Eduardo Cintra Torres

And The Olho Vivo Goes To...


O ano de 2001 chega ao fim com os três maiores operadores (RTP, SIC e TVI) nas lonas e com muitas empresas de produção de TV sem encomendas ou mesmo a fechar as portas. O estado da economia explica muito. Mas também se encontram motivos para a crise televisiva na competição selvagem em que andaram os dois canais privados. Na gestão criminosa do passado que ainda não permitiu à TVI uma situação folgada. Nas encomendas à fartazana que Emídio Rangel fez na SIC, antes de sair, de programas que ficaram na gaveta. Na política ruinosa que o Governo Guterres e Arons aplicaram na RTP durante seis anos. Na irracionalidade da política de conteúdos da PT.

Mas basta de tristezas! É fim do ano, período de reflexão e de eleições! O Olho Vivo reflectiu e... votou! Pela terceira vez, o Olho Vivo atribui os seus Globos Oculares! And the Olho Vivo goes to...

Grande Prémio de Jornalismo Olho Vivo 2001: para a SIC e para a TVI pelas reportagens de cobertura jornalística - em directo nos telejornais - da inauguração oficial da nova película facial de Lili Caneças.

Grande Prémio Programa de Ficção Olho Vivo 2001: para os programas "O Anel de Marta", "A Jóia de Célia" (TVI), O Anel de Catarina e O Beijo de António (em todos os canais). Se nos dois primeiros se revelou a possibilidade de fazer programas de várias horas em directo a propósito de nada, nos dois últimos revelou-se a capacidade da União Nacional Rosa em organizar eventos mediáticos esplendorosos. Foi notável como um acto privado pareceu ser privado sendo feito público (O Anel de Catarina) e mais notável ainda foi a montagem mediática perfeita do momento triunfal d'O Beijo de António a Catarina no congresso.

Prémio Melhor Canal do Ano: para o NTV de Carlos Magno, Fernando Gomes, PT Multimédia e RTP. Chegar a este resultado ao fim de ano e meio é obra, é difícil em qualquer parte do mundo!

Prémio Segundo Melhor Canal do Ano: para o Canal Parlamento. O Olho Vivo não esquece como, do alto da sua cátedra retórica (que certamente esconde muita coisa, muita actividade), o presidente da Assembleia da República admoestou um artigo aqui publicado de crítica a tão importante obra mediática do nosso hemiciclo. Pois o Olho Vivo redime-se: as promessas de Almeida Santos cumpriram-se! O Canal Parlamento está melhor que nunca! Viva o Parlamento que temos! Viva o Canal Parlamento que todos vemos!

Prémio Terceiro Melhor Canal do Ano: para o canal Canção Nova. Esta exportação religiosa brasileira de terço bizantino e samba-lelé mariano teve a bênção nacional (e teimosa) do bispo de Leiria-Fátima, começando a agradar aos católicos nacionais que também gostam de aparecer.

Prémio Alta Cultura 2001: para a coroação oficial do Acontece (RTP, 1 e 2!) com Soares Pai & Filho em vésperas de eleições autárquicas, com ministros, secretários, adjuntos e figuras institucionais da Cultura e da Cóltura. Uma prova indesmentível da vitalidade, do vigor, da força, do dinamismo, da energia, do entusiasmo, do vitalismo e da fortaleza ("Dicionário de Sinónimos", p. 1214) da Cóltura portuguesa.

Prémio Conteúdos 2001: para a PT Multimédia. A empresa mais rica do sector transformou em ouro cada um dos escudos que investiu em canais (NTV, por exemplo), programas, séries, multimédia educativo, etc., etc., etc.

Prémio Melhor Reality-Show de 2001: "ex aequo" para diversos candidatos: O Velho Leão da SIC (o drama, os plenários, as demissões, as traições, as tiradas...); Atrás do Bar da TV (a tragédia, a Margarida e sua mãe, a criança raptada, o vibrador sexual, a expulsão de Ediberto da "casa"...); O Casamento do Ano (o pano preto, o "flash-back" na América Latina, o exclusivo das fotos, a figura jurídica das bodas de facto...); A Transferência do Ano (as jogadas, o lamber das feridas, a mudança súbita de discurso, o pagamento do passe, as negociações com o "mistér"...)

Prémio Melhor Reality-Show de 2001 (extraconcurso): para o Subtil Show, na RTP1, um exclusivo da televisão do Estado - com armas, gritos e lágrimas, polícias, jornalistas e multidão -, a que os outros operadores, invejosos, se colaram, a reboque, fazendo grandes entrevistas em directo ao sr. Subtil.

Prémio Industrial Modelo T de 2001: para a produção em série de telenovelas pelas fábricas de materiais de António Parente para a TVI. Os produtos estão iguais, indistinguíveis, o que prova que a linha de fabrico está a funcionar sem falhas, impecavelmente! Nunca Digas Adeus, Anjo Selvagem e Filha do Mar, quais as diferenças? Podiam chamar-se Filha do Anjo, Nunca Digas Selvagem e Adeus, Mar. Ou então: Nunca Digas Anjo, Mar Selvagem e Adeus, Filha.

Prémio Não Há Amor como o Primeiro: para o Big Brother III. À terceira é demasiado ridículo. Dá saudades do primeiro, com todo o fervor e ódio que motivou. Que saudades de um bom pontapé! Que saudades de uma boa polémica sobre a televisão! Não podiam voltar a fazer um BB com os mesmos todos, com o Ricky e a Riquita e tudo? Do III, até as galinhas fizeram desaparecer! "The bastards!"

Prémio Ainda Bem que a TV Ainda Não Tem Cheiro: para o programa Mulher Não Entra, em que actuou um tal Mr. Methano, inglês vestido de super-herói que ganha a vida a dar traques: apagou velas e tocou o "Danúbio Azul" com os ventos do rabo - assim simbolizando com rara felicidade a programação da televisão portuguesa em 2001!

A Pergunta do Ano: de uma jornalista da RTP a Jorge Há-dem Coelho no momento da sua derrota eleitoral e da demissão de Guterres: "O que é que sente?"

E agora uns prémios a sério, que o tempo urge! Melhor programa português de 2001: Por Outro Lado, de Ana Sousa Dias (RTP2).

Melhor conjunto de programas de informação: directos de Entre-os-Rios, trasladação de Amália para o Panteão e noite eleitoral das autárquicas de 16 de Dezembro (RTP, SIC e TVI) e abertura do Porto 2001 (RTP). Jornal Nacional com Henrique Garcia (TVI).

Melhor projecto para TV por cabo: SIC Radical. Ficção nacional: a ficção permanece o calcanhar de Aquiles da televisão portuguesa. A série mais mediana foi A Febre do Ouro Negro (RTP). Nas telenovelas, destacou-se Olhos de Água (TVI). A SIC manteve o esforço de produção de telefilmes, mas sem criar habituação na audiência.

Ficção estrangeira: as três melhores séries deste ano foram, "ex aequo", The Sopranos (primeira temporada), The Sopranos (segunda temporada) e The Sopranos (terceira temporada, ainda em exibição na RTP2). Outras séries de grande ou enorme qualidade: Band of Brothers (SIC), Les Misérables (RTP2), Balzac (RTP2), The Royle Family (RTP2), ER/Serviço de Urgência (RTP1), Third Watch/Turnos de Risco (RTP1), Futurama (RTP2) e South Park (SIC Radical).