Guiar rumo a uma oportunidade de emprego
Cabe aos técnicos do programa Incorpora seleccionar e acompanhar pessoas em situação de vulnerabilidade até uma possível inclusão laboral. Nesta relação de confiança e proximidade, os desafios são muitos.
Há quem, em situação de extrema vulnerabilidade, precise de um emprego. E há empresas que procuram as pessoas certas para determinada vaga. Na ponte entre ambos, está o trabalho incansável dos técnicos de intermediação laboral do programa Incorpora, uma iniciativa da Fundação “la Caixa”, com a colaboração do BPI e do Instituto de Emprego e Formação Profissional, operacionalizada através de uma rede de entidades sociais.
A intervenção dos técnicos vai muito além do que encontrar oportunidades de inclusão laboral para quem mais precisa. Dão-se respostas a diferentes camadas de vulnerabilidade. Criam-se laços de confiança e proximidade. E constroem-se processos de capacitação e valorização junto de quem, muitas vezes, já quase perdeu a esperança de um trabalho digno e uma vida feliz.
Vasco Cary é um dos técnicos ao serviço do programa Incorpora, através da Fundação António Aleixo. E também um nome familiar para muitos, nos municípios de Loulé e Albufeira. O que não é de estranhar: com mais de 180 intermediações em processos de inserção laboral, este técnico é contacto habitual das pessoas em risco de exclusão social que procuram um emprego no Algarve, assim como das empresas da região. E não só. Porque fazer a intermediação destes processos implica muitos outros contactos e intervenções além da questão da empregabilidade.
“Nós estamos aqui para trabalhar a empregabilidade de pessoas vulneráveis, mas existe todo um conjunto de desafios que circundam a pessoa. E essa pessoa não vai conseguir trabalhar se estes desafios não estiverem superados.”, explica Vasco Cary.
Foi assim num dos muitos casos que Vasco já intermediou. Um casal de imigrantes nepaleses, ambos surdos, e que enfrentavam, na altura, uma situação de carência económica, devido a uma questão burocrática com subsídios de desemprego.
O contacto com o técnico do programa Incorpora permitiu, num processo gradual, fazer o contacto com o IEFP e, a partir daí, trabalhar a empregabilidade de ambos os imigrantes com empresas da região, ultrapassando a barreira da surdez. Primeiro, em ocupações sazonais num hotel. E, ao fim de alguns anos, nos empregos que hoje ocupam: ele numa academia desportiva, como copeiro; ela na lavandaria de uma outra unidade hoteleira.
No acompanhamento deste casal, Vasco Cary fez a triagem de competências e necessidades profissionais e mediou o match com as empresas empregadoras. Mas também ajudou o casal a encontrar habitação, foi com eles à segurança social, às Finanças, ajudou a providenciar cabazes alimentares em épocas baixas de trabalho e nas deslocações ao hospital para exames e análises.
“Todo este processo leva tempo e o acompanhamento é longo”, explica o técnico. Dependendo das especificidades, as pessoas em situação de vulnerabilidade são acompanhadas muito após a inclusão profissional e podem regressar ao apoio do programa em qualquer altura.
O que é o programa Incorpora?
Esta iniciativa da Fundação “la Caixa” existe em Portugal desde 2018, com o objectivo de ajudar pessoas em risco de exclusão social a terem acesso a um emprego. Conta actualmente com uma rede de 52 entidades sociais e 110 técnicos de intermediação laboral.
No âmbito do programa, desde 2018, já foram integradas mais de 9000 pessoas no mercado de trabalho, com o apoio de mais de 3000 empresas contratantes.
E quem são estes participantes? O programa ajuda pessoas em situação de grande vulnerabilidade social, nomeadamente pessoas em situação de sem-abrigo, migrantes e refugiados, pessoas com diversidade funcional, desempregados de longa duração e maiores de 45 anos, entre outros perfis.
O factor fundamental?
A confiança
“Há uma grande empatia, uma relação de proximidade e de confiança muito grande entre o técnico e o participante”, afirma Vasco Cary, apontando esta confiança como o factor fundamental para o sucesso do trabalho do técnico. Juntam-se outros, como a honestidade e a clareza de informação. Daí ser também importante gerir expectativas sobre o que é o programa Incorpora, como funciona e o que é possível, ou não, neste contexto de inclusão profissional.
Além disso, o próprio processo de acompanhamento dá alicerces à relação que se estabelece. “Todas as pessoas que nos encaminham o currículo têm uma resposta”, exemplifica Vasco Cary, como forma de começar logo a ganhar confiança, numa fase inicial.
O processo de intermediação é depois trabalhado a partir da pessoa (e não do empregador), com a construção partilhada de um perfil e emprego ideal para as respectivas competências. E, também aqui, a relação de proximidade é essencial.
Um caminho personalizado para cada pessoa
“Estas pessoas têm um potencial, são um activo e têm muito mérito, com competências que podem ser aplicadas no mercado de trabalho”, frisa o técnico. E, por isso, “há uma relação directa de valor acrescentado para a empresa; não estamos a mendigar ofertas, estamos à procura de ofertas de trabalho para devolver valor – e essa é uma grande diferença deste programa”. É um programa que aborda a empregabilidade da pessoa para a empresa – e não o contrário.
Na base deste trabalho, estão os itinerários personalizados que são trabalhados com as pessoas em situação de vulnerabilidade. Identificam-se competências e potencial, mesmo em áreas onde as pessoas nunca trabalharam, mas para as quais podem ter o que é necessário.
Tal como explica Bruno Coutinho, responsável do Programa Incorpora em Portugal, “a pessoa está no centro do processo e o itinerário deve sempre assentar nas competências da pessoa, mas também nas suas motivações, desejos, vontades e decisões”.
