Prémio Jovens Artistas Coliseu Porto Ageas
Dar palco às artes que dão palco a tantos artistas
A arte tem o condão de nos fazer viajar. Com ela, somos capazes de experienciar sensações desconhecidas, revisitar outras que nos são familiares e, até, algumas com as quais não sabíamos lidar até então. E existe um Prémio que nos traz Jovens Artistas, para nos ajudar nesta viagem.
Quando pensa nela, em arte, qual é o primeiro pensamento que lhe assalta a mente? Talvez a associe mais depressa à Música ou ao Teatro. Mas porque não juntar a esta lista a magia do Circo? Ou da Dança?
A verdade é que o panorama artístico é bastante rico e recheado de várias artes que merecem todo o reconhecimento. Conhecê-las — valorizá-las — é como embarcar numa viagem da qual não sairá indiferente. Basta que se disponibilize, de corpo e alma, para tal.
Vamos a isso?
O início do caminho
Esta viagem começou em 2021, fruto da parceria entre o Coliseu Porto Ageas e o Grupo Ageas Portugal, ainda que a relação se tenha formado três anos antes, em 2018. De onde nasceu esta parceria? A vontade de dar o devido reconhecimento a duas áreas artísticas com forte impacto no panorama nacional — a Dança e o Circo. Áreas que empregam vários artistas, que a elas entregam uma enorme dedicação, mas às quais nem sempre é prestado o devido reconhecimento. Foi com este sentido de missão que nasceu o Prémio Jovens Artistas Coliseu Porto Ageas.
Para Miguel Guedes, director do Coliseu Porto Ageas, esta tem sido uma parceria "de alguma simetria", assinala. "Tenho ideia de que, tanto o Coliseu do Porto como o Grupo Ageas Portugal, do ponto de vista daquilo que é o interesse cultural e também o proporcionar a artes que têm menor visibilidade um outro palco, têm pensamentos muito comuns. Daí que tenha sido muito simples, muito intuitivo, alinhar caminhos desde 2018 em várias áreas, nomeadamente nesta questão do Prémio dos Jovens Artistas, para que consigamos trazer algum foco e realçar trabalhos muitas vezes invisíveis — não só porque são disciplinas artísticas menos eclécticas, mas também porque muitas vezes acabam por encontrar um início de percurso, de carreira, que não lhes permite esse highlight".
"Foi uma parceria muito feliz porque sentimos que temos ambos os mesmos desejos."
Os tempos estão a mudar e com essa mudança vem também uma procura por conteúdos e ofertas mais mainstream, também no que à arte diz respeito. Miguel Guedes reforça que o objectivo deste Prémio, na sua opinião, não passa por contrariar isso, mas sim "criar caminhos alternativos". Isto é, caminhos alternativos "de viabilização de outros nomes, de outras estruturas, de outras personagens, criar outras narrativas que não têm de competir com o mainstream, mas sim de criar highlights e focos de interesse comuns".
A par com isto, Teresa Thöbe, Responsável de Marca, Patrocínios e Parcerias do Grupo Ageas Portugal, reforça que a iniciativa pretende continuar "a inspirar jovens artistas a perseguirem os seus sonhos, dando-lhes visibilidade nacional e alcance a novos públicos, enquanto exploram novos horizontes na expressão artística", assinala. E acrescenta: "As Artes Circenses merecem ser reconhecidas como a forma de linguagem artística que representam e, como tal, igualmente merecedoras de visibilidade, valorização e incentivo para a formação de novos talentos na área e a sua profissionalização."
Mais do que um Prémio, um reconhecimento
O Prémio Jovens Artistas Coliseu Porto Ageas destina-se a jovens talentos das artes circenses ou da Dança. Com uma periodicidade anual, tem como prémio o valor de cinco mil euros que poderá ser entregue a intérpretes, coreógrafos, cenógrafos, produtores, programadores, bem como outros profissionais ligados a ambas as áreas, que tenham até 30 anos de idade.
