem), e "Caminhos Perigosos", uma adaptação de John Grisham com toques de jardim zoológico sulista à la Tennessee Williams.

De Almodóvar, veremos um dos melhores títulos da sua primeira fase, "A Lei do Desejo", delírio "kitsch" com Antonio Banderas (ainda prometedor, antes de Hollywood...), que fechará com chave de ouro a colecção, em Maio de 2003.

Antes disso, haverá um grupo de portugueses em estreia em DVD: três filmes de Joaquim Leitão (o único "autor" do cinema comercial português?), "Uma Vida Normal", "Adão e Eva" e "Tentação", ainda a adaptação que Luís Filipe Rocha fez do romance de Jorge de Sena, "Sinais de Fogo", e "Zona J", de Leonel Vieira, que assinalou um direccionamento do olhar dos cineastas portugueses para as margens da cidade ‹ é a Lisboa de conflitos rácicos e sociais.

E se neste momento todo o mundo espera o próximo capítulo da saga "O Senhor dos Anéis", que se estreia em Dezembro, propomos que se conheça a obra de Peter Jackson, antes de ser "o realizador de 'O Senhor dos Anéis'". É bizarro, é... neozelandês, é "Amizade Sem Limites", uma fantasia onírica a partir da relação obsessiva entre duas raparigas (nunca estreou comercialmente em Portugal).

Mais do que bizarro, alucinante é o universo do plácido Cronenberg. "eXistenz" é um divertimento-súmula da obsessão do realizador com a nova carne.

Não é só o "thriller" a dominar a colecção. Há encontro marcado com o musical ("Evita", com Madonna a juntar de uma só vez a mãe e a puta), com a paródia (o primeiro "Austin Powers") e até com uma aproximação, em registo de fábula, ao "filme de prisão": "Os Condenados de Shawshank" de Frank Darabont, a partir de um conto de Stephen King. Escusado será dizer: filme de culto.

V.C. e V.T.M.