ESG:

uma sigla que importa para o futuro das empresas (e não só)

Qual a relação entre o número de mulheres em posições de liderança e a facilidade com que uma empresa obtém financiamento nos mercados? A ligação é muito maior do que antecipa e explica-se em três letras: ESG.

Hoje, o papel das empresas vai além do de meras empregadoras. E os seus objectivos passaram a ser mais do que simplesmente maximizar lucros a todo o custo. Hoje, o compromisso das empresas com o futuro (leia-se o bem-estar dos seus colaboradores, das comunidades em que se inserem e com a protecção do planeta) é uma tendência mundial e traduz-se no conceito de ESG.

Do inglês Environmental, Social, and Corporate Governance, as práticas ESG foram criadas pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com o Banco Mundial, em 2004, estando relacionadas com os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), também criados pela ONU.

Mas o que são exactamente? Como são aplicadas? E o que ganham empresas e consumidores?

ESG: o que significa?

A sigla ESG (que pode ser traduzida por práticas ambientais, sociais e de boa governança das empresas) tem um significado bastante amplo.

Trata-se, no fundo, de associar o conceito de sustentabilidade às dimensões ambientais, sociais e do governo das organizações. As empresas que aplicam os valores ESG reconhecem que além dos resultados financeiros do negócio, elas geram um impacto duradouro nas esferas social e ambiental, baseadas em padrões éticos e íntegros de actuação.

Assumindo o seu papel, as organizações comprometem-se a ser agentes de mudança, alterando práticas que poderão ser consideradas lesivas para o ambiente, para as suas pessoas ou para as comunidades em que se inserem. Aqui fala-se de responsabilização.

As práticas ESG ao longo dos tempos

Os valores ESG não são de agora. Porém, nos últimos anos têm ganhado maior destaque, devido, sobretudo, a catástrofes naturais e pandemias que revelaram que a sustentabilidade financeira está intimamente ligada à sustentabilidade ambiental e social. Sem respeito por uma dimensão, as restantes ficam ameaçadas.

Feita a introdução, eis como chegámos até aqui.

Cimeira da Terra

1992

Realizou-se a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, Brasil, com o objectivo de reconciliar o desenvolvimento económico com a protecção do ambiente. Estiveram presentes 179 países.

UNFCCC

1994

Entrou em vigor a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (United Nations Framework Convention on Climate Change - UNFCCC, em inglês), com 198 países a ratificarem-na. Ligada à segunda Cimeira da Terra, que aconteceu no mesmo ano, a UNFCCC pretendeu estabilizar as concentrações de gases de efeito de estufa (GEE) na atmosfera, de modo a evitar a interferência humana perigosa no sistema climático

Protocolo de Quioto

1997

Foi o primeiro tratado jurídico internacional a pretender limitar as emissões quantificadas de GEE nos países desenvolvidos. Foi adoptado em Dezembro de 1997, mas apenas entrou em vigor em 2005.

Who Cares Wins

2005

Documento que cunhou o termo ESG no contexto da gestão de activos.

PRI

2006

É lançada o PRI, Principles for Responsible Investment (Princípios para o Investimento Responsável). Trata-se de uma rede internacional de instituições financeiras apoiada pela Nações Unidas, criada para melhorar a integração das práticas ESG na análise de investimento.

SASB

2011

Jean Rogers, uma engenheira civil e do ambiente, criou a Sustainability Accounting Standards Board (SASB). Uma organização sem fins lucrativos que visa relatar os riscos e oportunidades no cumprimento das metas de sustentabilidade.

ODS e Acordo de Paris

2015

São aprovados, numa cimeira na sede da ONU, em Nova Iorque, os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que abordam várias dimensões do desenvolvimento sustentável (social, económico e ambiental) e que promovem a paz, a justiça e instituições eficazes.

Acordo de Paris

A União Europeia e os Estados-Membros assinam e ratificam o Acordo de Paris, tendo como objectivo manter o aumento da temperatura média mundial abaixo dos 2 ºC em relação aos níveis pré-industriais, e a empenhar esforços para limitar o aumento a 1,5 ºC.

Pacto Ecológico Europeu

2019

O Pacto Ecológico Europeu, também conhecido como European Green Deal, é uma iniciativa da Comissão Europeia para colocar a União Europeia na vanguarda da luta contra as alterações climáticas e tornar a Europa no primeiro continente neutro em termos de carbono até 2050.

O pacto assenta em dez pilares que abrangem vários sectores e é sustentado por 50 iniciativas que pretendem transformar as ambições europeias em planos concretos. Uma das ideias-chave no que respeita ao papel das empresas nesta luta é o conceito de Sustainable Finance (Finanças Sustentáveis) que implica a integração de indicadores ESG no desenvolvimento de estratégias financeiras e nas decisões de investimento. O objectivo é garantir a criação de valor social, económico e ambiental não apenas para investidores, mas também para toda a sociedade.