Daniel Seabra, acrobata aéreo, foi o vencedor da primeira edição. No dia em que o Coliseu Porto Ageas celebrou o seu 81.º aniversário, Daniel celebrou também esta conquista que se juntou a um currículo cheio de feitos e realizações profissionais: trabalhou como aerealista para a Disney on Ice, Royal Circus, Cirque Pinder, entre outros. Colaborou com diferentes companhias, entre as quais La Fura dels Baus, Companhia da Esquina, Teatro Experimental do Porto, Teatro Cão Solteiro, Erva Daninha, e em nome próprio. Em 2020, foi convidado a integrar o elenco do Circo de Natal do Coliseu Porto Ageas, com um número vertiginoso de dança acrobática. No mesmo ano, criou a sua própria companhia, Circo Caótico.
Mas de onde surgiu esta vocação? "Desde pequeno que tenho uma paixão gigante pelo Circo. Não exactamente ser acrobata aéreo, mas a lógica saltimbanco, poder viajar o mundo e actuar. Aliás, em miúdo, na verdade, queria ser domador de leões", começa por lembrar. "Com o tempo e crescimento enquanto pessoa sensata, percebi que ter animais no Circo não é algo em que eu acredite. Quando decidi estudar Circo, foquei-me na acrobacia aérea, mas sempre em cruzamento com outras disciplinas", remata Daniel Seabra. E assim tem-no feito, tornando-se num dos mais importantes nomes da nova vaga do Circo contemporâneo em Portugal.
Quanto ao Prémio, e estreando-se como o primeiro vencedor, Daniel Seabra não hesita em reforçar que, ainda que seja "incrível ser reconhecido" pelo seu trabalho e percurso, "é mais complexo e importante do que isso". Para o artista, este Prémio veio "reafirmar mais sobre o reconhecimento do sector". Sector esse que nem sempre ocupa o lugar de destaque que lhe seria merecido.
Ainda assim, Daniel Seabra aproveita a oportunidade para partilhar a sua opinião: o foco não está no Circo e na Dança não serem reconhecidos, mas sim em "romper com esse estigma e de que os espectáculos são para elites", diz.
"Vejo isso pela minha família e amigos que não têm um hábito cultural activo e que acham que é para um determinado tipo de pessoa ou estatuto. Eu acho que o Circo é óptimo nisso! É o tipo de espectáculo mais acessível a todos os níveis."
"Este prémio veio trazer-me reconhecimento a outros níveis. Aquilo que quero, a longo prazo, está a começar agora — talvez também por causa do Prémio — que é internacionalizar o meu trabalho e trabalhar com outras companhias onde possa cruzar o Circo com outras linguagens"
Uma parte fundamental desta viagem: o júri
A área principal do Prémio Jovens Artistas Coliseu Porto Ageas é alternada, de ano para ano, entre o Circo e a Dança. Em 2022, com Daniel Seabra, o foco foi dado ao Circo. Já em 2023, os olhos estiveram postos na Dança, com Ana Isabel Castro a sagrar-se vencedora da 2.ª edição.
Este ano, a atenção volta a focar-se na arte circense. Mas para se chegar ao nome vencedor, há um longo processo de decisão que é encabeçado por profissionais ligados a ambas as áreas, como Ana Borralho, João Galante, Max Oliveira, Miguel Ramalho, Olga Roriz e Susana Otero (na Dança); e Isabela Cardinali, Israel Modesto, João Paulo Santos, Julieta Guimarães, Luís de Matos e Rui Paixão (no Circo).
Julieta Guimarães é licenciada em Estudos Teatrais pela Escola Superior de Música Artes e Espectáculo. Mestre em Produção e Direcção de Cena pela ESMAE, é co-fundadora da Erva Daninha, companhia criada em 2006, onde assume a direcção plástica, assistência de direcção e comunicação. Júri na 1.ª edição deste Prémio, partilha como foi o desafio: "É um desafio difícil o de avaliar vários parâmetros, que passam pelo empenho, a criatividade e aplicação inovadora das técnicas de Circo. Creio que é uma observação a longo prazo, que se vai assimilando, resultado dos trabalhos artísticos que vamos presenciando."
Na hora de escolher, Julieta Guimarães ressalva que os factores de destaque acabam por ser a "inovação estética, dramatúrgica e também técnica, que promova as novas linguagens do Circo". Enquanto jurada e artista, a directora da Erva Daninha acredita que prémios como este são bastante pertinentes para duas áreas que se querem mais valorizadas e reconhecidas. "Para mim, o que falta é o reconhecimento de que o Circo também pode ser criativo, comunicar emoções e temas. Falta por um lado mais organização, mais aproximação aos canais colectivos de representação do sector, mais proximidade com as restantes áreas das artes performativas, como o Teatro, a Dança e expressões multidisciplinares."
