Eduardo Cintra Torres

And The Olho Vivo Goes To...


E portantos prontos! Acabou o ano mais longo e chegou o momento de atribuir, pela quarta vez, os grandes prémios do Olho Vivo para a TV nacional. Ei-los, então, os Globos Oculares de 2002!

Prémio Melhores Actores Televisivos de 2002, ex-aequo: para Carvalho da Silva, da CGTP, nos papéis de porta-voz, motorista de jornalistas, homem sem sono (só dormiu 2h30, segundo a TVI) e aritmético: por ter conseguido que as TVs fizessem de um dia sem carros eléctricos uma greve geral com 87% de adesão! E para Paulo Portas, pelo seu desempenho na série melodramática Pós-Moderna, que, como o Olho Vivo previu, acabou com a sua ida ao Jornal Nacional da TVI!

Prémio Meu Deus Ao Que Cheguei: para Herman José. Pelo seu Herman SICK.

Prémio Cambalacho 2002: para o PREC armado na RTP por Emídio Rangel, António Borga, José Fragoso, José Alberto Carvalho, Helena Forjaz, etc. Conseguiram criar uma confusão maior que a de Hugo Chavez na Venezuela. Mas dentro do mesmo género.

Prémio Jornalismo Negro: para as estações generalistas pelo estardalhaço em torno do parto de seis gémeos, como se fosse mais uma revista do Parque Mayer. Quando morreu o último dos seis, meteram o rabo entre as pernas.

Prémio Pior Momento do Ano: para os canais generalistas pelos 21 minutos de directo (25 na RTP1) ocupados por uma coisa chamada Gilberto Madail na mais inacreditável conferência de imprensa televisiva de que há memória no mundo em décadas.

Prémio Queriam a Taça, Não Era? Para o «jornalismo» de expectativas da TV portuguesa no Mundial 2002. Em vez de informarem, andaram na palhaçada a alimentar sonhos inventados por dirigentes desportivos e políticos. Razão tinha Figo, o Grande, que antes do Mundial avisou que andavam a pôr a fasquia alta.

Prémio Já Não se Aguenta: o tempo dado pelos telejornais generalistas à falsa informação futebolítica (divórcios, jantares, treinos, etc) continua a atingir o limite máximo do subdesenvolvimento jornalístico. Zénite: a reportagem do Jornal Nacional da TVI (já em Janeiro, mas não faz mal) sobre o herpes labial de Mantorras (?!), em que o texto sobre o herpes era ilustrado com imagens de jogos de futebol!

Prémio Dupond & Dupont: para Santana Lopes e José Sócrates, que gerem como gémeos a borla que a RTP1 lhes vai dando; dirigentes do Bloco Central e eternos candidatos a mais qualquer coisa, são porém apresentados como «comentadores». O tratamento preferencial pela RTP desrespeita outras forças partidárias parlamentares.

Prémio O que Interessa É Aparecer: além de Santana Lopes, que entra em depressão se passa um dia sem aparecer na TV, o outro político tele-dependente é Francisco Louçã, autêntico Francisco Écrã: só faz a política que lhe permita aparecer na TV. Com bons resultados nas sondagens... até agora.

Prémio Mais Mentira é Impossível: para Vidas Reais, da TVI, que começa a ser mentira logo no nome. É tudo montado. Nunca o Mal foi tão genial: monta-se uma ficção como se tudo fosse verdadeiro (as estórias, os actores amadores, etc). A TV aqui dá cartas às outras artes & entretenimentos: ninguém finge como ela!

Prémio Volta Estás Perdoado: para Henrique Garcia, no Jornal Nacional da TVI. Manuela Moura Guedes anda a exceder-se nos à-partes irresponsáveis e populistas e os outros apresentadores ainda estão verdes.

Prémio Fica para 2003: para o ministro Morais Sarmento, por não ter incluído nas Novas Opções para o Audiovisual a extinção da RTP África, a extinção da Antena 3 (a música portuguesa pode passar para a Antena 1); e para a RTP, por não ter ainda criado o Provedor do Espectador.

Prémio Quem Havia de Dizer: para a SIC, por ter chegado ao fim de 2002 com mais 0,1 por cento de share que a TVI. É um prémio de consolação por ter perdido prime-time, Catarina, Gisela...

Pior Série de Ficção do Ano 2002: «Um Estranho em Casa», RTP1, um argumento de Isabel Medina que foi aprovado para produção por Isabel Medina.

Pior Programa do Ano 2002: Gregos & Troianos, RTP1. Um programa de entretenimento lumpen-fascistóide e pseudo-informativo como nunca se tinha visto numa estação de «serviço público».

Prémio na Categoria dos Programas Infantis: para a telenovela Anjo Selvagem, que já vai fazer dois aninhos. A TVI e a NBP descobriram que os pais vêem os programas que os filhos escolhem e puseram a fábrica a vomitar chouriços com muita farinha e pouca carne. Parabéns! Mas... não podia alguém chamar a fiscalização económica?

Prémio Fábrica de Pesadelos: tal como no ano passado, o Olho Vivo sugere os títulos para as próximas novelas da TVI. Assim, em vez de (ou além de) Anjo Selvagem, Amanhecer, Tudo por Amor e Sonhos Traídos, poderíamos ter em antena: «Sonhos Selvagens», «Amanhecer Traído» e «Anjo com Todos». Ou então: «Sonhos ao Amanhecer», «Traídos por Amor» e «Tudo Selvagem». Ou ainda: «Amanhecer Selvagem», «Sonhos de Anjo» e «Amor, Estou por Tudo».

E agora os Prémios Bons, que já se faz tarde! Melhores Reposições do Ano: Sax Azul (concertos de jazz organizados por Duarte Mendonça); Palavras Ditas, de Mário Viegas e Nuno Teixeira (RTP2), programa de 1984.

Melhores campanhas informativas do ano: maré negra e pedofilia/Casa Pia, para os três canais generalistas.

Melhores séries estrangeiras: Six Feet Under, Simpsons (RTP2), Palmeiras Bravias (SIC Radical).

Melhor programa de entretenimento: Cabaret da Coxa (SIC Radical).

Melhor animador televisivo: Rui Unas (SIC Radical). Melhores magazines de informação: Tempo & Traço (SIC Notícias), Planeta Azul e, como sempre, Bombordo (RTP).

Melhor série documental: Século Português (SIC/N). Melhores séries de ficção: O Processo dos Távoras (RTP1) e Jóia de África (TVI).

Melhores programas de informação: Por Outro Lado (RTP2), Hora Extra (SIC/N), Conversa Afiada (SIC/N).

Melhor Canal do Ano: SIC Notícias, por sobreviver com tanto nível.

Melhor Repórter do Ano: Pedro Coelho, da SIC. Por provar aos colegas de todos os canais que é possível fazer a melhor informação televisiva limitando-se a informar, a entrevistar, dando mais do que um ponto de vista, fazendo as intervenções com rigor formal e sem tentar trocadilhos nem ser engraçudo.

Melhor comentador: Marcelo Rebelo de Sousa, TVI. O prestígio que alcançou corresponde à qualidade da sua análise e à capacidade de a comunicar. Se uma ou outra vez se afastou da excelência comunicativa foi porque os seus interlocutores não exerceram a tarefa de jornalistas-entrevistadores.