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Um Sorriso
Vinha caindo a tarde.
Era um poente de Agosto.
A sombra já enoitava as moitas. A humidade
Aveludava o musgo. E tanta suavidade
Havia de fazer chorar nesse sol-posto.
A viração
do oceano acariciava o rosto
Como incorpóreas mãos. Fosse mágoa ou saudade,
Tu olhavas, sem ver, os vales e a cidade.
Foi então que
senti sorrir o meu desgosto...
Ao fundo o mar batia
a crista dos escolhos...
Depois o céu... e mar e céus azuis: dir-se-ia
Prolongarem a cor ingénua dos teus olhos...
A paisagem ficou espiritualizada.
Tinha adquirido uma alma. E uma nova poesia
Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estrada.
MANUEL BANDEIRA
in "Estrela da Vida Inteira"
Livraria José Olympio Editora, 8ª edição
Rio de Janeiro, 1980
346 páginas
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