:Perfil

::A paixão do jornalismo  


Margarida Marante começou a trabalhar na televisão aos 18 anos. Houve um concurso para preenchimento de vagas na informação do segundo canal da RTP - que iria nascer nessa altura - e a jovem foi admitida. Nesta época, porém, já tinha alguma experiência profissional pois, com cerca de 16 anos (não se lembra se tinha os 16 anos feitos) tinha começado a trabalhar no semanário "Tempo" (mais tarde trabalharia também na "Opção", no "Expresso" e na TSF). Licenciada em Direito pela Universidade Católica de Lisboa, Margarida Marante chegou mesmo a fazer uma pós-graduação em Direito Comunitário na mesma faculdade. Mas não parou por aqui. Mal acabou a pós-graduação foi para os EUA frequentar um curso de especialização em jornalismo, área que a fascinava - apesar de em criança ter querido ser veterinária. Margarida Marante gostou de conhecer a sociedade norte-americana ("muito diferente da nossa"), viajou muito pelos EUA e adorou a rica vivência académica, que lamenta que não exista nas faculdades portuguesas. "As universidades americanas têm o "campus". Os estudantes estão, normalmente, deslocados das suas casas, longe da família. Vivem em residenciais, casas de familiares ou amigos ou em instalações das próprias universidades, o que origina um maior convívio entre colegas". Sente-se realizada profissionalmente no jornalismo e foi por isso que abandonou a advocacia, mas ao longo da sua carreira já teve duas recaídas em relação ao Direito. Não cedeu por completo em nenhuma delas e hoje considera pouco provável voltar a exercer a profissão. No entanto, pensa que os conhecimentos obtidos no curso a ajudam muito na sua actividade. Gosta de ler, dormir a sesta, ir ao cinema e à praia, viajar e de estar com o seu marido (Emídio Rangel, director de programação e de informação da SIC) e com os seus três filhos. Por norma compra o PÚBLICO, o "Expresso", o "Diário de Notícias" e a nova revista "Focus", mas gosta de ler todas as publicações, sem excepção. "Todos os dias quando me levanto tenho em cima da mesa o pequeno almoço e os jornais. Gosto de ter tempo para ler as publicações nacionais e estrangeiras. A actualização faz parte do meu trabalho". O último livro que leu fê-lo a meias com a filha, foram à livraria e acabaram por escolher, por acaso, exactamente a mesma obra "A pedra filosofal" de Henry Porter. Em conjunto, trocaram impressões sobre cada capítulo. "Foi a primeira vez que eu e a minha filha de 10 anos lemos o mesmo livro". Adora desenhos animados e os últimos filmes que viu foram "O Tarzan" e "O Rei Leão". Acha que a Internet é um meio de comunicação com futuro, embora discorde da ideia de que irá provocar a morte do papel. "O prazer de folhear um jornal e de ter um livro na mão não é substituível." Tem pena de não dominar a Internet mas acha que, mais dia menos dia, irá aprender com os seus filhos (Henrique, Catarina e Joana). "Mantenho uma relação ainda muito incipiente com a Internet mas tenho a certeza de que os meus filhos me vão ensinar a navegar." Embora lhe seja difícil conciliar a vida profissional com a familiar, Margarida Marante, hoje com 39 anos, considera-se uma mãe muito presente, apesar de ser uma jornalista muito atarefada. "Hoje em dia, em qualquer profissão que seja muito exigente, é difícil conciliar a vida profissional e privada. A actividade jornalística tira-nos muito tempo." Vive as experiências profissionais de forma intensa e considera-se uma mulher de sorte pelo facto de poder ter um programa que corresponde às suas expectativas. "Posso-me hoje dar ao luxo de só fazer coisas de que gosto. É um trabalho criativo e o esforço que ele implica é tão grande que só poderia ser mesmo por gosto." "Esta Semana", exibido todas as quintas-feiras, às 22h45, é o programa de informação do seu género com maior audiência ("Nunca se fez nada parecido em Portugal"). Embora a gravação seja feita em tempo real - no mesmo dia, sem intervalos, sem repetições - Margarida Marante controla bem o "stress". "Ao fim de 20 anos de profissão, é natural que saiba exactamente como começar o programa, agarrar os telespectadores e captar a sua atenção até ao fim." No início, era exibido em horário nobre, devido à concorrência da RTP1, com o programa "Maria Elisa", apresentado pela própria. Mas actualmente a concorrência já não existe e, por isso, o "Esta Semana" passa já ao fim da noite. O programa é gravado em Paço d'Arcos, num estúdio amplo e bem iluminado da Valentim de Carvalho, decorado com fotografias de Nova Iorque. O programa estreou em Outubro de 1996 e, desde essa data, aposta em diferentes géneros: entrevista, reportagem e debate. Existem sempre dois temas por semana. O primeiro é uma reportagem, o que representa "uma grande sobrecarga de trabalho", pois não podem ser feitas em cima da hora. Levam, às vezes, um mês ou mais a fazer, com deslocações para fora do país (ainda que a jornalista queira dar preferência às reportagens feitas em Portugal). O segundo tema é uma entrevista ou um debate, com um tema escolhido de entre a actualidade, onde tudo se desenrola de forma mais rápida, com maior participação da apresentadora. No caso das reportagens, já não há uma ligação tão estreita com a actualidade, pois há que escolher e planear os temas com antecedência. O programa apresenta-se como de