Visite as paisagens geladas de “Fargo"
Por Vasco T. Menezes
Série Y prossegue amanhã
com uma viagem ao bizarro interior americano. Os guias são
os irmãos Coen; o destino: “Fargo”
Jerry Lundegaard (William H. Macy), um vendedor de automóveis
de Minneapolis, está em apuros financeiros. Resolve então
contratar Carl (Steve Buscemi) e Gaear (Peter Stormare), dois habitantes
da pequna cidade de Fargo, para lhe raptarem a mulher, de modo a
poder pedir ao sogro rico o dinheiro do resgate, que será
depois dividido entre os cúmplices. Um plano simples. O problema
é que tanto Jerry como Carl e Gaear não primam pela
inteligência e a sua incompetência faz com que se abra
uma espiral de violência.
É este o ponto de par tida de “Fargo”
(96), regresso de Joel e Etha Coen ao seu género pr ferido
— o “thriller”, na vertente do “film noir”.
É também um regresso ao início e à sua
primeira obra, “Sangue por Sangue” (84), com o sol abrasador
do Texas a dar lugar à imensidão de e gelo que percorre
as adas e cidadezinhas do Minesota.
É um objecto singular ntro da obra da dupla,
que está mais próximo o classicismo do que a exuberância
visual ue lhes é habitual. “O nosso filme mais tradicional
e naturalista”, disseram os irmãos. Se se falou em
“thriller”, convém dizer que “Fargo”
não é um exemplo convencional: o “suspense”
e a violência andam de mãos dadas com a comédia,
a sátira e um preciso — mas vagamente surreal —
retrato social. É que os Coen vêem o Minnesota, a sua
terra natal, como um espaço povoado de excêntricos
descendentes de escandinavos, lentos a falar e a pensar. Se estas
idiossincrasias fazem de “Fargo” uma paródia
aos filmes regionais sentimentais, dão-lhe também
algo que costuma estar ausente do cinema dos Coen (à excepção
de “Histórias de Gangsters”, provavelmente o
melhor filme dos irmãos): um sólido núcleo
emocional, a provar que o cerebral também tem coração.
Talvez esteja aí a razão para
o sucesso comercial do filme, o único da dupla até
à data (ainda hoje os Coen estão surpreendidos...).
A indústria não ficou indiferente: sete nomeações
para os Óscares (incluindo melhor filme) e duas estatuetas,
para o argumento e actriz (Frances McDormand, como Marge, a fenomenal
e grávida mulherpolícia que desvenda o mistério).
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