É um processo co-construído entre a pessoa apoiada e o técnico, feito à medida de cada participante, com vantagens para a pessoa apoiada, para as empresas e para a produtividade.
Por um lado, o processo de intermediação detalhada garante que as pessoas propostas para determinada vaga têm o perfil adequado – e, com isto, o match torna-se muito mais facilitado. Por outro lado, “a produtividade vai ser muito maior, já que muitas destas pessoas acabam no seu emprego quase de sonho, porque foi este emprego e este itinerário que desenharam connosco”, adianta Vasco Cary.
“Estas pessoas têm um potencial, são um activo e têm muito mérito, com competências que podem ser aplicadas no mercado de trabalho”
Vasco Cary, técnico do Programa Incorpora
Provas dadas ao longo do tempo
A experiência de Vasco Cary é apenas uma amostra do vasto trabalho que é feito em todo o país, em prol da inclusão sociolaboral de pessoas em situação de vulnerabilidade. A Rede Incorpora conta, actualmente, com a intervenção no terreno de 110 técnicos e 52 entidades.
Este é, tal como realça Bruno Coutinho, o responsável pelo programa em Portugal, um dos trunfos diferenciadores do programa: “o princípio subjacente do trabalho em rede e ambiente colaborativo, que potencia a inclusão laboral das pessoas participantes e uma resposta mais eficaz às necessidades de contratação das empresas”.
Também por isso, o programa adapta-se geograficamente, aproveitando o conhecimento específico de quem trabalha cada região. “O Incorpora em Lisboa não funciona de forma exactamente igual ao Incorpora de Viana do Castelo ou de Fornos de Algodres. A realidade social é distinta em cada território e o programa tem de acompanhar essas diferenças”, explica o responsável, destacando a flexibilidade e a coordenação de proximidade aos técnicos e entidades sociais.
O trabalho em rede também permite ampliar as respostas dadas a estas pessoas em situação de risco e exclusão social.
Disso é exemplo outro caso de inclusão laboral que Vasco Cary acompanhou no terreno e que ligou técnicos do programa Incorpora de duas regiões diferentes. Trata-se do apoio a um imigrante também nepalês, vítima de tráfico humano em Lisboa e que conseguiu ir para o Algarve e ser integrado no programa Incorpora. Através da intervenção do técnico e da Fundação António Aleixo, foi contratado por um hotel da região, com oferta de alojamento e alimentação, mas foi também apoiado no processo de legalização documental.
Actualmente, para contrariar a forte sazonalidade do mercado laboral no Algarve, e graças à intervenção em rede do programa Incorpora, este imigrante trabalha num hotel em Évora. O processo só foi possível pelo trabalho em parceria de técnicos Incorpora em diferentes territórios (Algarve e Alentejo).
Que competências têm de ter
os técnicos Incorpora?
É um papel desafiante – e nem todos têm o necessário para levar a bom porto os objectivos do Incorpora. Os técnicos do programa precisam de demonstrar “uma sólida experiência em processos de inserção sociolaboral junto de públicos em situação de vulnerabilidade”, assim como um bom conhecimento das entidades do território de actuação, considera Bruno Coutinho, responsável do programa.
Em paralelo, as competências pessoais e relacionais também desempenham um papel essencial. Empatia, foco, compromisso, pragmatismo, resiliência, facilidade de comunicação e de adaptação são fundamentais. Assim como falar inglês (e outras línguas), no caso do trabalho com comunidades migrantes, tal como realça Vasco Cary.
Responder aos desafios em proximidade
A adaptabilidade e descentralização do programa também permite aos técnicos responder melhor aos desafios diários deste contexto. Desafios que vão desde o baixo perfil de empregabilidade dos participantes – “que exige um trabalho de capacitação e orientação muito intenso” dos técnicos, explica Bruno Coutinho –, até ao trabalho intenso de informação e sensibilização das empresas envolvidas.
Tudo isto com o peso da interseccionalidade e de saber que estas pessoas “apresentam diferentes camadas de vulnerabilidade” e “acumulam diferentes factores estigmatizantes e discriminatórios”, o que torna mais complexo o acompanhamento e o trabalho de cada técnico.
Mas que também torna cada processo de inclusão bem-sucedido – numa vitória emocionante contra a pobreza, a exclusão social e as desigualdades.
“A emoção e o entusiasmo com que a rede de técnicos vive cada colocação no mercado de trabalho é algo que, confesso, variadas vezes me comove. A minha maior realização pessoal é sentir e assistir, todos os dias, a vidas que mudam, a pessoas que se reinventam, que são resilientes e que lutam por um futuro diferente e melhor”, conclui Bruno Coutinho.
Esta emoção também é notória nas palavras de Vasco Cary, sobretudo quando refere as ramificações que o impacto do programa pode ter.
No Algarve, por exemplo, o trabalho do técnico está muito ligado às comunidades imigrantes – do Nepal, mas também da Índia, do Bangladesh e do Brasil. “Quando vou com alguém a uma entrevista de trabalho, não levo apenas essa pessoa. Levo a sua história, levo a força de saber que posso fazer a diferença para os seus filhos, que estão noutro país. Ajudamos pessoas que nem sequer conhecemos”, conta
Numa relação de confiança e proximidade em os desafios são muitos, o Programa Incorpora da Fundação ”la Caixa”, com o apoio do BPI, nasceu com o propósito de dar oportunidades a todos, com técnicos qualificados e empresas que fazem da igualdade de oportunidades muito mais do que apenas um slogan.
CONTEÚDO COMERCIAL