Um Ano na Crise

Família Magalhães

"Não é com os restaurantes que vamos ficar milionários"

Por Raquel Almeida Correia
Miguel Manso

Pedro e Rita Magalhães investiram no sector da restauração quando a crise já estava no auge e agora, mesmo com os constrangimentos naturais da vida de empresários, planeiam abrir um novo negócio. Encontrar financiamento para projectos futuros e equilibrar as contas dos dois estabelecimentos que gerem, e que dão emprego a mais de 20 pessoas, são as suas principais dificuldades. E, apesar de não terem propriamente horário de trabalho, ainda conseguem educar três filhos.

A família Magalhães mora no Estoril, mas divide o tempo entre um restaurante de comida típica portuguesa, no centro de Lisboa, e uma marisqueira, em Cascais. Vieram do mundo das telecomunicações, no qual investiram numa altura em que este sector vivia tempos de crescimento acelerado. Quando começou a apresentar sinais de derrapagem, voltaram-se para a restauração e abriram o primeiro estabelecimento, há quatro anos.

"Não se pode ter amor aos negócios. Se dão, continua-se. Se não dão, mais vale fechar a porta", explica Pedro, 36 anos. Abrir um restaurante não foi propriamente uma ideia, mas sim "uma necessidade", diz. Com a desistência da loja de telemóveis, ficaram com um espaço vazio, numa zona privilegiada de Lisboa, e era preciso "continuar em frente".

Primeiro, abriram O Destino, onde trabalham oito pessoas. É neste restaurante de comida portuguesa que Pedro passa grande parte do dia. Rita, 38 anos, gere a marisqueira, que abriu no pico da crise, em Junho do ano passado, e que enfrenta, neste momento, mais dificuldades pela falta de clientes. "Está muito parado. Há quatro meses do ano, durante o Inverno, que são para deitar fora", conta.

Apesar de conseguirem viver com algum conforto financeiro, confessam que investir na restauração não é para todos. Pouco vêem os filhos e é unicamente deles que depende o salário que ganham ao final do mês. "Este tipo de negócio implica muita dedicação e persuasão", afirma Pedro, acrescentando que "não é com os restaurantes" que vão "ficar milionários". Ainda assim, foi neste sector que encontraram uma solução para "melhorar a qualidade de vida", porque, na ausência de uma formação académica, sabiam que seria "difícil encontrar um emprego que oferecesse tantas possibilidades", justifica o gestor, que veio de Angola com um ano e viu a família deixar tudo o que tinha construído para trás.

Casados há 18 anos, Pedro e Rita têm três filhos: Bárbara (17 anos), Tomás (15) e Madalena (nove). O facto de não conseguirem passar muito tempo em casa obrigou-os a procurar pessoas que "façam o papel de pai e mãe" e, por isso, têm despesas mensais na ordem de 1500 euros para assegurar o acompanhamento escolar das crianças.

A ideia da família Magalhães é continuar a investir. É algo que lhes está no sangue. "Comecei por vender camisas, depois aluguei alguns espaços. Tive um health club, que vendi. E foi com esse dinheiro que comprei a loja de telemóveis, onde agora está o restaurante em Lisboa", conta Pedro. O próximo passo poderá ser um bar, no centro da capital.