:Perfil

::Estrela por acaso  


Quando Fátima Lopes teve de decidir qual seria a sua especialização, no terceiro ano da licenciatura em Comunicação Social, na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa, não escolheu jornalismo televisivo. Pensou que não tinha vocação e que jamais conseguiria enfrentar as câmaras com naturalidade. Decidiu-se por Publicidade e Marketing. Nunca pensou vir a ser uma estrela televisiva. Tudo começou por acaso: Fátima estava a trabalhar na empresa de audiotexto Interinfo (chamadas de valor acrescentado) que tinha um contrato de exclusividade com a SIC. Tinha havido um grande "boom" das telecomunicações e a estação estava interessada em linhas telefónicas de informação ou passatempos. Fátima Lopes, responsável pela área comercial, foi encarregada de gerir a conta deste cliente e começou a passar cada vez mais tempo nas instalações da SIC. "Aos poucos dei por mim a ir à SIC diariamente. Havia pessoas que não sabiam ao certo se eu era ou não funcionária da casa", diz a apresentadora. Com o passar dos meses, começou a passear-se à vontade pelos corredores, salas e gabinetes. Analisava a grelha de programação, estudava os patrocínios e elaborava propostas de oferta de serviços da Interinfo, nos programas que lhe pareciam mais convenientes. Quando se tratava de projectos mais ambiciosos, as propostas eram analisadas pelo director da estação, Emídio Rangel, que pensou que Fátima Lopes tinha características para ser uma excelente apresentadora. Sem o seu conhecimento, Rangel propôs o seu nome para um "casting" televisivo e perguntou-lhe se poderia ter uma reunião com ele. Fátima Lopes pensou que se tratava apenas de uma reunião de rotina, onde Rangel iria tomar uma decisão sobre propostas pendentes. Nunca imaginou que o assunto da reunião fosse a sua possível entrada para os quadros da SIC. Quando Rangel lhe fez a proposta, Fátima ficou assustada. Explicou que não tinha qualquer experiência nesta área e que nem tinha escolhido a vertente televisão na faculdade. O "casting" destinava-se à substituição de Alexandra Lencastre no programa "Perdoa-me". A actriz não queria fazer a nova série do programa e Rangel tinha de resolver rapidamente o problema. Fátima recorda-se que na altura pensou nas muitas dificuldades pelas quais iria passar. Primeiro porque se tratava de um "reality show", sempre com um clima muito emocional, em segundo lugar porque iria substituir alguém experiente e competente. Mas decidiu aceitar o desafio. Recebeu uma cassete com um caso que já tinha sido objecto de um programa e, no dia 1 de Novembro de 1994, simulou a abertura e o fecho do "Perdoa-me". Nesse mesmo dia telefonaram-lhe a dizer que tinha sido seleccionada. Pouco depois, tornar-se-ia uma das mais populares apresentadoras da SIC. Fascinada pelo seu trabalho, a apresentadora diz que nunca desiste dos seus projectos sem antes lutar por eles. "Sou lutadora, coloco objectivos e vou até ao fim", garante. Actualmente, é a figura mais mediática do terceiro canal e apresenta um "talk-show" com o seu nome: "Fátima Lopes". Embora tenha sido o programa "Surprise Show" que a deu a conhecer, não há dúvida de que foi "Fátima Lopes" que a lançou para a fama. Embora se tenha licenciado em Comunicação Social, chegou à conclusão que o que mais a seduz é conversar com as pessoas, partilhar experiências, ouvir e ser ouvida. Quando lhe perguntamos quais são os aspectos negativos do que faz, Fátima diz que a maioria das coisas são positivas, visto que o "Fátima Lopes" é um programa de aprendizagem diária, sempre com temas e convidados diferentes. Tanto apanha um bom conversador, com um fio de pensamento bem estruturado, como lida com pessoas que têm uma forma muito confusa de expor as ideias, que a obrigam a uma maior