Eduardo
Cintra Torres
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-Herman Seca |
Duas horas e meia de "talk show"? Mas que mal fiz eu a Deus? Enquanto pelo mundo os programas de TV encurtam, a SIC descobriu a galinha dos ovos de ouro: duplica ou triplica a duração dos programas, reduzindo custos gerais de produção. O primeiro "HermanSIC" foi uma "Herman SECA". Tal como os seus programas na RTP, o "HermanSIC" é um "talk show" demasiado extenso, interminável. E, à parte o lustro da produção e o cenário quentinho de Tomás Taveira, não trouxe nada de novo. O melhor do programa foi Maria Rueff e os "sketches" que recordaram os de outros tempos. Foram os momentos que mostraram a falta que faz um humor implacável à realidade do dia. O primeiro "HermanSIC" teve Herman a mais e Rueff a menos. O Herman gorduroso domina: são as entrevistas inúteis, em que os entrevistados, apesar de por lá ficarem duas horas, não conseguem falar (Herman interrompe-os, pois quer ser sempre ele a falar); são os artistas em fase de pré-reforma, como aquele italiano ou o absurdo "Povo que Lavas no Rio" por quatro fadistas que não estabelecem o mínimo contacto musical entre si; são as referências e as entrevistas-fretes ao universo do próprio canal em que o programa decorre (as estrelas da telenovela, etc). Mas é principalmente o Herman-seca: Herman falando de Herman, das suas preocupações pessoais, do «carinho» que encontrou, do seu restaurante, do nervosismo, do agora é que vou falar a sério, etc. Herman continua o mesmo menino mimado da televisão portuguesa. O mundo gravita em seu redor. Como não há ninguém que se lhe compare como humorista, vive em situação de virtual monopólio. Ele pode dar-se ao luxo de fazer "talk shows" intermináveis de duas horas e meia que o país (a começar pelo país mediático) se rende a seus pés. E por isso ele fala para o país e justifica os seus actos como se tivesse um contrato com a Pátria. O nosso drama é o mesmo de Herman: não há em Portugal ninguém melhor que ele como humorista (embora haja entrevistadores muito superiores); sabemos todos, ele em primeiro lugar, que poderia fazer mais e melhor, e por isso lho «exigimos», e por isso ele se justifica em antena como se estivesse em terapia de grupo. Provavelmente exigimos demais e ele não quer dar-nos mais. Por mim, a partir de domingo, já não espero mais de Herman do que aquilo que vi. É preciso concorrência para o Herman. E, já que Maria Rueff prefere estar com ele a confrontar-se com ele, bom sentimento que só lhe fica bem, o desafio aos agentes de espectáculo será percorrerem o país procurando um sucessor à altura de Herman. Se calhar já tentaram e não o encontraram: o país é o que é, e Herman também. A RTP2 e a BBC Prime transmitem comédias inglesas. |
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