:Perfil

::Mulher de mil ofícios  


Catarina Furtado, 27 anos, deixou deliberadamente o jornalismo para trás e resolveu concretizar um sonho antigo: ser actriz. Foi uma escolha um pouco contra-natura. O seu pai, Joaquim Furtado, um consagrado jornalista da televisão pública, sempre a incentivou a seguir a carreira jornalística. Não era esse o seu destino. Formou-se pela Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa, e concorreu, em 1990, a uma bolsa de estudo do Liceu Nacional de Cultura, tendo sido seleccionada. Montou uma coreografia mas, no dia em que foi fazer o ensaio geral, deu uma queda e sofreu um traumatismo lombar que a deixou imóvel durante meses. Embora debilitada fisicamente, Catarina não ficou parada e inscreveu-se no curso de jornalismo do Cenjor (Centro de Formação Profissional para Jornalistas), no fim do qual optou por fazer um estágio no Correio da Manhã Rádio. Nesta fase, trabalhou em praticamente todas as áreas (política, sociedade, cultura, desporto) e experimentou os mais diversos horários. "Ou entrava de madrugada, ou ficava na rádio pela noite dentro", conta. Sempre dividida entre o jornalismo e a dança, é convidada em 1991 para fazer um "casting" para o programa de televisão "Top Mais", na RTP, cujo realizador, faz questão de relembrar, era Diamantino Ferreira "um dos melhores realizadores de televisão e sobretudo de publicidade". Embora o seu verdadeiro sonho não passasse por fazer televisão, Catarina aceitou o desafio. Foi escolhida, embora nos primeiros programas não tenha gostado da sua actuação, chegando mesmo a pedir ao realizador que pusesse alguém no seu lugar. "O meu sonho nunca foi fazer televisão. Sempre desejei dedicar-me à dança, ao teatro e ao cinema. O "Top Mais" foi um acaso da vida". Ironicamente, o programa foi a rampa de lançamento para o seu sucesso: em 1992 apresentou o "MTV-Portugal" na SIC (estação de televisão para a qual ainda hoje trabalha) e em 1993 tornou-se numa das caras mais conhecidas do pequeno ecrã com o "Chuva de Estrelas" (programa que ainda hoje é líder de audiências no canal de Carnaxide). Um ano depois, apresentou o "Caça ao Tesouro" e desde 1995 que Catarina se tem desdobrado em múltiplas tarefas: apresentou o programa "Uma noite de sonho" e muitos outros programas de moda, música, galas, reportagens e entrevistas com actores de cinema como Patrick Swayze, Sandra Bullock, Arnold Schwarzenegger, Kevin Spacey, Ralph Fiennes, Jeff Goldblum, Harrison Ford, Kevin Costner e Sharon Stone, entre outros. Em 1999 apresentou o "Pequenos e Terríveis", um programa que apesar de não ter sido fácil, lhe deu muito prazer. "Não é fácil lidar com crianças e por isso achei engraçado criar uma espécie de personagem: não ser demasiado "professora" e pôr-me ao nível deles, mas sem dar muita confiança". Embora o programa tenha já terminado, a apresentadora revela que o seu regresso está já agendado para Janeiro/Fevereiro do ano 2000. Seduzida pela arte de representar, Catarina Furtado começou em 1993 o seu percurso no cinema. Nesse ano fez duas curtas metragens: "O Assassino da Voz Meiga", de Artur Ribeiro, e "Amor e Alquimia", de Fernando Fragata. Em 1997 foi protagonista em algumas curtas e longas metragens: "Killing Time", de Alexander Finbow, apresentada no Festival de Cannes; "Drinking & Bleeding", de Leonard Whybrow; e "Summer Moments", uma curta metragem de Rita Fernandes. Em termos de longas metragens, foi protagonista em "Fátima" de Fabrizio Costa, em "Anjo da Guarda" de Margarida Gil, em "Siamese Cop" de Paul Morris e, finalmente "Pesadelo Cor-de-Rosa" de Fernando Fragata. Em 1998 fez "Longe da Vista", uma longa metragem de João Mário Grilo. Sempre pronta a enfrentar desafios, Catarina Furtado decidiu ir estudar para Londres durante dois anos, de 1995 a 1997, na London International School of Acting. Em 1999 participou na peça "Quase" de Patrick Marber, no Teatro Aberto. Com um currículo invejável, a actriz/apresentadora confessa que ainda não se sente realizada profissionalmente. "É claro que ainda não me sinto minimamente realizada a nível profissional, pois se assim fosse esta seria a minha última entrevista. Pretendo concretizar o sonho de ser actriz, não quero estagnar e deitar-me à sombra da bananeira, à espera que algo aconteça. Posso fazer asneira mas quero arriscar e fazer coisas novas". Catarina não se considera "uma estrela". "Portugal não tem estrutura para ter muitas vedetas. Existe um desequilíbrio muito grande no tratamento que é dado às figuras públicas: ou nos tratam maravilhosamente bem ou, para nos mostrarem que somos iguais ao mais comum dos mortais, tratam-nos abaixo de cão". Tenta estar o mais tempo possível com a família e com todos os seus animais de estimação porque tem plena consciência de que o tempo é curto e há que aproveitá-lo da melhor maneira. "Desde pequena que sinto o tempo a passar e isso atrapalha-me. Sei que qualquer dia me vou embora e por isso tento estar muito tempo com todos aqueles de que mais gosto. Sou alvo de muitas solicitações e não posso perder tempo com futilidades". No pouco tempo livre que lhe resta gosta de dançar, ouvir música, viajar (o seu último destino foi Cabo Verde) ir ao cinema, dormir, correr na praia, ler (Jorge Amado) e estudar os guiões de teatro. Preza muito as suas amizades, particularmente quando são "longas e duradouras". A coisa de que mais se orgulha é de se mostrar ao público tal como ela é quando está longe das câmaras, "Não tento ser outra pessoa, parecer aquilo que não sou. Não trabalho para a popularidade, mas sim para dar tudo a um público que também me tem dado muito apoio e carinho". Conciliar a representação com a apresentação é o seu objectivo principal, embora confesse o seu desejo de voltar à rádio. Tem dois projectos de programas na manga e gostaria de os apresentar numa rádio nacional. Catarina Furtado colaborou também para a revista "Politika", onde fazia reportagens sobre pousadas históricas de Portugal e entrevistava as personagens mais características da região. Também já escreveu histórias de ficção infantil e actualmente, quando está verdadeiramente inspirada, escreve letras de músicas. Sente que está no caminho certo para alcançar a fama e a realização profissional: "Finalmente sinto que estou a segurar as minhas rédeas, vou agora começar a rodar um telefilme, que dura até Janeiro, com o Luís Galvão Teles e estou muito entusiasmada". Já recebeu inúmeros convites para trabalhar noutros canais de televisão mas diz sentir-se bem na SIC e não está a pensar em mudar. "Fui para a SIC na altura em que ainda estavam a arrumar a casa, a escolher a equipa de trabalho e a pensar nos últimos detalhes e por isso esta é a minha casa". Apesar da sua experiência de representação, Catarina Furtado diz que o teatro e o cinema ainda hoje lhe causam algum medo. "Na escola de Belas Artes habituei-me, durante 10 anos, a não falar, apenas a expressar-me através da linguagem corporal e por isso o discurso oral provoca em mim algum receio".
06-01-2000

Patrícia Paula



Catarina não se considera