Piotr Ilich Tchaikovsky

Tchaikovsky foi o mais importante sinfonista russo da sua geração e um apaixonado pelo teatro e pela dança. Pós-romântico e incompreendido, nunca conseguiu viver um “amor completo” e foi acusado de gostar mais da música alemã do que da russa

“Sinfonia Patética” é um “enigma”, no qual o mais importante compositor russo da sua geração, Piotr Ilich Tchaikovsky, afirmou ter posto “toda a alma”. Escrita num tempo recorde — em menos de um ano —, a sinfonia teve a sua estreia em 1893, em São Petersburgo, e é uma das criações mais populares do sinfonista. Esta obra e a divertida “Marcha Eslava” são as duas composições seleccionadas para o segundo volume, dedicado a Tchaikovsky, que será editado amanhã pela Colecção Royal Philharmonic do PÚBLICO.

Uma oportunidade única para, após a edição hoje do primeiro volume sobre os célebres bailados “O Quebra-Nozes” e “O Lago dos Cisnes”, descobrir o valor dramático das sinfonias assinadas pelo compositor pós-romântico, cuja estética e gostos estão mais próximos do romantismo. O mestre russo Igor Stravinsky considerava-o um músico “com ideias e ofício” e uma “grande segurança na exposição”.

Filho de um engenheiro de minas russo e de uma descendente francesa de uma família imigrada, Tchaikovsky nasceu em 1840 na pequena cidade de Votkinsk, na Rússia. Após completar os estudos de Direito em 1859, começou a trabalhar no Ministério da Justiça. Dois anos mais tarde, viajou pela Alemanha, Bélgica e França e, no ano seguinte, decidiu ingressar no recém-fundado Conservatório de S. Petersburgo, a primeira escola de música oficial da Rússia. Aqui, foi dirigido por Rubinstein, que lhe ensinou orquestração, e teve aulas de composição com Zaremba. A flauta, o órgão e o piano eram os seus instrumentos preferidos.

Tchaikovsky, que era um admirador de Mozart, Bach e Beethoven, tinha ainda um grande respeito pelo trabalho de músicos que se dedicavam ao teatro, como é o caso de Meyerbeer, Weber ou Schumann. Liszt é, no entanto, aquele que tem um papel mais determinante na escrita de Tchaikovsky, cujas primeiras sinfonias foram claramente influenciadas pelo estilo do mestre húngaro.

Em 1866, o sinfonista russo obteve o cargo de professor de harmonia no conservatório de Moscovo, onde permaneceu durante 11 anos. Foi durante este período que entrou em contacto (e também em confronto) com o “Grupo dos Cinco”, que se forma por oposição à influência da música germânica na Rússia. Fazem parte deste movimento nacionalista os russos Rimski Korsakov, Balakirev, Mussorgski, César Cui e Borodin. No mesmo ano, começou a compor “Sinfonia n.º 1”, que lhe causou uma grande angústia, como confessou numa carta ao seu irmão: “Sinto que a minha escrita não progride (…) Odeio a humanidade e só desejo ir viver para um sítio onde possa estar completamente sozinho.” Após um estado de depressão profunda, compõe a ópera “O Voivoda”, a primeira obra que apresentou em Moscovo. A crítica reconheceu-lhe o esforço, mas o “Grupo dos Cinco” acusou-o de se afastar do espírito russo e de se deixar influenciar pela música alemã.

Longe da felicidade Incompreendido, Tchaikovsky rompeu com o “Grupo dos Cinco” e estreitou relações com músicos de outros países europeus como os franceses Saint-Saens ou Bizet. Foi, então, que começou a fascinar- se pelo universo musical do teatro e da dança, dedicando-lhe uma boa parte do seu tempo: ao todo, compôs dez óperas e inúmeros “ballets”. “É preciso compor da mesma forma que os sapateiros fazem... trabalhando todos os dias e normalmente por encomenda”, dizia Tchaikovsky.

