Nas planícies geladas de "Fargo"
Por V.T.M.
Jerry Lundegaard (William H. Macy) é um vendedor
de automóveis em apuros financeiros. Resolve então
contratar alguém para lhe raptar a mulher, de modo a poder
pedir ao sogro rico o dinheiro do resgate, que será depois
dividido entre os cúmplices.
O problema é que Jerry não prima propriamente pela
inteligência. E o mesmo acontece com os dois habitantes da
pequena cidade de Fargo, Carl (Steve Buscemi) e Gaear (Peter Stormare),
escolhidos por Jerry para realizar o rapto. Inevitavelmente, as
coisas vão correr mal, e de mal a pior, de tal forma que
Jerry se vê enolvido numa espiral de violência.
É este o ponto de partida para uma história de trapaceiros
enganados, criminosos incompetentes, sotaques carregados, sangue
e uma imensidão de neve. É Fargo (1996), de Joel e
Ethan Coen, um thriller com laivos de comédia negra, que
é o segundo título da Série Y (quinta-feira,
5 de Dezembro).
Foi o regresso dos irmãos Coen aos orçamentos mais
moderados, depois da experiência invulgar que constituiu O
Grande Salto "The Hudsucker Proxy" (1994), o primeiro
(e até agora único) filme com dimensão "hollywoodesca"
da dupla. A essa estilizadíssima revisitação
dos estilos de comédia americana em voga nos anos 30 e 40,
seguiu-se então uma obra mais reservada e naturalista, quase
documental (se é que isso é possível num cinema
que sempre fez gala do seu artificialismo e se alimentou de materiais
anteriores, fílmicos ou literários).
"Fargo" funciona também como uma homenagem perversa
ao estado natal dos Coen, o Minnesota, que aqui se apresenta uma
paisagem repleta de excêntricas e grotescas figuras, descendentes
de escandinavos, lentos a falar, lentos a pensar. Se a reacção
dos locais ao filme se dividiu entre os que gostaram e os que se
sentiram ofendidos com este retrato, no resto do planeta a aceitação
foi unânime: "Fargo" é o único sucesso
comercial de Joel e Ethan até à data (e isso ainda
hoje eles não conseguem explicar...). O filme recebeu ainda
o Óscar para o melhor argumento e permitiu a Frances McDormand
arrecadar o galardão para a melhor actriz, na figura da memorável
Marge, uma mulher polícia muito perspicaz e muito grávida.
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