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PROVEDOR DO LEITOR DO PÚBLICO
 
Rui Araújo é o actual Provedor do Leitor
Tomou posse a 1 de Janeiro de 2006
 

ESTRANGEIRISMOS, GRALHAS E ERROS
Por Rui Araújo

Fernando Gonçalves (Praia da Tocha) propôs ao PÚ- BLICO “um glossário de problemas de língua portuguesa” que foi detectando no jornal, mas ninguém lhe respondeu.

“Suponho que não haja nisso interesse da parte do jornal – acrescenta o leitor. No entanto, todos os dias vou deparando com (e não ‘vou-me deparando com’, como muitos insistem) múltiplos problemas de uso linguístico, que vão da ortografia ao léxico, passando pela sintaxe (a sintaxe, meu Deus, a sintaxe...). Podia dar uma ajudinha para evitar que o senhor director do PÚBLICO, por exemplo, utilizasse de forma disparatada o termo ‘virtualmente’ quando quer escrever ‘quase’ ou ‘praticamente’, que é o sentido que a palavra inglesa ‘virtually’ tem em português; ou que escrevesse ‘paralizante’, entre outros exemplos possíveis.”

O Provedor solicitou um esclarecimento ao director do PÚBLICO. “Quanto à oferta de um glossário não se trata de qualquer desinteresse, mas de termos elaborado o nosso próprio glossário que integra o Livro de Estilo”, responde José Manuel Fernandes.

ESTRANGEIRISMOS
“Ana Navarro Pedro, correspondente do PÚBLICO em Paris, é um estudo de caso da contaminação do Português pelo Francês. Na edição de hoje (14 de Fevereiro de 2006), numa coluna intitulada ‘Polícias franceses acusados de maus tratos’, p. 14, pode ler-se: ‘O livro (...) cita fontes anónimas, ‘ex-funcionários de [sic] Polícia Judiciária’ que se teriam confiado aos autores (...)’. Julgo não serem precisos comentários para além da citação. Estes são parcos exemplos do muito que há a fazer para melhorar a qualidade da escrita num jornal que ainda vale a pena comprar”, acrescenta o leitor Fernando Gonçalves.

Eis o parágrafo em questão: “O livro, consagrado aos bastidores da polícia francesa e intitulado Place Beauvau (nome da morada do Ministério do Interior), cita cinco testemunhas anónimas, ‘ex-funcionários de Polícia Judiciária’ que se teriam confiado aos autores, três jornalistas do semanário Le Point, Christophe Labbé, Olivia Recasens e Jean-Michel Decugis”, escreve Ana Navarro Pedro.

“O Livro de Estilo não impede que alguns textos saiam contaminados com estrangeirismos, designadamente os de alguns correspondentes que vivem há muitos anos fora de Portugal. Por vezes, esses textos dão imenso trabalho de edição e, mesmo assim, não ficam perfeitos. Aqui, o trabalho é, por regra, realizado pelos editores e não pelo desk”, explica o director do PÚBLICO.

É uma explicação aceitável, mas o referido texto da correspondente em Paris não contém só estrangeirismos. Tem erros e imprecisões: (“nome da morada”, Decugis em vez de Décugis, etc.).

Uma notícia deve ser exacta, completa, compreensível e escrita em bom português.

 

MAIS ERROS
O leitor Fernando Gonçalves registou a preocupação do Provedor com as questões de Língua Portuguesa (“tão maltratadinha que anda onde não devia”) e enviou mais uma mensagem electrónica.

“O primeiro exemplo que tenho para lhe propor, aproveitando as últimas notícias dando conta da proliferação da pirataria no audiovisual, é o de ‘cópia pirata’. O PÚBLICO fez uma campanha de página inteira onde, a propósito de um filme dos Monty Python, se podia ler ’Não Perca a sua Cópia’. Ora bem: o que o PÚBLICO devia ter escrito, em vez de ‘cópia’, era ‘exemplar’ ou ‘original’. Porque ‘cópia’ é sempre pirata. Assim como subir é sempre para cima e descer é sempre para baixo. E eu não acredito que o PÚBLICO se ande a dedicar à pirataria (apesar de os piratas, os verdadeiros, recolherem as minhas simpatias). Mais uma vez, estamos perante um caso de literalismo com origem no inglês. Rita Siza, a vossa correspondente em Washington, também comete este pecadilho.

O segundo exemplo, e último para não maçar muito, tem a ver com a teimosa e despropositada manutenção da ordem dos termos da língua inglesa em expressões como ‘e-comércio’, ‘e-governo’, etc. Para não falar da manutenção da grafia inglesa na totalidade da expressão. Já temos o mau exemplo de ‘cd’ (quem disse que o plural de ‘cd’ é ‘cd’s’?), em vez de ‘dc’. Ou de ‘afro-americano’, que o politicamente correcto manda agora escrever ‘africano-americano’. Qualquer estudante de inglês (entre a iniciação e o nível intermédio) sabe que, na maior parte dos casos, se dá uma inversão dos termos na passagem do inglês para o português. ‘Americano-africano’ é a expressão que faz sentido, pois são em primeiro lugar americanos e só depois, devido à ascendência, africanos. Voltando à vaca fria: a grafia correcta, de acordo com a ordem corrente dos termos na Língua Portuguesa, deverá ser ’comércio-e’, ‘governo-e’ e, por que não, ‘correio-e’”, escreve Fernando Gonçalves.