Depois de uma série de relações amorosas com um desfecho pouco feliz — há quem acredite que Tchaikovsky era homossexual, mas não o assumia nem para si próprio —, em 1876 o músico inicia uma ligação platónica com Nadejda von Meck, viúva de Karl Georg-Otto von Meck, o proprietário e responsável pela construção das duas primeiras ferrovias russas. Impressionada com a música de Tchaikovsky, Nadejda von Meck tornou-se protectora do compositor, dando-lhe uma pensão anual que lhe permitia viver sem preocupações monetárias. A relação era invulgar: combinaram que nunca se deveriam encontrar e comunicavam apenas por cartas. E é exactamente numa delas que Tchaikovsky revela a sua visão do amor: “Se me perguntar se alguma vez experimentei a felicidade de um amor completo, a minha resposta é não. Mas se me perguntar se sou capaz de compreender a força imensa do amor, eu lhe direi que sim, sim e sim!”

“Romeu e Julieta”, “Fatum”, “Francesca de Rimini” e alguns outros poemas sinfónicos assinados pelo compositor russo são considerados obras magistrais. Quanto aos “ballets”, “O Lago dos Cisnes”, “O Quebra-Nozes” e “A Bela Adormecida” encontram-se entre alguns dos seus maiores êxitos. Morreu em S. Petersburgo, em 1893.

PRÓXIMO COMPOSITOR

Antonín Dvorák

É um dos nomes mais importantes do nacionalismo musical checo por ir buscar referências às melodias populares da sua região. Nas composições de Antonín Dvorák (1841-1904) sente-se ainda o desejo de alcançar uma linguagem romântica próxima da de Brahms e Wagner, sem esquecer a riqueza temática. Foi um mestre na criação de músicas alegres e um homem viajado e reconhecido mundialmente — chegou a ser director do Conservatório de Nova Iorque durante três anos. Logo em criança, Dvorák evidenciou mais talento para tocar órgão do que para o ofício de talhante, tal como desejava o seu pai, um humilde comerciante de uma aldeia perto de Praga. Para aprofundar os seus conhecimentos artísticos sem causar despesas, trabalhou como violinista numa cervejaria da sua cidade-natal e contactou de perto com a música folclórica do seu país. Em 1862, conseguiu um lugar como violinista na Orquestra Nacional de Praga e a vontade de evoluir como compositor levaram-no até Viena, onde conheceu o músico Johannes Brahms, que o ajudou e o recomendou ao seu editor. Foi neste período que Dvorák publicou algumas das suas sinfonias — as duas primeiras datam de 1865 — e as “Danças Eslavas”. A sua maior paixão, a ópera, foi também o estilo musical onde o artista conservou com maior pureza a veia nacionalista (realçada pelo uso da palavra). De entre os 11 trabalhos que compôs neste género, o mais conhecido é “Rusalka”, criado já perto do final da vida, em 1900. No seu catálogo musical destacam-se ainda “Requiem”; alguns poemas sinfónicos como “Ondina”, “A Roca de Ouro”, “A Pomba” e “Carnaval”; o Concerto para violoncelo e orquestra; e alguns quartetos de cordas. Em 1892, numa época em que alguns dos mais prestigiados talentos europeus eram solicitados para colaborar no ensino e no desenvolvimento cultural norte-americano, Dvorák foi convidado para dirigir o Conservatório Nacional de Nova Iorque. Nesse período longe de casa, acabou por criar aquele que é o seu trabalho mais admirado: a nona sinfonia, conhecida como “Sinfonia do Novo Mundo”. Sobre esta obra, estreada em 1893 no Carnegie Hall, Dvorák dissertou: “Apenas me quis moldar aos temas e particularidades da música negra e dos peles vermelhas e, recorrendo a estes aspectos como assunto de partida, desenvolvi- os por meio dos recursos naturais do ritmo, do contraponto, do timbre orquestral e da harmonia actual.”