Covid-19

2020

O mundo é abalado por uma pandemia, a qual enfatiza alguns problemas ESG, como a segurança do trabalhador, o burnout e o papel da mulher no mundo do trabalho.

Os pilares ESG

Uma empresa que pretenda desenvolver um programa com base nas práticas ESG vai avaliar e trabalhar as suas áreas ambiental, social e de governança corporativa.

Ao fazer esta análise, vai também identificar potenciais riscos e oportunidades de negócio em cada vertente. Eis alguns temas que cabem em cada pilar ESG:

Environmental (Ambiental)

Conservação do ecossistema natural

  • Alterações climáticas: emissões de carbono; eficiência energética; vulnerabilidade às alterações climáticas.
  • Oportunidades ambientais: identificação em termos de energias renováveis; edifícios verdes e energia limpa.
  • Recursos naturais: stress da água; conservação da biodiversidade e uso da terra; fonte e circularidade dos materiais.
  • Poluição e resíduos: emissões tóxicas e resíduos; resíduos electrónicos.

Social (Social)

Relações e pessoas

  • Capital humano: relações laborais; desenvolvimento do capital humano; condições de trabalho na cadeia de fornecimento; promoção da igualdade de género e de políticas que assegurem outras formas de diversidade.
  • Responsabilidade do produto: segurança química; privacidade dos dados e cibersegurança; investimento responsável; qualidade do produto.

Governance (Governança corporativa)

Normas de administração de uma empresa

  • Comportamento do governo corporativo: ética no negócio; práticas anti-concorrenciais; combate à corrupção.
  • Governo corporativo: políticas de compensação justas; composição equilibrada do conselho de administração.

Práticas ESG nas empresas portuguesas

Em Portugal, oito em cada dez organizações já identificaram e desenvolveram a sua estratégia ESG ou planeiam fazê-lo.

Os dados são do estudo "The Search for ESG Talent", desenvolvido pelo ManPowerGroup, que juntou cerca de 40 mil empresas de 41 países e territórios.

Contudo, a grande maioria das empresas portuguesas (91%) considera não dispor, actualmente, do talento necessário para conseguir atingir estas práticas.

Não é o caso da Sonae que em 2022 ocupou os primeiros lugares do top 10 do ranking Merco Responsabilidade ESG (Monitor Empresarial de Reputação Corporativa).

Um futuro mais sustentável

As empresas que implementam práticas ESG estão a contribuir não só para o seu futuro, mas também para o do planeta. De entre os vários benefícios que estas práticas oferecem a quem as implementa, destacam-se:

  • Vantagens competitivas relativamente a outros concorrentes que não aplicam práticas ESG;
  • Atrair mais investidores com foco nas práticas ESG;
  • Melhor performance financeira;
  • Maior fidelização dos clientes;
  • Operações comerciais mais sustentáveis e adaptáveis.

Assim, além de haver cada vez mais consumidores que elegem as marcas pelo seu comportamento ético e impacto ambiental, também as instituições bancárias e os investidores privilegiam o financiamento e investimentos em empresas com práticas sustentáveis.

A Sonae é disso exemplo: quase 70% das suas linhas de financiamento de longo prazo (68%) estão indexadas ao desempenho dos compromissos sustentáveis (ESG).

Na prática, tal significa que os spreads das operações estão indexados ao desempenho das empresas do grupo em aspectos como a redução das emissões de CO2, o aumento da taxa de reciclagem dos resíduos gerados nos centros comerciais e, também, à promoção da presença de mulheres em cargos de liderança.

Neste capítulo, a empresa, cuja ambição de ter 39% das posições de liderança ocupadas por mulheres foi antecipada um ano (2022), reforçou em 2023 a sua posição no índice mundial que reúne empresas que se distinguem pela transparência e boas práticas na promoção da igualdade de género (Bloomberg Gender-Equality Index).

E como o conhecimento é uma arma para transformar a realidade, a Sonae desenvolveu ainda uma plataforma online para divulgar, de forma gratuita, conteúdos didácticos sobre sustentabilidade.

Funcionando como uma formação online pensada para todas as faixas etárias, neste site os participantes aprendem a descodificar os conceitos e, também, dicas para serem mais sustentáveis no seu dia-a-dia.

Esta foi uma forma de a Sonae, que já acumulou tanto conhecimento na área da sustentabilidade, o partilhar com a comunidade e incentivar todos à mudança. Porque "o futuro está nas nossas mãos".

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