Um roteiro pelos cafés com história e cultura do Centro de Portugal

Com o Dia de Todos os Santos a proporcionar um fim-de-semana prolongado, apetece sair de casa e aproveitá-lo. O convite do Centro de Portugal é para um roteiro pelos aconchegantes cafés históricos da região.

Há espaços que são muito mais do que quatro paredes. Entra-se e sente-se que a história está incrustada nos detalhes e que a cultura nos abraça. Locais ímpares de discussões de ideia e de tertúlias – uns outrora, outros ainda nos dias de hoje. Os cafés históricos do Centro de Portugal são sítios emblemáticos e aconchegantes. Fizeram parte do desenvolvimento social e cultural das cidades e vilas onde se inserem, inspiraram obras da literatura portuguesa e foram frequentados, ao longo do tempo, por escritores e artistas. Esses ares, aliás, ainda se respiram. Venha conhecer estabelecimentos ímpares.

Cafés que viajam
no tempo

Visitar o Café Santa Cruz, em Coimbra, é viajar até épocas passadas. Mas desengane-se quem pensar que já não existe ali vida. Instalado, em 1923, num edifício classificado como Monumento Nacional, o estabelecimento comercial – que ocupa o espaço da antiga Igreja de São João de Santa Cruz – foi-se adaptando ao passar do tempo. E, hoje em dia, é ainda palco de tertúlias e concertos, com o fado de Coimbra sempre presente.

O Café Santa Cruz, em Coimbra, abriu ao público em 1923

O Café Santa Cruz, em Coimbra, abriu ao público em 1923

Mas, na “cidade dos estudantes”, há mais locais icónicos para conhecer. É o caso do café A Brasileira, do Café Central, ou o Café Nicola.

Em Aveiro, os cafés sempre desempenharam um papel central na vida cultural e social da região. Pontos de encontro de amigos ou salas de estar de turistas, não faltam opções para visitar. São exemplos o centenário Café Farol, na praia da Barra (Ílhavo), ou o pitoresco O Farol, na Murtosa.

A história do Café Paraíso, em Tomar, começou em 1911 e levou à cidade, dizia um jornal local na época, um toque de novidade ao ser “montado à moderna”. Ainda hoje perdura, sendo uma atração para todos os que passam perto. Mas o café Chave D’Ouro, em Abrantes, ou a casa A Ginjinha do Castelo, situada no interior do Castelo de Ourém, são igualmente imperdíveis para quem for passear pela região do Médio Tejo.

A Ginjinha do Castelo localiza-se no interior do Castelo de Ourém

A Ginjinha do Castelo localiza-se no interior do Castelo de Ourém

O Café Montiel, na Covilhã, conta a história dos sítios que são espaços de encontros diários entre as gentes locais. E marca o passado e o presente da região das Beiras e Serra da Estrela, tal como a Casa Sardinha, em Figueira de Castelo Rodrigo.

Bastante popular e conhecido pelo ambiente acolhedor, o Café Central, em Viseu, mantém-se um local de referência para quem quer tomar um café ou, até, comer uma refeição leve. É um marco na cidade, desde 1955. Outro dos estabelecimentos mais emblemáticos da região de Viseu Dão Lafões é o Café do Teatro, onde os painéis de azulejaria nas paredes conferem ao espaço um ambiente único.

Painéis de azulejo no Café do Teatro, em Viseu

Painéis de azulejo no Café do Teatro, em Viseu

Uma visita à Beira Baixa obriga a entrar na Taverna Lusitana, em Monsanto, com a vista privilegiada da sua esplanada, localizada sobre os penedos. Na mesma região, mas na Sertã, datam de 1885 e de 1888, respetivamente, o Clube Bonjardim e o Clube da Sertã, ainda hoje de portas abertas.

