Os vestígios não enganam: as invasões francesas passaram aqui
São 13 os concelhos portugueses que integram os Itinerários Napoleónicos. Saiba o que descobrir em cada um e como a sua história ficou marcada permanentemente por este episódio cujo património, memória e cultura revelam um dos períodos mais difíceis vividos em Portugal. Embarque em experiências únicas e enriquecedoras.
O exército francês invadiu Portugal três vezes, entre 1807 e 1811. Essas invasões marcaram profundamente os territórios onde tiveram lugar, assim como as suas gentes.
Hoje, quem visitar alguns municípios, pode mergulhar no tempo e saber ao pormenor o que por ali aconteceu. Há trilhos e caminhos militares para percorrer e centros de interpretação para visitar, com calma. Há também fortes, pontes, ruínas, igrejas e memoriais, entre muitos outros locais, que são testemunhas fidedignas da História.
Todos os lugares são ricos em detalhes, que engrandecem a experiência, já de si autêntica.
Venha conhecê-los.
Portugal
38° 43' N 9° 09' O
A História das invasões francesas
Corria o ano de 1807 quando Portugal se viu invadido pelas poderosas tropas lideradas pelo general Junot, escolhido por Napoleão, naquela que seria a primeira incursão militar.
Localidades como o Bombarral e Lourinhã,tornaram-se palco de aguerridas batalhas como as da Roliça e do Vimeiro que ganharam o seu lugar na história de Portugal. Por outro lado, construíram-se fortificações para defender Lisboa, que ficariam para sempre conhecidas como Linhas de Torres e que deixaram a sua pegada nos concelhos de Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira. Almeida, Elvas, Mortágua, Mealhada e Penacova também foram territórios estratégicos no desenrolar das invasões.
Para se saber mais, o projecto Itinerários Napoleónicos convida a visitar cada um dos 13 concelhos, facilitando a descoberta dos acontecimentos históricos e os imensos vestígios deixados.
Viagem pelos municípios que integram os Itinerários Napoleónicos
Zona Oeste
39° 24′ 26″ N, 9° 8′ 4″ O
O palco de duas batalhas
A Zona Oeste foi marcada por duas Batalhas históricas: a da Roliça e a do Vimeiro, ambas em 1808, nos concelhos do Bombarral e da Lourinhã, respectivamente.
No caso do Bombarral, é possível percorrer um trilho que guia o visitante por uma experiência histórica que permite explorar e reflectir sobre os acontecimentos da Batalha da Roliça. São 9,7 quilómetros por um percurso outrora percorrido por centenas de soldados, onde a história se desenrola sob os nossos pés.
Já na Lourinhã, é imperativa a visita ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro. Existe também um trilho, com um total de 16,5 quilómetros, que passa por pontos fulcrais do confronto. No terceiro fim-de-semana de julho decorre o evento Batalha do Vimeiro 1808, que tem como pontos altos as recriações históricas da batalha e conta com a presença de mais de duas centenas de recriadores nacionais e estrangeiros.
O Forte do Cego e o Forte da Carvalha são, por seu turno, duas estruturas militares do período napoleónico que podem ser visitadas em Arruda dos Vinhos. E, para conhecer os detalhes de como o município foi impactado pelas invasões francesas, nada melhor do que visitar o Centro de Interpretação das Linhas de Torres ali sediado – um dos seis centros temáticos existentes no país sobre as Linhas de Torres Vedras.
Para conhecer fortes que foram estratégicos no sistema defensivo das Linhas de Torres, Sobral de Monte Agraço – cujo papel para travar o avanço das tropas francesas foi decisivo – é um dos concelhos a visitar. Além do Forte do Alqueidão – posto de comando táctico das Linhas que defendiam Lisboa -, o concelho oferece aos visitantes a oportunidade de explorar outros locais com História, como os antigos quartéis-gerais dos comandantes Wellington e Beresford, as memórias dos combates de Seramena e Sobral, a toponímia que ficou como testemunha dos acontecimentos de 1810, além do centro interpretativo dedicado às Linhas de Torres.
O Forte de São Vicente e o Forte da Archeira são, igualmente, vestígios visitáveis daquela que foi a terceira invasão francesa, situando-se ambos em Torres Vedras. O concelho foi fortemente marcado por esse período da história – que está narrado ao pormenor no seu Centro de Interpretação.
A cidade, que empresta o seu nome às Linhas, conta, de dois em dois anos, com o Festival Novas Invasões, que reúne na sua programação as recriações históricas com a produção artística contemporânea.
Em Outubro, há festa nas Linhas de Torres!
Nos dias 19 e 20 de Outubro, junte-se às celebrações da vitória portuguesa com as Comemorações do Dia Nacional das Linhas de Torres que, este ano, decorrem em Sobral de Monte Agraço.