informação e de investigação jornalística, e tenta abordar temas diversos de natureza social (transexualidade, negligência médica, delinquência juvenil e novas formas de violência) já que, segundo Margarida Marante, os portugueses cada vez menos se interessam por política. Todas as sextas-feiras Margarida Marante e o seu grupo de trabalho (oito pessoas, contando com ela) fazem uma análise crítica ao programa do dia anterior e decidem o tema da semana seguinte - o que não quer dizer que, de vez em quando, não haja alterações dois dias antes do programa ir para o ar. Margarida Marante diz que nenhuma emissão escapa a críticas e fala do programa de dia 11 de Novembro, em que a reportagem foi sobre os narcotraficantes da Colômbia e o entrevistado foi o ministro da Justiça, António Costa. Diz que a entrevista foi muito hermética e receia que não tenha atingido a grande maioria dos telespectadores. "Quando a visionei, dei-me conta de que pode não ter sido conduzida de maneira a tocar um público mais alargado". Habituada às mudanças de última hora e sempre bem documentada sobre os temas que trata, a jornalista sente-se à frente das câmaras como um peixe na água. Gosta de trabalhar em equipa e escolheu pessoalmente, um a um, os seus colaboradores. O público-alvo do seu programa é muito variado: homens e mulheres de várias idades e estratos sociais marcam presença no quadro das audiências. No entanto, Margarida confessa que "gosta de ter as elites consigo". Antes do "Esta Semana" fez outros programas de debate político: "Sete à Sexta" (inspirado no programa francês "Sept sur Sept"), "A hora da verdade" (também inspirado num programa francês, "L'Heure de Verité"), "Crossfire" (com Miguel Sousa Tavares, inspirado no programa homónimo da CNN), "Conta Corrente" e "Ajustes de Contas". A sua experiência nesta área é vasta, pois desde os 21 anos que contacta com figuras-chave da política portuguesa. Nos 12 anos que esteve ao serviço da RTP, Margarida entrevistou todas as grandes personalidades políticas, passando por Francisco Sá Carneiro, Mário Soares, Álvaro Cunhal e Freitas do Amaral. Apesar da popularidade, diz ser uma mulher "reservada". Defende que, para se ser um bom jornalista, é essencial estabelecer um método de trabalho eficaz e ver os outros trabalhar, aprendendo com os seus erros. "Os bons profissionais em televisão contam-se pelos dedos. Não têm surgido novas revelações como eu imaginava, as coisas andam sempre à roda das mesmas pessoas em todos os canais". Considera que muitos jovens vêem mal preparados das universidades, o que explica o número diminuto de vagas para estagiários. Apoia alguns finalistas nos seus trabalhos de fim de curso e, por isso, apercebe-se de que o mercado de trabalho está "muito complicado" para quem se licencia em Comunicação Social. "Não sou uma grande entusiasta dos cursos de Comunicação Social. Se algum dos meus filhos me dissesse que queria ser jornalista, eu desde logo o aconselharia a tirar Economia, História ou até mesmo Sociologia e só depois tirar uma especialização em jornalismo". Quanto à crítica de que é demasiado agressiva com os entrevistados, a jornalista diz que já se habituou a esse comentário, mas pensa que se trata apenas de um "cliché" sem qualquer fundamento... na maioria das ocasiões. "As pessoas resolveram pôr-me essa etiqueta e eu sou obrigada a conviver com ela. No passado pode ter tido alguma razão de ser, e ainda hoje nalgumas ocasiões, mas noutras não tem nenhum fundamento." Sente-se bem na SIC, onde trabalha com base no lema "Máxima liberdade, máxima responsabilidade" e diz que nunca recebeu qualquer convite para trabalhar noutro canal de televisão. "Guardo na minha memória muito bons momentos da RTP. Foi lá que aprendi e me tornei uma jornalista experiente. Mas aconteceram algumas coisas desagradáveis que me obrigaram a abandonar o canal público de televisão e neste momento estou bem na SIC. Não penso sair". Entrevistadora competente, directa e agressiva, Margarida Marante tem uma imensa paixão pela política, o que explica o facto de todos os seus programas terem tido como protagonistas os principais intérpretes do espectáculo político em Portugal. Quando lhe perguntamos quais são os seus projectos futuros, Margarida Marante diz que não gosta de antecipar as coisas, que prefere concentrar-se nas tarefas que tem pela frente e não fazer futurismo ("Acho que é mau estarmos a fazer uma coisa e já a pensarmos noutra"). Actualmente, o seu principal objectivo é levar a bom termo o desafio que tem pela frente: conseguir fazer esta nova época do "Esta Semana" que vai já na quarta série consecutiva. No entanto, a jornalista confessa que gostaria de escrever para um jornal nacional e dar a sua opinião sobre os assuntos que marcam a actualidade. "Às vezes penso que há excesso de opinião, outras vezes apetece-me participar desse movimento e emitir opinião sobre os mais diversos temas".
16-12-1999

Patrícia Paula



Acha que a Internet é um meio de comunicação com futuro, embora discorde da ideia de que irá provocar a morte do papel. "O prazer de folhear um jornal e de ter um livro na mão não é substituível."

 

 

 

 

 

 



Sente-se realizada profissionalmente no jornalismo e foi por isso que abandonou a advocacia, mas ao longo da sua carreira já teve duas recaídas em relação ao Direito.