:Perfil

::O homem dos suspensórios  


Aos 66 anos de idade, Larry King é uma figura emblemática da televisão, tanto nos Estados como um pouco por todo o mundo, onde quer que cheguem as emissões da CNN, onde ingressou em 1985. Quem o vê conduzir entrevistas com aquele ar descontraído, em mangas de camisa e suspensórios coloridos, com uma segurança que lhe permite um estilo incomparável, a um tempo agressivo e irreverente, pode imaginar que o seu percurso profissional foi fácil e linear. Ora aqui está um exemplo de como as aparências iludem. King não nasceu num berço de ouro, mas sim em Brooklyn (Nova Iorque), um bairro de gente com poucas posses. O apego aos estudos não era grande e foi com dificuldade que conseguiu concluir o ensino secundário. Mudou-se para a Florida e arranjou emprego como porteiro de uma estação radiofónica, ao mesmo tempo que vivia um casamento meteórico, rapidamente anulado. Em termos profissionais, Larry King foi melhorando de vida, até conseguir ter o seu próprio programa de rádio, em Miami, actividade que complementava com colunas semanais para dois jornais regionais e com relatos de futebol americano para a televisão. Tudo corria bem até que, em 1971, King foi contratado por um empresário para fazer investigação jornalística sobre o assassínio de Kennedy. O trabalho ficou por fazer, enquanto o dinheiro, pago à cabeça, foi utilizado para pagar as dívidas de jogo e também as que contraiu ao comprar um carro de luxo, roupas de marca e outros acessórios de quem gosta de viver "à grande e à francesa". A brincadeira valeu-lhe um processo por roubo e uma breve estadia na prisão. Resolvido o problema, King ficou sem emprego e foi praticamente expulso de Miami. Depois de um período cinzento, Larry manteve-se fiel ao seu lema de vida: "Se não conseguires ganhar à primeira, arrisca outra vez". Em 1978 os americanos voltavam a ouvir a sua voz num programa nocturno da Rádio Mutual, que tinha cerca de 400 filiais por todo o país. Foi uma jogada de sucesso e a partir daí Larry King foi coleccionando êxitos que o levaram a ser contratado pela CNN. Sendo, por definição própria, um jogador, King parece dar razão ao ditado popular "sorte ao jogo, azar no amor". Sete casamentos (dois dos quais com a mesma mulher) e 6 divórcios, a juntar ao stress de uma vida profissional trepidante, abalam qualquer coração. Talvez resida aí a explicação para os diversos ataques cardíacos de que King já foi vítima e que o levaram a constituir a Larry King Cardiac Foundation, da qual é presidente. Em cerca de 40 anos de carreira Larry King escreveu onze livros, arrecadou diversos prémios e entrevistou mais de 30 mil pessoas, desde o comum dos mortais até figuras mundialmente célebres como o Dalai Lama, Marlon Brando, o casal Clinton, Madonna, Margaret Thatcher, Prince, Stephen Hawking, Elizabeth Taylor, Yasser Arafat ou Mikhail Gorbachev. A lista é tão extensa que é mais fácil dizer qual dos muitos famosos nunca entrevistou: o Papa João Paulo II.
02-06-2000

Margarida Vieira da Silva



Em cerca de 40 anos de carreira Larry King escreveu onze livros, arrecadou diversos prémios e entrevistou mais de 30 mil pessoas, desde o comum dos mortais até figuras mundialmente célebres. A lista é tão extensa que é mais fácil dizer qual dos muitos famosos nunca entrevistou: o Papa João Paulo II.