Conotado pela polícia política, durante a ditadura, como local de conspiração da oposição, o Café Central, nas Caldas da Rainha, está cravado no imaginário dos caldoenses e mantém-se um lugar de visita para quem se desloca à região do Oeste. Com o mesmo nome, mas na Região de Leiria, o Café Central de Pedrógão Grande é um dos mais antigos no Centro de Portugal, datando desde a década de 50. Perdeu a traça original, mas o local que o envolve – o Largo do Encontro – conserva a alma.

Café Central, nas Caldas da Rainha

Café Central, nas Caldas da Rainha

No Centro de Portugal, há cafés com história para descobrir e aproveitar!

Pastelaria Horta

Rua Formosa, Viseu

Confeitaria Peixinho

Rua de Coimbra, Aveiro

Café Portugal

Avenida da Liberdade

Café Paraíso

Rua Serpa Pinto, Tomar

Café Santa Cruz

Praça 8 de Maio

Dos doces reza a história

Várias pastelarias e confeitarias contam, também, muito da história do Centro de Portugal e são, também elas, marcos de outros tempos. É ali que, nos dias frios de outono, um lanche reconfortante sabe ainda melhor.

Fez, outrora, parte da mesa do rei D.Carlos, que não o dispensava. Depois, passou a poder ser degustado por todos. O pão de ló de Alfeizerão é o ex-libris, como o nome indica, da Casa do Pão de Ló de Alfeizerão, em Alcobaça. Num espaço privilegiado, de frente para o mosteiro, funciona desde 1925. Na mesma cidade, a Pastelaria Alcoa assume-se, além de uma referência na doçaria conventual, um local de encontro de amigos e famílias.

O pão de ló de Alfeizerão é o ex-libris da Casa do Pão de Ló de Alfeizerão

O pão de ló de Alfeizerão é o ex-libris da Casa do Pão de Ló de Alfeizerão

Em Figueiró dos Vinhos, os segredos das receitas da Confeitaria Santa Luzia são, ainda hoje, o chamariz para os muitos visitantes que ali acorrem desde 1962. Com uma particularidade: os processos tradicionais de confeção e fabrico das receitas de doçaria conventual mantêm-se ainda hoje.

Falar em ovos moles, por seu turno, é falar inevitavelmente de Aveiro. A casa mais antiga a confecionar o doce típico, a Confeitaria Peixinho, aberta em 1856, é agora um local renovado de excelência, que não escapa a nenhum turista que visite a cidade. Já em Viseu, remonta a 1873 a fundação da Pastelaria e Salão de Chá Horta, que continua a ser procurada por todos os que não dispensam castanhas de ovos, papos de anjo ou pastéis de feijão, entre outra doçaria.

Os pastéis de feijão são um doce típico da cidade de Viseu

Os pastéis de feijão são um doce típico da cidade de Viseu

As tradições regionais, onde não faltam doces e outros productos locais – confecionados de forma artesanal –, convidam a visitar o Café Portugal, no Fundão, que reabriu, em 2020. Chegou a modernidade, não se perdeu a essência.  E, em Castelo Branco, a arquitectura moderna do edifício que, há seis décadas, acolheu a Pastelaria Belar é motivo, só por si, para uma visita. No entanto, actualmente, o nome mudou para Nata Lisboa.

Café Portugal, no Fundão

Café Portugal, no Fundão

É em Tomar que “beija-me depressa” não é uma ordem, mas um doce típico. E um dos locais onde pode ser provado é na Estrelas de Tomar, um dos estabelecimentos comerciais mais afamados da cidade. Na Figueira da Foz, encontra-se a Pastelaria Império, cuja decoração nos remete para os tempos da sua fundação, em 1945. Ou não estivessem a balança e a caixa registadora originais ainda em utilização.

Créditos: Comércio com História

Créditos: Comércio com História

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Seja pela doçaria, pelo simples prazer de beber um café acompanhado por um livro, relaxado, ou pelo deleite de sentir o pulsar de uma cidade e das suas gentes, visitar um café histórico nunca é uma escolha inglória. Porque os cafés estão na categoria dos espaços que são mais do que quatro paredes. Inspiram.

CONTEÚDO COMERCIAL