Nestes dias, as ruas enchem-se de animação com música, oficinas, desfile das tropas, e ainda uma cerimónia de homenagem ao esforço do povo português na construção das Linhas de Torres. O ponto alto é o combate noturno de Sobral.
Durante todo o mês pode contar com múltiplas actividades nos vários municípios da Rota Histórica das Linhas de Torres, e, se é apreciador de boa gastronomia e vinhos, não perca a mostra gastronómica "À mesa dos Generais", que decorre entre 9 e 27 de Outubro.
Pode consultar todo o programa em www.rhlt.pt e em invademag.pt.
Região de Coimbra
40° 12′ 41″ N, 8° 25′ 45″ O
A marca deixada no Bussaco
Muitos recantos do Bussaco, na Mealhada, estão inscritos na história das invasões francesas devido à Batalha do Bussaco de 1810. Nesse ano, a Capela das Almas transformou-se num “hospital de sangue”, com os frades carmelitas do Convento de Santa Cruz a quebrarem os votos de clausura para socorrerem soldados, quer fossem combatentes anglo-portugueses ou franceses.
Não muito longe, em Mortágua, dois moinhos – o da Moura e o de Sula – serviram de posto de comando para os generais envolvidos na Batalha do Bussaco. E o município tem, hoje, modernos murais de arte urbana que retratam as invasões francesas.
Também uma localização estratégica no mesmo conflito tinha Penacova, onde parte do exército anglo-português atravessou o Vale do Mondego, para chegar ao Bussaco, e onde a Barca do Concelho recolhia feridos, de modo a transportá-los para Coimbra. É no município que se localiza Santo António do Cântaro, que albergou o 2.º Corpo do General Reynier.
Serra da Estrela
40° 19′ 18.8″ N, 7° 36′ 46.5″ W
O cerco de Almeida
Uma violenta explosão no paiol, a 26 de agosto de 1810, na terceira invasão francesa, levou à destruição do Castelo de Almeida, do qual apenas restam as ruínas. O episódio aconteceu durante o cerco das tropas do General Masséna à cidade.
Desde 2004, no último fim de semana de agosto, acontece a reconstituição história do Cerco de Almeida. É a maior que existe em Portugal, no que ao período da época napoleónica diz respeito.
Alto Alentejo
38° 52′ 52″ Norte, 7° 9′ 50″ Oeste
Um cemitério para ingleses
Por não poderem ser sepultados nas igrejas da cidade, visto serem anglicanos, construiu-se em Elvas, durante as guerras peninsulares, um cemitério apenas para os soldados ingleses.
No concelho, à semelhança do que acontece noutros pontos dos Itinerários Napoleónicos, os visitantes podem vivenciar também experiências de realidade aumentada, por exemplo nos seus fortins.
Grande Lisboa
38° 42′ 26″ N, 9° 8′ 8″ O
Três centros interpretativos
A ligação de Mafra às invasões dos franceses não pode ser contada sem se sublinhar o papel do Palácio Nacional de Mafra, que foi, sucessivamente, quartel-general das tropas invasoras e do exército aliado, além de residência da família real, antes de partir para o Brasil. E ainda hoje, aos domingos à tarde, os carrilhões tocam, como tocaram em Setembro de 1808, para receber o exército inglês, após as vitórias na Roliça e no Vimeiro.
Em Mafra, é possível observar uma réplica do telégrafo britânico de cinco balões, usado nas Linhas de Torres. Periodicamente, é montado na Serra do Socorro. Tal como Vila Franca de Xira, conta com um Centro de Interpretação das Linhas de Torres, onde o visitante pode experimentar manobrar duas réplicas do telégrafo português - o telégrafo de ponteiro.
Já Vila Franca de Xira foi ocupada pelas tropas espanholas durante a terceira invasão, os mesmos que usaram ramos de árvores para limpar as ruas da vila, após a saída dos franceses, levando à destruição dos pomares, sustento do povo. No decorrer das invasões, o papel desta cidade foi deveras importante para travar o avanço francês graças aos Fortes e às lanchas canhoneiras que patrulhavam o rio Tejo.
Em Bucelas, no concelho de Loures, existe mais um centro de interpretação das Linhas de Torres, que aborda uma outra temática, e permite conhecer a fundo as dificuldades que as populações locais tiveram na construção de fortificações de campo e de estradas militares. E, como os vestígios das invasões não se ficam pelo edificado – com a gastronomia e os vinhos a terem sido influenciados em muitos dos concelhos –, a vila dá nome ao vinho que o comandante Wellington ofereceu ao rei Jorge II, da Grã-Bretanha: Arinto de Bucelas.
Ir em busca dos vestígios espalhados nestes 13 concelhos é essencial para compreender melhor o período das invasões francesas e o impacto que tiveram em Portugal.
Para isso, a chave é seguir os Itinerários Napoleónicos.
CONTEÚDO COMERCIAL