Uma viagem no tempo: mergulhe nas invasões francesas
A história e a tecnologia uniram-se para proporcionarem “viagens no tempo”. Em Portugal há 13 experiências de realidade virtual e outras tantas de realidade aumentada, disponíveis nos Itinerários Napoleónicos. Descubra-as.
Gostava de assistir às movimentações das tropas no terreno, durante as Invasões Francesas a Portugal? Com o auxílio de realidade virtual, podemos imergir em recriações desses e de outros momentos. Mas só será possível ter uma experiência intensa visitando os locais que foram palco da História. É aí, em 13 municípios portugueses, que todos podem saber mais sobre o que aconteceu entre 1807 e 1810.
Em fortalezas, igrejas ou centros de interpretação, o passado torna-se “real” à distância de uns óculos de realidade virtual ou de uma app para telemóvel, para aceder à realidade aumentada.
Três invasões e a partida da corte para o Brasil
Na sequência da Revolução Francesa – com o lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade –, diferentes coligações foram formadas para atacar esta França Revolucionária, com Inglaterra a ocupar o papel de principal opositora. Neste contexto, Portugal e Espanha invadiram a França nos Pirenéus Orientais, naquela que ficou conhecida como a Campanha do Rossilhão. Esta campanha terminou de forma desfavorável para Portugal, que ficou isolado.
E foi a partir daí que Portugal se viu com um dilema complexo: ao quebrar a aliança com Inglaterra – coisa que o país estava a ser pressionado a fazer – colocava em causa o comércio com o Brasil e a economia portuguesa.
Mas entrar em guerra com a França era algo que o governo português não pretendia, procurando, por todos os meios, a neutralidade.
Em 1807, o príncipe regente D. João, vendo o seu país ser invadido pelas poderosas tropas napoleónicas, toma uma decisão histórica: decide não combater com vista a evitar a chacina do seu povo. Há ainda uma segunda decisão inédita, a de transferir a Corte e a capital de Portugal para o Brasil, salvaguardando a independência e a frota portuguesas.
A partir daí, seguiram-se três anos – entre 1807 e 1811 – em que Portugal lutou contra três invasões. Houve ainda uma tentativa de uma 4.ª invasão na zona da Beira Interior, que terminou em abril de 1812. Após a expulsão definitiva dos franceses, apenas conseguida com o auxílio do exército inglês, o país estava arruinado.
Realidades aumentadas e virtuais: 13 experiências distintas
As 13 experiências de realidade virtual e de realidade aumentada estão disponíveis nos 13 concelhos que compõem os Itinerários Napoleónicos – integrados na Rede Temática das Invasões Francesas em Portugal – e retratam episódios distintos da História, mas complementares entre si. Conhecendo-os de perto, é mais fácil interligá-los.
O Museu Histórico-Militar de Almeida é um dos locais que oferece experiências imersivas, permitindo uma viagem a alguns dos acontecimentos que marcaram o Cerco de Almeida e a explosão do Castelo, que aconteceu no paiol de pólvora. Os óculos de realidade virtual levam-nos, por exemplo, a uma conversa entre soldados inimigos, à volta de uma fogueira. Já no exterior, junto às Portas de S. Francisco e ao Hospital militar, ativa-se a app para que figuras da História relatem o que por ali aconteceu.
Em cada lugar, um novo episódio. É o caso do Forte da Carvalha, em Arruda dos Vinhos, onde a realidade aumentada mostra aos visitantes o episódio em que as tropas do general Masséna por ali permaneceram, durante um mês. Para experienciar a realidade virtual, o levantamento dos óculos é feito no Centro de Interpretação das Linhas de Torres de Arruda dos Vinhos.
“… a 26 de Agosto, ao cair da noite, uma assombrosa detonação se fez subitamente ouvir (…) a terra estremeceu. Eu achei que a casa ia desmoronar-se! Era a fortaleza de Almeida que tinha ido pelos ares, em consequência da explosão de um enorme armazém de pólvora e, mesmo que Ciudad Rodrigo seja a meia jornada desta praça-forte, o abalo sentiu-se profundamente lá!... Esta pobre praça-forte foi destruída de uma ponta à outra: só ficaram seis casas de pé. A guarnição acabou com seis homens espancados até a morte e um grandessíssimo número de feridos."
