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Achille-Claude Debussy
O
preço da verdade
Debussy foi um dos mais importantes compositores franceses de sempre,
quebrou convenções e recusou os espartilhos do academismo.
Tinha um lema: nunca estar de bem com Deus e com o Diabo.
O professor e pianista francês Antoine Marmontel dizia sobre Achille-Claude
Debussy: "Creio que não ama o piano, mas ama muito a música." Numa altura
em que o academismo era a regra dominante, Debussy desafiava os tempos
e não se deixava submeter a fórmulas ou convenções. "O prazer é a única
coisa fundamental na música", defendia o compositor francês, cuja obra
pode ser conhecida amanhã no volume 11 da Colecção Royal Philharmonic
do PÚBLICO.
Debussy nasceu em 1863, em Saint- German-en-Laye, na França. Ainda criança
conhece a senhora Fleurville, uma excelente pianista que estudou com Chopin
e o influencia a seguir os estudos de música. Mais tarde, ingressa no
Conservatório de Paris e aqui tem aulas com Marmontel e Albert Lavignac.
O seu carácter rebelde - considerava arbitrários os velhos clichés da
harmonia clássica - leva-o a não se adaptar às exigências do conservatório.
Apesar de incompreendido e contestado, ganha em 1884 o prestigiado Prémio
Roma com a obra "L'Enfant Prodigue". Surpresa das surpresas, recebe a
notícia com algum desalento: "Quando me disseram que tinha ganho, a minha
alegria esfumou-se e vi todos os problemas que acarreta sempre um título
oficial. Além disso, senti que tinha deixado de ser livre." Obrigado a
partir para Itália, não se adapta a Roma e quase deixa de compor.
Em 1887, regressa finalmente a Paris. "A Primavera", obra inspirada
na pintura de Botticelli, é a sua primeira criação já na capital francesa.
Mais uma vez, o músico suscita duras críticas, neste caso pronunciadas
pela Academia de Belas-Artes: "O senhor Debussy não peca por ser vulgar
ou banal. Pelo contrário, temos de reconhecer nele um sentimento musical
cujo exagero o faz esquecer a importância da precisão da forma. Seria
desejável que se resguardasse deste vago impressionismo que é um dos mais
perigosos inimigos da verdade nas obras de arte." Debussy não se deixou
abater pelos comentários e continuou a produzir com afinco.~
14 criações num só volume
Se nas primeiras obras de Debussy ainda se pressente os cânones académicos,
todas as restantes criações parecem nascer do desejo de quebrar convenções
e tornar os acordes mais complicados, inesperados e expressivos. Os dois
"Arabesques" que integram o volume 11 da Colecção Royal Philharmonic são
um bom exemplo das obras de juventude do compositor francês. Já "Claire
de Lune", apesar de ser uma obra da primeira fase de Debussy, demonstra
um amadurecimento do seu estilo pessoal. "Hommage a Rameau", "Voiles",
"La Cathédral Engloutie" ou "Le Petit Berger" são outros títulos presentes
nesta edição e cuja complexidade permite atestar o verdadeiro génio de
Debussy.
O legado e os ensinamentos de Wagner, Fauré e, sobretudo, Bach parecem
ser determinantes na música de Debussy, mas nunca o impediram de se reinventar.
Essa parece ser, aliás, a maior prova do seu talento. "Trabalhei sempre
para ser um grande artista, atrevime a ser eu próprio e a sofrer para
defender a minha verdade. (...) Se um dia não suscitar mais querelas,
irei lamentá-lo amargamente, pois nessas últimas obras dominará possivelmente
a hipocrisia que me terá permitido estar de bem com todos." O compositor
francês morreu em 1918, em Paris.
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PRÓXIMO
COMPOSITOR |
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JOSEPH
HAYDN
Contemporâneo de Mozart e professor de Beethoven, Joseph Haydn
foi sobretudo um autodidacta. Nasceu em 1732, em Rohrau, uma pequena
vila da Áustria. Filho de Mathias Haydn, carpinteiro de carros,
e Anna Maria Koller, cozinheira, teve as suas primeiras aulas de
educação musical com os padres da Catedral de Santo Estevão. Foi,
no entanto, a sua curiosidade que o levou a aprofundar os conhecimentos
sobre música. Em 1760, entra ao serviço dos príncipes Esterhazy,
onde assume as funções de director musical entre 1766 e 1790. Poucos
anos mais tarde, Salomon, director dos concertos de Hannover Square,
chama-o a Londres como director de concertos. A carreira de Haydn
coincidiu com o desenvolvimento de formas clássicas como a sinfonia,
a sonata, o quarteto de cordas e outras formas instrumentais. Morreu
em 1809, em Viena, logo após os soldados de Napoleão entrarem novamente
na cidade. Na próxima semana, o PÚBLICO dedica-lhe dois volumes.
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