Beethoven e Schubert

Almas Extraordinárias
Duas sinfonias, dois grandes compositores. Ludwig van Beethoven e Franz Schubert têm em comum a genialidade artística, a relação problemática com a figura paternal e o insucesso no amor.


Ludwig van Beethoven revolucionou a composição sinfónica, tal como cada género musical a que se dedicou. É, sem dúvida, um dos génios mais importantes da história da música e o volume 22 da Colecção Royal Philharmonic apresenta uma das suas grandes sinfonias, a Quinta, juntamente com a Sinfonia nº 8 em Si Menor de Franz Schubert, onde a influência do músico alemão é visível. Ambos se interessaram desde cedo pela música. Nascido em Bona (Alemanha), Beethoven era filho e neto de músicos, pelo que iniciou os seus estudos ainda criança. Teve vários mestres - o tenor Tobias Pfeiffer, o violinista Rovantini, os professores Aegidius van den Eeden e Christian Gottlob Neefe. Por sua vez, o austríaco Schubert também pertencia a uma família vocacionada para a música. Começou a estudá-la com os seus irmãos Ignaz e Ferdinand, mas rapidamente o seu primeiro professor descobriu que não sabia mais o que lhe ensinar. Aos dez anos entrou para a escola da Capela Imperial e Real de Viena e, três anos depois, já tinha composto vários quartetos de corda e sinfonias.

Mas Beethoven e Schubert não partilham apenas a vocação para esta arte. Também a figura paternal
marca negativamente a vida dos dois compositores. No caso de Beethoven, o pai era viciado no álcool e procurou explorar o talento musical do filho.
Por isso, era frequente Beethoven fugir de casa e refugiar-se junto de amigos. Em 1787, quando a sua mãe morreu, saiu definitivamente de casa do pai e, aos 19 anos, assumiu a responsabilidade de educar os irmãos.
Quanto a Schubert, o pai obrigou-o a ser professor, adiando a sua dedicação total à música. Após a morte da sua mãe, expulsou-o de casa devido à sua desobediência e Schubert acabou por ceder, integrando a Escola Normal de Santanna, onde se tornou professor. Mas a música era a sua prioridade e continuava a compor. Em 1817, abandonou a carreira que o pai lhe impôs e
seguiu a sua verdadeira paixão.


Um triunfo final
Segundo Beethoven, a Sinfonia Nº 5 em Dó Menor começa da mesma forma que quando “o destino nos bate à porta”. O chamamento inicial marca
toda a composição e um discípulo do músico, Czerny, conta que é inspirado no canto de um verdilhão. Os seus primeiros esboços foram feitos em 1803, mas a sinfonia foi escrita sobretudo a
partir de 1805.
É considerada uma obra nuclear na carreira de Beethoven pelo seu valor artístico e pelo recurso a esquemas compositivos revolucionários. A sua
estreia aconteceu a 22 de Dezembro de 1808, no mesmo concerto de a Sexta Sinfonia (a Pastoral) — as duas obras foram produzidas ao mesmo tempo e
partilham a dedicatória ao príncipe Lobkowitz e ao conde Razumovski.
Na Quinta Sinfonia, o tema do primeiro andamento — um padrão de quatro notas — atravessa a composição desde o Andante ao último Allegro
e várias sensações sobressaem: uma força épica, uma profunda melancolia, uma luta titânica e um triunfo final. Para o compositor e musicólogo Eduardo Rincón, o encadeamento da obra é “perfeito” e os quatro andamentos tornam-se quase inseparáveis.
A criação desta sinfonia coincide com a separação da condessa Giulietta Guicciardi, que era comprometida. Este foi apenas um dos seus insucessos amorosos, pois outras condessas
rejeitaram-no e Beethoven, apesar de apreciado pela elite, não era aceite como seu membro. Também Schubert sofreu com o mesmo mal. Na época, os compositores eram vistos como
criados e a paixão pelas mulheres de classes sociais altas dificilmente era correspondida.
No primeiro andamento da Sinfonia
Nº 8 em Si Menor, Schubert recupera o tema principal da Quinta Sinfonia de Beethoven através de um pequeno motivo rítmico produzido pelas cordas graves em pizzicato. E combina uma melodia alegre com traços de tristeza, compondo uma
sinfonia com “um valor dramático (...) extraordinário”, na opinião de Rincón.
O compositor começou a escrever esta obra a 30 de Outubro de 1822 e terminou os dois andamentos ainda nesse ano. O motivo pelo qual a deixou
incompleta permanece um mistério (apesar de inúmeras teorias), mas sabe-se que tentou concluí-la e não é a única entre as suas obras — também a Sétima Sinfonia é um projecto
interrompido, com 110 compassos
orquestrados.
Dedicada à Sociedade Musical de Graz, a Oitava estreou-se apenas em 1865, quase quatro décadas depois da morte do seu autor. No entanto, retrata o estilo genial de Schubert e é reconhecida como uma das suas mais brilhantes composições.

 




 

 

 

PRÓXIMO COMPOSITOR

Hector Berlioz

Na opinião do musicólogo Eduardo Rincón, Berlioz foi "um vendaval que percorreu a música francesa", cuja força é apenas comparável ao poeta, escritor e pintor Victor Hugo. Filho de um médico, Hector Berlioz nasceu na pequena localidade de La Côte-Saint-André (França) em 1803 e, influenciado pelo pai, foi estudar Medicina para Paris em 1821. Mas um ano depois optou por dedicar-se à música e os seus mestres foram Le Seur e Reicha. Compôs uma das suas primeiras obras, a Missa Solene, em 1824 e a estreia foi paga por ele próprio. Três anos mais tarde, viu pela primeira vez Harriet Smithson, que interpretava Ofélia numa adaptação de Hamlet no Teatro Òdeon. Apaixonado por Shakespeare, encontrou na actriz a sua musa inspiradora e criou a Sinfonia Fantástica para homenageá-la. Casaram-se em 1833, mas a separação foi inevitável. A cantora Maria Recio tornouse amante de Berlioz a partir de 1841 e acompanhou-o nas suas viagens pela Europa, enquanto o compositor apresentava as suas obras na Alemanha, Grã-Bretanha, Áustria e Rússia. Apesar do sucesso internacional, era esquecido em França e, para sobreviver, tinha de trabalhar como crítico musical. O reconhecimento público regressou nos últimos anos da sua vida, quando já estava doente. Morreu a 8 de Março de 1869 na capital francesa.