Pioneirismo romântico

Incompreendido em vida, Franz Peter Schubert é considerado um dos maiores compositores do século XIX, marcando a passagem do estilo clássico para o romântico. Nascido num subúrbio de Viena, em 1797, começou a aprender música através dos ensinamentos do seu pai e de Ignaz, o seu irmão mais velho (que lhe deu a conhecer a técnica do pianoforte). Com apenas sete anos, Schubert parecia estar já avançado em relação aos conhecimentos musicais dos seus primeiros “professores”.

A primeira oportunidade surgiu na área do canto, ao vencer um concurso para jovens coristas. Tinha apenas dez anos, mas recebeu os mais rasgados elogios do compositor Antonio Salieri. Contudo, a voz de soprano acabaria por mudar com a adolescência.

Em 1810, Schubert escreveu a primeira das suas obras, ainda que já tivesse composto outras que não chegaram até nós — a sua precocidade é comparável à de Mozart, Beethoven ou Haydn. O seu interesse pela música de câmara esteve relacionado com o grupo musical com quem costumava tocar nas férias: os seus irmãos ao violino, o seu pai no violoncelo e Schubert na viola. Na troca de correspondência com o seu irmão Fernando, confessava que a parte do violoncelo era mais fácil para o seu pai poder tocar sem problemas. É nos quartetos de cordas que Schubert exibe a sua verdadeira maturação musical. Até ao final da sua vida (morreu de febre tifóide aos 31 anos), compôs mais de 600 canções românticas, designadas pelo termo alemão “Lied”, além de sonatas, sinfonias e óperas. Destaque para os ciclos “A Bela Moleira” (1823), “Viagem ao Inferno” (1827) e “Canto do Cisne” (1828). Embora não tenha tido grande reconhecimento público em vida, viveu rodeado de amigos, que o ajudaram a enfrentar alguns problemas familiares e as dificuldades para encontrar um trabalho permanente.

O compositor húngaro Franz Liszt não hesitou em apelidá-lo de “o maior poeta dos músicos de sempre”. Muitas das suas melhores obras foram criadas a partir de poemas de Goethe. Em Quarteto para Cordas em Lá Menor, Op. 29, Schubert apresenta, no final, uma expressividade dramática que é comparada a um ruído desesperado. Tal como acontece na última sonata para piano ou em alguns dos seus últimos “Lieder”, esta obra é também um grito contra o desfecho precoce do seu destino.

OBRAS SELECCIONADAS

1 — Quinteto para Piano em Lá Maior, Op. 114, “A Truta”
2 — Quarteto para Cordas em Lá Menor, Op. 29

PRÓXIMO COMPOSITOR

Piotr Ilich Tchaikovsky

Depois de Beethoven, Wagner e Schubert, o PÚBLICO dá-lhe a conhecer na próxima semana, em dois álbuns, o génio e a obra do sinfonista russo mais importante da sua geração, Piotr Ilich Tchaikovsky. Por diversas vezes interpretado pela Royal Philharmonic Orchestra, cujo objectivo do fundador, Sir Thomas Beecham, era levar as melhores composições de sempre a cada canto do Reino Unido, Tchaikovsky foi um compositor com um percurso singular e controverso.