General Barão de Marbot – Memórias sobre a 3.ª Invasão Francesa
Os Centros de Interpretação das Linhas de Torres
Além do de Arruda dos Vinhos, existem mais cinco Centros de Interpretação das Linhas de Torres, dada a importância das Linhas de Torres Vedras para a protecção da capital, aquando das invasões orquestradas por Napoleão. Em todos existem experiências imersivas com recurso a realidade virtual e a realidade aumentada.
O contributo da população para o esforço de guerra é dado a conhecer ao pormenor em Bucelas, Loures. Com a realidade aumentada, pode conhecer a moleira Maria numa forte contestação pela utilização do seu moinho pelo exército. Já em Mafra, a tecnologia permite aos visitantes acompanharem a azáfama vivida no palácio, na preparação da partida da família real para o Brasil. Com a realidade aumentada pode ainda experimentar manobrar um telégrafo ou aprender como um canhão funcionava.
O Combate de Sobral é detalhado em Sobral de Monte Agraço, assim como os momentos de abundância em alimentos que precederam o instante em que os soldados do general Junot entraram na vila. Pode conhecer ainda a Estrada Militar e o Forte de Alqueidão, através da experiência de realidade aumentada, e, além de conhecer as mercadorias que por ali circulavam, observar a paisagem daquele local.
Em Torres Vedras, os visitantes podem imergir nos pormenores sobre o sistema de comunicações das Linhas de Torres e a sua construção, através da visita ao Forte de São Vicente. E o Centro de Interpretação do Forte da Casa, em Vila Franca de Xira, conta o episódio do tiro sobre o marechal Masséna, onde também pode usufruir de três experiências de realidade aumentada através de depoimentos de figuras importantes para os acontecimentos.
Visita imersiva à Batalha da Roliça é novidade em agosto
O Núcleo Interpretativo da Batalha da Roliça, no Bombarral, dará a conhecer pela primeira vez, a partir de Agosto, os contornos da batalha com recurso a realidade virtual.
Vai ser possível experienciar as movimentações das tropas durante esse acontecimento.
No miradouro da Serra do Picoto e no Túmulo do Coronel Lake, percorrendo o percurso pedestre da Batalha da Roliça, a realidade aumentada possibilita que o caminho – outrora calcorreado pelos soldados – seja narrado.
Para trilhar todos os episódios da História, não pode também faltar uma visita a Elvas, onde se simula o Cerco ao Forte da Graça, local onde, durante a 1.ª Invasão Francesa, esteve aquartelado um corpo da Guarda Suíça; ou à Lourinhã, ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro, onde pode acompanhar todas as fases desta batalha e, ainda, conhecer o soldado António Agostinho e o rei D. Manuel II, que lhe dão a entender os enquadramentos históricos.
Já na Mealhada, “mergulhe” na Batalha do Bussaco com estas experiências imersivas. Aí irá conhecer todos os preparativos desta batalha através de conversas entre soldados e de uma reunião entre o Estado Maior do exército Anglo-Luso, com o comando do general Duque de Wellington.
O momento em que o exército francês é surpreendido por um batalhão português, num episódio que ficou conhecido como Combate de Mortágua, é simulado através de realidade virtual, no Centro de Interpretação “Mortágua na Batalha do Bussaco”.
No Museu do Moinho Vitorino Nemésio, em Penacova, recria-se a travessia das tropas anglo-lusas no Vale do Mondego, inspirada na gravura do Major Thomas Saint Clair. No Posto de Comando de Wellington, através da experiência de realidade aumentada, tem ainda a oportunidade de ouvir o Duque de Wellington, in loco, a retratar todas as fases do ataque a partir de Santo António do Cântaro.
Agora que já conhece todas as experiências de realidade virtual e de realidade aumentada dos Itinerários Napoleónicos, para quando fica a sua visita?