“Cópia” é (segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora) o “acto ou efeito de copiar; traslado dos dizeres de um escrito; reprodução de uma obra de arte; imitação; plagiato”. Por outro lado, as siglas não fazem plural. A grafia correcta é correio-e, governo- e, comércio-e, etc. (apesar de não ser respeitada por ninguém).  

 

MAIS EXPLICAÇÕES
O Provedor inquiriu Rita Pimenta, a coordenadora da secção de copydesks da redacção de Lisboa.

“Não sendo a primeira vez que a perplexidade dos leitores perante os erros merece espaço na coluna do Provedor, e mantendo-se as condições de produção do PÚBLICO, a resposta não poderá diferir muito da divulgada por Joaquim Furtado em Dezembro de 2004, aqui parcialmente recuperada.

Diz o Livro de Estilo do PÚBLICO que os copydesks ‘harmonizam, corrigem, melhoram ou reescrevem textos segundo os padrões jornalísticos do PÚBLICO’. Ressalva-se ali, no entanto, que ‘cabe sempre aos redactores fazer uma última leitura dos seus textos, com especial atenção à pontuação, acentuação, concordâncias e gralhas’.

Não serve esta citação para alijar a responsabilidade dos copydesks nos erros publicados, antes para a partilhar com quem redige e edita, sobretudo numa altura em que é diminuta a percentagem de textos lida por este sector e em que não é possível, tão-pouco, assegurar a presença diária destes profissionais. A edição de hoje (domingo), por exemplo, não foi sujeita a qualquer controlo de qualidade por parte dos copydesks.

Para obstar aos presentes constrangimentos de funcionamento e na tentativa de (pelo menos) manter o nível que os leitores exigem e merecem, centrou-se o exercício desta função na revisão de página. Assim, como já previa o Livro de Estilo, ‘os copydesks dedicam especial atenção a títulos, pós-títulos, entradas, legendas, início e fim dos textos; conferem ainda a observância das regras gráficas mais relevantes que caracterizam o PÚBLICO’.

Esta prática (revisão de página) cinge-se ao caderno principal e, dado o momento em que ocorre (final da cadeia de produção), está sujeita a uma forte pressão dos tempos de fecho da edição. Nesta medida, confronta-se com a concentração de grande número de páginas para rever em pouco tempo. Será esta uma das justificações principais para que se ‘deixe passar’ alguns erros. Outra explicação decorre da inevitabilidade própria de quem é deste mundo: errar. À data do lançamento do PÚBLICO, a equipa de copydesks contava em Lisboa com o triplo dos efectivos agora presentes, o que permitia um maior e mais eficaz controlo de qualidade. No entanto, a sua principal preocupação continua a ser a de ir ao encontro dos interesses dos leitores na exigência de um jornal que aposte na qualidade e rigor. Por todas as falhas, apresentamos as nossas desculpas”, responde Rita Pimenta. O PÚBLICO tem consciência dos problemas. E pretende atenuá-los (já que erradicá-los é impossível). Mas as novas tecnologias e os copydesks representam, necessariamente, apenas parte da solução. Os jornalistas (domínio do idioma e profissionalismo) serão sempre os primeiros responsáveis.

GRALHAS
“Não estou seguro que o PÚBLICO tenha hoje mais gralhas do que quando tinha uma equipa maior de copydesks, até porque nunca reviram os textos todos nem o seu papel é, na essência, o de revisores ortográficos. Também não é exacto que nenhum texto da edição de domingo seja revisto. Por um lado, uma parte significativa da edição de domingo é preparada na sexta-feira, podendo os textos passar por desks, o que sucede sempre que possível. Por outro lado, ao fim-de-semana mantém-se a trabalhar a equipa de desks do Porto, o que permite que os textos que mereçam mais atenção sejam revistos por estes (caso dos textos de primeira página, por exemplo). A integração electrónica das redacções permite realizar com facilidade esta partilha de trabalho. Quanto ao futuro deverá em breve ser realizada uma actualização do dicionário integrado nos programas editoriais que esperamos venha a melhorar substancialmente a detecção de gralhas e erros de concordância. Mas, insisto, o foco tem de continuar a ser apontado à exigência de mais cuidado na redacção por parte de todos os jornalistas e de garantir que há sempre um colega ou um editor que relê o texto que escrevemos. Compreendo e partilho o desespero com as gralhas mas, insisto, mesmo contando com os períodos em que a equipa está mais debilitada (férias, por exemplo), penso que a situação não tem piorado, antes pelo contrário”, considera José Manuel Fernandes. O simples facto de o PÚBLICO enunciar os problemas pode significar um princípio de solução. A empresa decidiu alterar (no seguimento da última crónica do Provedor) o estatuto dos suplementos, encartes, destacáveis e demais iniciativas comerciais cuja responsabilidade editorial não seja do PÚBLICO, e que são ou venham a ser distribuídos em banca conjuntamente com o jornal. A menção “Faz parte integrante do PÚBLICO” é substituída por “Suplemento distribuído em conjunto com o jornal PÚBLICO.”

 
ACTUAL PROVEDOR DOS LEITORES DO PÚBLICO
- Rui Araújo
Provedor do Leitor desde 1 de Janeiro de 2006
 
ANTERIORES PROVEDORES DOS LEITORES DO PÚBLICO

- Joaquim Furtado
Provedor do Leitor de 1 de Janeiro de 2004 a 1 de Dezembro de 2004

- Joaquim Fidalgo
Provedor do Leitor de 3 de Outubro de 1999 a 30 de Setembro de 2001

- Jorge Wemans
Provedor do Leitor de 23 de Fevereiro de 1997 a 1 de Março de 1998

 
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