"Para mim, o que falta é o reconhecimento de que o Circo também pode ser criativo, comunicar emoções e temas"
Para além disto, Julieta Guimarães reforça ainda a importância dos apoios, fundamentais neste caminho. "Faltam apoios ao Circo contemporâneo por parte dos teatros e projectos de programação de artes cénicas. Apoios financeiros, de comunicação, de espaços de residência que sustentem novos projectos e, em conjunto com apoios da Direcção-Geral das Artes, tragam mais e melhores criações. É fundamental os artistas e os seus projectos sejam financiados para que tenham equipas completas e isso resulte em espectáculos cada vez de maior qualidade e relevância nacional e internacional." - assinala.
Ainda que o Prémio Jovens Artistas Coliseu Porto Ageas seja um impulso, as ajudas não podem ficar por aí.
É com esta chamada de atenção que Julieta se prepara para uma terceira edição onde o rigor, o empenho e a originalidade dar-nos-ão a conhecer um novo jovem talento nacional.
João Paulo Santos é artista de novo Circo especializado em Mastro Chinês. Estudou Circo no Chapitô e nas escolas francesas ENACR e CNAC e, em 2004, criou a sua companhia, O Último Momento. Tendo sido também jurado na primeira edição do Prémio Jovens Artistas Coliseu Porto Ageas, faz das palavras da colega as suas, afirmando que no caminho da valorização artística, a responsabilidade é mútua.
"De um lado, os que fazem têm que continuar a trabalhar, ir buscar a melhor formação possível para criar espectáculos de melhor qualidade; e por outro lado, os que programam têm de arriscar mais e, sobretudo, ir ao encontro destes artistas para poderem, em seguida, valorizá-los nos espaços de difusão, sejam eles salas de espectáculos ou festivais de Verão. Criada esta dinâmica positiva o público poderá finalmente fazer o seu papel, que é o de assistir e dar consistência aos talentos portugueses", afirma.
Pertencente ao júri desta 3.ª edição, João Paulo Santos partilha que a tarefa vai ficando mais difícil com o passar dos anos, mas aproveita para deixar uma mensagem a todos os jovens que o possam estar a ler: seja para uma próxima edição, ou não, é preciso acreditar. "Acreditar no sonho deles, na capacidade de alcançá-lo, custe o que custe, e ir atrás dele e torná-lo realidade. Não esquecer de ser curioso e ver o máximo de espectáculos, há um universo infinito para descobrir".
O desafio é o de poder contribuir para o desenvolvimento do Circo de forma geral e, neste caso em particular, ajudando um artista emergente ao dar-lhe um apoio monetário, mas também o reconhecimento
Mostrar quem faz parte do caminho, à frente e atrás "da cortina"
Quando falamos em trabalho artístico, é em quem está em cima de um palco que, muitas vezes, pensamos. Contudo, para se chegar ao momento dos aplausos, existe um longo caminho que é percorrido por vários profissionais. O Prémio Jovens Artistas Coliseu Porto Ageas pretende, também, homenageá-los. A abrangência deste prémio vai para além de quem está "à frente da cortina".
Aqui, os bastidores também são passíveis deste reconhecimento por uma simples razão: também eles são parte desta arte e fundamentais para que o trabalho chegue até ao seu público.
"Somos pela igualdade na participação e fruição cultural, apoiando o desenvolvimento dos instrumentos e meios necessários para que estes objectivos se concretizem. O nosso apoio a actividades culturais materializa esta visão e consolida o compromisso que assumimos com a comunidade artística e a sociedade em geral e o papel activo que queremos representar no desenvolvimento do capital cultural", sublinha Teresa Thöbe.
"Acreditamos na diversidade e na pluralidade e queremos contribuir de forma efectiva para uma comunidade inclusiva, dinâmica, reconhecida e valorizada, onde todas as manifestações artísticas merecem o seu espaço e devido reconhecimento"
De forma complementar, Miguel Guedes refere que "a consciencialização do trabalho dos bastidores, dos profissionais da técnica, da luz, do som, da cenografia, da encenação…a importância deste trabalho é fundamental não só para quem vê, mas também para dentro das próprias classes artísticas", diz.
