Eduardo Cintra Torres

O Fado dos Cinco Efes


Isto parece uma mistura de filmes, ele é futebol, caciques, corrupção, mais bola, conhecidos que vão dentro, fora o árbitro!

Isto parece uma mistura de filmes, ele é futebol, caciques, corrupção, mais bola, conhecidos que vão dentro, fora o árbitro!, carros que entram e saem da judite, autarca amigo estamos contigo, a TV à porta, à entrada e à saída das casas particulares e das instituições, ainda bem porque a casa do major é uma instituição, há ecos de Camilo, comoção, emoção, familiares e amigos, especialistas falando de processos que não leram nem lerão, isto agora é o triângulo estratégico Felgueiras-Gondomar-Marco, alegrias e tristezas, fictional reality, reality shows em fila cronológica, é preciso um novo show, os outros passam para trás, olha a Casa Pia onde já vai, desta vez é o nosso major das batatas que gritava para as câmaras, quando saiu da judite já gritava menos mas agradeceu ao Santana Lopes e a gente pergunta porquê, e no Marco o Ferreira Torres logo diz que o pontapé no símbolo do árbitro devia ter sido no árbitro, ele é que tinha razão, agora é que se percebe as imagens, a gente precisa de aprender a ler as imagens, ele foi uma besta mas tá tudo explicado e aceite, e logo agora é que a Fátima perdeu o mandato de presidenta por faltar ao trabalho, coitada, ladrões são os que nos roubaram a Fátima, ela lá no Brasil em pulgas para vir servir o povo, servi-lo como o Torres da brelaitada e o major das batatas e o local people agradece, manifesta-se, o local people sabe que são todos iguais mas há caciques mais iguais que outros porque este dá frigoríficos e sabe gritar muito bem ainda por cima na TV e fala de alto lá prós de Lisboa, essa cáfila que nos anda a chular, e vejam o filho que fala tão bem e fala como filho, isto é ou não melhor que as novelas, e a filha saltou para o pescoço do major antes que as câmaras fossem embora e disse e repetiu e tripetiu eu tenho muito orgulho neste pai, e ele à hora de almoço de roupão à porta da bibenda, isto é ou não um reality show, nem na Globo eles inventavam um major como este, nem o Jorge Amado e seus coronéis, o nosso major merecia ser general, ele é orgulho pró país inteiro, um major que manda na cambra de Gondomar e manda na Liga e que dize que manda nos árbitros, e que manda no metro do Porto, este major é um quilómetro, manda no filho e janta com todos à sexta e manda no Boavista campeão e manda no partido da chusma lá de Lisboa, e é major do Exército orgulho da pátria também, isto é mais uma cabala como à da Fátima, é melhor os Francis Assiscos lá do PSD não virem a Gondomar ou levam porrada, a gente quer o major, ele há lá melhor cacique que o nosso, e se comprava o árbitro que mal tinha, não é o que todos fazem, mais esperto é quem faz melhor, isto é cabala, é o Torres do Marco que é do CDS e o CDS é que manda no governo, esse ainda se safa e fez aquela fita no estádio, até que pode, aquilo é tudo dele, mas também fala bem, fala d'alto prós jornalistas e tá-se nas tintas, que mal tem pôr o pessoal da cambra nas obras dele, aquilo é um homem que faz tanto bem à terra, agora até se fala tanto no Marco, se não fosse ele ninguém sabia onde era o Marrocos de Cadavez, ai que me enganei, o Marco de Canavezes, que interessa que seja para dizer mal, bom é que se fale, toda a gente sabe, olha quem, olhós políticos todos, e os artistas, os pimbas e os da alta, o que eles querem é aparecer, porque antes era: quem é vivo aparece, mas agora é: quem aparece vive, e quem não aparece desaparece, mais vale aparecer em Copacabana que desaparecer em Felgueiras, mais vale dar porrada no campo da bola que desaparecer no Marco, mais vale aparecer na judite que desaparecer em Gondomar, a judite é a polícia, não é a outra das notícias, mas também dá jeito estar com essa Judite da TV, até dá menos maçada, até o Madail falou à hora das notícias a dezer que ia pó estrangeiro mas não ia fugir, esperto é ele, e isto acontece tudo à beira do 25 de Abril, não foi para isto que nós fizemos o 25 de Abril, nós fizémezio para botar o voto no major das batatas e na Fátima de Copacabana e no Torres trauliteiro, que é bem melhor que o Torres Olho Vivo, ainda bem que não são de família, ai credo, aquele lá de Lisboa a complicar a TV e a fazer citações, a gente não gosta nada disso, queremos é o Torres do Marco e queremos que ele e os outros apareçam na TV e a gente aparece por trás deles, somos o pano de fundo do major, somos o boné, somos o coro, somos os das bandeirolas em Felgueiras, os que invadimos o campo do Marco, queremos mais futebol, mais conversa da bola na TV, por cada jogo um milhão de palavras, por cada fora o árbitro! mil minutos nos telejornais e não só porque ainda bem que há privadas, assim há mais tempo para falar da bola, falar da bola, falar da bola, é ou não é bom?, vou dizer outra vez, falar da bola, falar da bola, falar da bola, ai que bom, gostei tanto, viva a TV, viva a política da bola, o vice do major na cambra também esteve dentro por causa da bola, o Santana também já foi presidente do clube dos queques e também fala na TV, fala na TV, fala na TV, e tanto fala da bola como da política como dele mesmo, é mais dele mesmo que ele fala sempre, e também há o outro que fala da bola, fala da bola, fala da bola na TV, o Seara, também é presidente da cambra, da de Sintra, ainda bem que é Sintra com S, que não é com C como aquele que também só escreve da TV, só escreve da TV, só escreve da TV, tudo isto é fado, Portugal é Madail, Portugal é Valentim, Portugal são Fátimas, Portugal é Marco de cada vez, Portugal é bola, vejem os anúncios cos senhores do governo mandaram fazer pó Euro, é tudo estádios, até as paisages, que pena não haver fadistas na política, só o Almeida Santos, porque padres até já há, mas só o padre Borga canta na TV, canta na TV, canta na TV, assim com o fado os efes já ficavam juntos na TV com a política, que é como devia ser, ele é futebol, ele é Fátima aqui como sinédoque para religião, mas isso não interessa nada, é Fátima porque começa por F e religião começa por R como evolução e Fátima não se pode confundir neste caso com Felgueiras só se vocês quiserem, e o outro F é o do fado, que é o nosso destino, e então política escreve-se com F e televisão também, são os cinco efes, ai a santa televisão, se não fosse ela, como é que nós havíamos de ver isto, agora é que sim, o nosso país real está todo na televisão, a Fátima que chora, o Torres que bate, o major que grita, queremos mais, mais realidade, abaixo o Camilo, abaixo o Eça, abaixo a eleição perdida do Conde de Ficalho, aqui todos ganham eleições, abaixo a ficção toda, viva a televisão, viva a reality, viva a Fátima, viva o Torres, viva o major, viva a televisão, o longo braço da sociedade.