Trivia
Trailers
Fotos
Screensaver
Wallpaper
Passatempo
Publicidade
Artigos Críticas Actores Realizadores Mensagens Fórum Newsletter

   
   Série Y

  Made in Portugal
 
Mário Jorge Torres

 
Cinco filmes portugueses, todos inéditos no mercado de DVD, integram a "série Y": “Uma Vida Normal”, “Adão e Eva”, “Tentação”, "Sinais de Fogo" e "Zona J".

Quando surge uma nova série de videos, ou, como no caso presente, de DVDs, acompanhando uma publicação periódica, o que acontece é que se compram direitos de gravações já disponíveis no mercado, contratando com determinadas editoras a divulgação de um número dado de filmes.

Ora, a grande novidade da "série Y" resulta do facto de se incluir uma série de inéditos exclusivos, com a aliciante surpresa de se tratar de cinema português, cuja divulgação, por via do DVD, tem pecado por excessivamente escassa. O que existe de disponível no mercado em matéria de cinema português? Alguns clássicos do catálogo da Tobis, alguns grandes filmes de Oliveira, uma boa representação de Fernando Lopes, tudo com a chancela da Atalanta. No catálogo da Costa do Castelo, existem alguns filmes recentes, de Lauro António, Seixas Santos ou Leonel Vieira. Nas outras editoras não existe quase nada. Ao todo, pouco mais do que uma dúzia de filmes.

A "série Y" vai ajudar a colmatar essa lacuna, contemplando um interessante sector da produção nacional, que corresponde ao esforço de alargamento do mercado interno, criando a meados da década de 90 uma enorme euforia quanto ao consumo da prata da casa. Trata-se de cinco filmes, todos produzidos por Tino Navarro, cobrindo um período que vai de 1994 a 1998 e ilustrando uma estratégia semi-industrial de conquista progressiva do público português.

Do conjunto avulta, obviamente, um núcleo de filmes do que é porventura o único “autor” do cinema mais comercial que se faz entre nós, Joaquim Leitão: “Uma Vida Normal” (1994), “Adão e Eva” (1995) e “Tentação” (1997). Esta trilogia, protagonizada por Joaquim de Almeida, que precede o interessante (embora falhado, até do ponto de vista do sucesso de público) projecto de “Inferno” (1999) permite historiar a ascensão e apogeu duma estética de sedução do espectador médio para o cinema português, do qual estava havia muito divorciado.

“Uma Vida Normal”, um filme que vale bem a pena rever, apenas tocava ainda as franjas. “Adão e Eva”, apoiado por uma campanha publicitária sem precedentes, numa das novas televisões, atingia números extraordinários na bilheteira. “Tentação”, o mais desequilibrado dos três, mas com temas escaldantes como o celibato eclesiástico, a prostituição ou o consumo de droga, cruzados em pano de fundo, batia todos os recordes anteriores.

A juntar a este olhar sobre a obra de Joaquim Leitão, acrescentam-se dois outros, muito diversos, filmes: a adaptação de Luís Filipe Rocha do romance de Jorge de Sena, “Sinais de Fogo” (1996), com Diogo Infante no protagonista e a revelação de dois notáveis actores da nova geração, José Airosa e Marcantonio del Carlo; o arriscado e muito interessante “Zona J” (1998) de Leonel Vieira (para muitos, o seu melhor filme até à data), olhar sobre uma Lisboa de conflitos rácicos e sociais, com notáveis soluções técnicas para sequências de difícil execução e uma capacidade extrema para evitar os traços demagógicos que o tema do amor interracial poderia suscitar.

Mas independententemente da qualidade dos filmes, o que convém saudar é a ocasião para juntar o útil ao agradável: adquirir por preço módico uma série de filmes que de outro modo não poderia ser adquirida. Ou seja a jóia (nacional) na coroa de um curioso olhar complexo sobre o cinema (sobretudo americano) contemporâneo.