intervenção. "É um desafio permanente. Cada pessoa que se senta ali é um enigma". O único aspecto negativo que refere prende-se com o facto de ter de abordar temas muito sensíveis, onde é difícil conseguir o distanciamento necessário e a frieza suficiente para arrancar o testemunho ao convidado, sem se deixar envolver: "Às vezes é muito duro ter de ouvir determinadas pessoas, perceber o sofrimento delas e não poder fazer nada". O que mais ambiciona é fazer um "talk show" à noite, em horário nobre ou mesmo mais tarde, em directo, mas também sonha em fazer rádio. Diz que está sempre a aprender e defende que quem pensa que sabe tudo ao fim de pouco tempo de aprendizagem, pode arrumar as botas e ir embora. Não tem ídolos, não tenta imitar ninguém e está convicta de que "a cópia é sempre pior que o original". "O mais difícil para uma apresentadora de televisão é ser autêntica, mas é aí que está a chave do sucesso." O seu actual programa está a cargo de uma produtora independente, a Comunicasom, e é gravado num estúdio amplo, com janelas em abóboda e vitrais coloridos. Verde, azul, castanho e creme são as cores predominantes do programa. Fátima Lopes não interfere na escolha dos temas nem se intromete na pesquisa. Só ocasionalmente sugere um assunto do seu agrado. Sentados em cadeiras cor-de-rosa e Bordeaux, os convidados contam as suas vidas a Fátima Lopes, que se senta numa cadeira de madeira de recorte clássico, embora com um toque moderno e sofisticado. Sempre bem disposta e com um ar descontraído, Fátima põe os convidados à vontade e ouve atentamente os seus testemunhos. A apresentadora prepara as entrevistas com base na informação recolhida por uma equipa de jornalistas. Seis convidados e 46 lugares sentados constituem o cenário habitual deste programa que passa na SIC, de segunda a sexta, às 15.40. Teoricamente, o público-alvo são as classes C e D, pessoas acima dos 50 anos, muitas delas reformadas e com pouca instrução, mas a prática revela que se trata de um programa que, embora maioritariamente visto por estas pessoas, possui uma larga franja de espectadores que não se enquadra nesta descrição. Segundo a apresentadora, "o público-alvo está perfeitamente atingido, o programa é líder de audiências." Não põe de parte a hipótese de fazer um programa meramente informativo, mas reconhece que seria necessário uma boa equipa, que lhe fornecesse o apoio necessário para colmatar as lacunas devidas ao facto de não ser jornalista. Fátima Lopes lida bem com a popularidade, recebe muitas cartas e telefonemas de fãs, pedidos de autógrafos e não nega que beneficia de algumas facilidades pelo facto de ser uma figura tão conhecida: arranjar lugares em cinemas, concertos ou restaurantes mesmo quando a lotação está "completamente esgotada" não costuma ser uma dificuldade. Os fãs merecem-lhe uma enorme consideração e responde, ainda que tardiamente, a todas as cartas que recebe, apesar de não ter tempo para retribuir os telefonemas. Ser popular é cansativo e Fátima confessa que, "Por vezes ,é bom ser anónima, viajar para fora de Portugal e descansar de ser figura pública." Gosta de ler, praticar desporto, ginástica e atletismo e, como passa muitas horas fechada dentro de um estúdio com luzes artificiais, gosta de passear na praia e respirar ar puro. Por ora, porém, a actividade desportiva está suspensa: Fátima Lopes está grávida de um muito esperado primeiro bébé. Por norma compra o PÚBLICO e o "Expresso", embora também goste de ler o "Diário de Notícias", a "Visão" e revistas femininas como a "Máxima" e a "Elle", onde encontra sempre temas para o seu programa. É assinante da "Time" e gosta de ler Alexandre Pinheiro Torres ("Amor, só amor, tudo amor") e Luise Hay ("O poder está dentro de si").
30-12-1999

Patrícia Paula