"Acho que é muito importante que, muitas vezes, os próprios artistas ganhem mais noção. Isso parece-me evidente nalgumas áreas, mas não tanto noutras: a verdadeira noção da importância destas artes de palco. São aquelas que proporcionam, depois, que alguém possa estar a representar todo esse trabalho para um público maior", afirma o director do Coliseu Porto Ageas. Mais uma vez, uma prova de como esta é uma parceria alinhada e que tem em vista um mesmo propósito.
"Quando escolhemos um parceiro para desenvolver um projecto artístico comum, quando decidimos apoiar determinada iniciativa cultural e associar-lhe a nossa marca ou até mesmo dar-lhe o nosso nome, temos uma premissa base: a partilha dos mesmos princípios e a ligação com os nossos valores", afirma a Responsável de Marca, Patrocínios e Parcerias do Grupo Ageas Portugal, acrescentando: "O Coliseu Porto Ageas comunga deste mesmo espírito de missão de serviço público. Parcerias alinhadas e que são o reflexo dos nossos valores permitem-nos construir uma narrativa positiva, coerente e sólida, que fortalece a ligação emocional com o público e a sociedade em geral, porque acreditamos ser bem percebida e valorizada."
Seguimos viagem?
A 3.ª edição do Prémio Jovens Artistas Coliseu Porto Ageas culminou no dia 13 de Dezembro. Foi Margarida Montenÿ, acrobata aérea e performer, a vencedora da edição de 2024. Para a jovem algarvia, este reconhecimento representa “um esforço colectivo”, nomeadamente de muitas famílias do Circo. Ao ser premiada, embora se considere “apenas uma entre tantas vozes”, vê esta conquista como uma oportunidade de “visibilizar e viabilizar o Circo”.
A expectativa é de que esta seja uma forma de inspirar mais teatros e espaços culturais a programarem Circo. Tal como na Dança. E relembra, por isso, que é importante dar palco a “novas linguagens e provocações”. O trabalho de Margarida destaca-se pela forma como combina técnica e criatividade e pela capacidade de explorar a expressão artística através do Circo. Acredita que “o Circo não é estático e não deve ter medo de se reinventar”.
“É o reconhecimento do Circo enquanto possibilidade de carreira e enquanto possibilidade de novas linguagens a surgirem em paralelo com as linguagens mais tradicionais.”
Mas depois de mais uma edição, o que fica para o futuro? Miguel Guedes, director do Coliseu Porto Ageas, dá a conhecer o seu desejo: "Há muita gente a fazer coisas extraordinárias, há muita gente fora do nosso radar e há muita gente que merece ser apanhada por ele. Eu só espero — e acredito —, que os próximos anos, numa ligação que nós temos duradoura com o Grupo Ageas Portugal, que acaba de ser reforçada para mais três anos, acabe por nos permitir chegarmos ao sexto ano do Prémio Jovens Artistas e olhemos para trás e percebamos que esses seis artistas tiveram o reconhecimento que fizeram por merecer."
No fundo, o grande objectivo é também um desejo de ambas as instituições: dar continuidade a este Prémio, destacando jovens artistas de relevo e dando palco a estas áreas de expressão artística. Numa parceria com muito trabalho ainda por fazer, Teresa Thöbe partilha que o futuro, como não podia deixar de ser, passará por "continuarmos empenhados em fazer a diferença com um impacto positivo e duradouro na sociedade".
Quando um Grupo faz reflectir as suas convicções e os seus valores na sua estratégia de parcerias está a ser autêntico. Todos os projectos que temos com os nossos parceiros são a materialização da nossa vontade em partilhar, cuidar, devolvendo à sociedade um pouco do que a sociedade nos dá.
Esta é uma viagem com uma única paragem final: a valorização artística. O caminho vai sendo construído com a magia do Circo e da Dança a fazerem de cada passagem um marco para um panorama cultural que se quer mais rico e abrangente.
Para que, quando pensemos em arte, o pensamento seja apenas um: na arte, há mesmo lugar para todos.
CONTEÚDO COMERCIAL