O jardim do Éden
Ernest Hemingway




 

Quarta-feira, 26 de Junho de 2002
As Mulheres de Hemingway
J.C.S

Se "O Jardim do Éden" fala de uma relação a três muito semelhante àquela por que Hemingway passou, então não é despropositado falar das mulheres na vida do Nobel da Literatura. Com 21 anos, conheceu Elizabeth Hadley Richardson, oito anos mais velha. Hadley, como ele lhe chamava, tinha ido de Chicago para St. Louis recuperar da morte da mãe e encontrou em festas um rapaz que os amigos tratavam por muitos nomes - Ernie, Nesto, Oinbones, Wemmedge, Hemmy, Stein, Hemingstein. É assim que conta o escritor britânico Anthony Burgess na sua curta biografia de Hemingway. Apaixonaram-se e casaram em 1921. Destino: França. Era o sítio certo para um escritor. Um filho, Bumby, nasceu pouco depois.

Verão de 1926: ao sol da Côte d'Azur ou nas "fiestas" de Pamplona, os Hemingway partilham emoções com um casal amigo: os Murphy. E, pelo meio, surge Pauline Pfeiffer, que tinha sido editora de moda da Vogue e parecia, garantem, saída das páginas da revista. Hadley e Pauline são amigas. A 'petite' Pauline confessa o seu amor por Hemingway. Ele responde que também a ama. Hadley não faz drama: se ele e Pauline concordassem em separar-se por cem dias e se no fim ainda se amassem, ela concedia-lhe o divórcio. Os cem dias passaram, o divórcio seguiu-se; ele, apesar de Pauline, nunca deixou de pensar que tinha destruído o casamento, repetia a todos que era um filho da puta. "Chorou como uma criança quando Hadley determinou a divisão da mobília", escreveu Burgess.

Em 1936, nos Estados Unidos, Hemingway prepara-se para partir para Espanha, onde estalara a Guerra Civil. Pauline é contra, tem um presságio mau. Provavelmente não o da morte do marido, mas o da morte do casamento. É ainda na Florida que ele encontra Martha Gellhorn, uma das mais extraordinárias repórteres de guerra do século XX (sem dúvida muito melhor do que Hemingway neste campo). É já em Espanha, no meio do horror, que se envolvem. Digamos que, no intervalo das reportagens de guerra, ele era o primeiro amante dela e ela o primeiro amante dele, mas que não havia exclusividade. Ela era casada. A relação, pública, durou anos e era quase sempre tumultuosa, mas ainda assim casaram em 1940. Hemingway tinha ciúmes do trabalho de Martha Gellhorn, que inclusive desembarcou na Normandia, na Segunda Guerra Mundial, antes dele.

Nesse ano, 1944, em Londres, ele conheceu Mary Welsh, jornalista do "Daily Express" casada com um colega do "Daily Mail". O tempo desse encontro amoroso foi também o do desencontro final com Martha. Hemingway está presente na libertação de Paris. Instala-se no Ritz e recebe quem o vai visitar por entre champanhe e conhaque. Uma das primeiras visitas é a da Mary Welsh. "O quarto 31 do Ritz é consagrado às alegrias do amor pré-marital com Mary, breve mas apaixonado, acompanhado por champanhe Lanson Brut" (ainda Burgess). Casam em 1946. Ela será a quarta e última senhora Hemingway.

Em 2 de Julho de 1961, quando ele, doente e psicótico, se matou de manhã muito cedo, na entrada da casa de Ketchum, Idaho, ela estava lá dentro, a dormir.