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BRINDE NO BANQUETE DAS MUSAS
Poesia, marulho e náusea,
poesia, canção suicida,
poesia que recomeças
de outro mundo, noutra vida.
Deixaste-nos mais famintos,
poesia, comida estranha,
se nenhum pão te equivale:
a mosca deglute a aranha.
Poesia, sobre os princípios
e os vagos dons do universo:
em teu regaço incestuoso,
o belo câncer do verso.
Azul, em chama, o telúrio
reintegra a essência do poeta,
e o que é perdido se salva...
Poesia, morte secreta.
CARLOS DRUMOND DE ANDRADE
in "Antologia Poética", 11ª ed.
1962
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