Eduardo Cintra Torres

Cenários de Guerra


A decisão de Paulo Portas em condecorar os militares que comentaram a guerra do Iraque na televisão é tão ridícula quanto o protesto do deputado do PS Manuel Alegre pela presença desses militares nos estúdios com as suas fardas.

Ao fim de décadas no aparelho de Estado, Alegre deveria conhecer alguma coisa do protocolo. Os militares estavam ali em serviço, nomeados pelos seus superiores, pelo que a farda fazia tanto sentido como a do general Tommy Franks quando falava aos jornalistas no estado-maior do Qatar.

O ridículo da posição de Manuel Alegre não resultou de aversão às fardas e tem uma tintura política, pois ninguém se lembra de ele lamentar que houvesse militares fardados nos estúdios aquando do colapso da Ponte de Castelo de Paiva - e houve vários. Alegre na altura não protestou junto do ministro da Defesa, seu camarada.

Entretanto, Portas perdeu a tramontana com as condecorações. Quando ouvi a notícia nem queria acreditar: militares condecorados por "fazerem a guerra" na televisão?! Só passa na cabeça de um ministro para quem o supra-sumo da política seja a presença nos "media". Para Portas - ele mesmo sob fogo dos "media" por causa do caso Moderna -, os comentadores militares "ganharam a guerra" do Iraque por se terem safado com elogios generalizados, aliás merecidos. Portas colou-se ao êxito dos militares comentadores.

Por este andar, as Forças Armadas portuguesas não precisarão de submarinos nem de carros de combate. Bastará que o ministro da Defesa, à semelhança do Manchester United, contrate Giorgio Armani para desenhar novas fardas para a tropa. Resolve o problema do orçamento e abre novas janelas de oportunidade em caso de mandar os nossos militares para novos cenários de guerra... isto é, os cenários dos telejornais.