Franz Peter Schubert

Franz Peter Schubert (1797-1828) não pretendeu ser, tal como Beethoven, um grande revolucionário musical. Enquanto as suas primeiras obras revelam a marca dos grandes clássicos austríacos, com claras alusões ao estilo de Haydn e Mozart, os seus últimos trabalhos apontam, mesmo assim, novos caminhos que influenciaram o futuro movimento romântico. Schubert trabalhou ao sabor da liberdade e revelou o seu génio inquestionável nas canções artísticas alemãs, conhecidas como "lieder". Mais do que a aparência formal, o compositor preferia centrar-se no conteúdo melódico espontâneo.

Filho de um professor primário, Schubert sofreu alguns dissabores para escapar às imposições do pai que queria, a todo o custo, que o mais talentoso dos seus descendentes seguisse os seus passos - as discussões entre ambos nunca chegaram a resolver-se completamente. Depois de receber as suas primeiras lições de piano com o seu irmão mais velho, Ignaz, Schubert também aprendeu violino. Com apenas seis anos, o futuro compositor já tinha evoluído o suficiente para se perceber que o seu futuro estava na música.

Ainda em criança, começou a compor, mas foi no canto que sobressaiu pela primeira vez ao vencer um concurso para jovens sopranos. De 1808 a 1813, tornou-se estudante de música na capela de Konvikt, onde ganhou uma excelente reputação. Ao mudar a voz, regressou à casa dos pais, tornou-se professor primário e desenvolveu o seu talento na criação de "lieder", além de várias missas e óperas. Alguns dos seus primeiros quartetos de cordas eram para interpretar em casa, em momentos de puro lazer, ao lado do pai e de dois irmãos. Por esta altura, Schubert manteve lições de piano com o professor Ruzicka, que, após as primeiras horas de aulas, exclamou: "Já não lhe posso ensinar nada, foi Deus que lhe ensinou tudo!".

Enquanto cumpriu os seus deveres de estudante, compôs a obra "O Castelo de Prazer e do Diabo" (1813), que foi reescrita quando Schubert assistiu à ópera "Fidélio", de Beethoven. Ainda com 17 anos, criou um dos seus mais profundos trabalhos, a "Missa em Fá", que se tornou num inesperado êxito. Apesar disso, sentiu diversas dificuldades financeiras, tendo de se socorrer, em diversas ocasiões, da ajuda de amigos.

Génio incompreendido

No disco da Royal Philharmonic Orchestra, a primeira obra apresentada é o Quinteto para Piano "A Truta" com a tonalidade de Lá Maior. Logo no primeiro andamento, "Allegro vivace", os sons do violino e do violoncelo expõem um tema tranquilo e meditativo. Estreado em Steyr nos finais de 1819, este Quinteto tornou-se numa das suas obras mais belas, apesar do reconhecimento e da apreciação crítica terem surgido muito tempo depois.

O Quarteto em Lá Menor, a segunda composição incluída no disco, foi escrito em 1824 e pode dizer-se que é reveladora do seu pensamento mais íntimo. Outro aspecto a destacar neste quarteto é a utilização de temas que já tinham aparecido em obras anteriores. Dos seus quatro andamentos centrais, um deles tem um tema de "Rosamunda" (o número cinco da partitura), o outro, o "Andante", tem uma repetição do tema de "Os Deuses da Grécia" para a base do "Minueto". Este regresso ao passado é uma clara demonstração da introspecção do autor, uma tentativa de procurar nas experiências artísticas anteriores o que nos leva até aos dias de hoje. Schubert consegue atingir uma expressão dramática tão intensa que nos surpreende, como se se tratasse de um ruído desesperado.

Até ao final da sua vida compôs mais de 600 "lieder" e 130 obras para combinações vocais diferentes. Destaque para os ciclos "A Bela Moleira" (1823), "Viagem de Inverno" (1827) e "Canto do Cisne" (1828), além de valsas, danças alemãs e escocesas e sonatas para piano. Muitos destes projectos foram elaborados a partir de poemas de Goethe. Em sinal de homenagem, um dos melhores amigos de Schubert chegou a enviar algumas das suas composições ao grande poeta alemão - consta que Goethe nunca respondeu às cartas nem se sabe se alguma vez as chegou a receber.

No final do Verão de 1927, o estado de saúde do músico piorou. Após algumas suspeitas de envenenamento, foi-lhe diagnosticada febre tifóide. Quando soube que lhe restavam poucas esperanças de vida, desabafou para o irmão: "Será que não mereço um lugar na terra?" A última música que escutou (morreu aos 31 anos) foi o Quarteto em Dó sustenido menor de Beethoven, interpretado por três amigos.

Obras seleccionadas

1 - Quinteto para Piano em Lá Maior, Op. 114, "A Truta"
2 - Quarteto para Cordas em Lá Menor, Op. 29

 

 

 

PRÓXIMO COMPOSITOR

Piotr Ilich Tchaikovsky

Depois de Beethoven, Wagner e Schubert, o PÚBLICO dá-lhe a conhecer na próxima semana, em dois álbuns, o génio e a obra do sinfonista russo mais importante da sua geração, Piotr Ilich Tchaikovsky. Por diversas vezes interpretado pela Royal Philharmonic Orchestra, cujo objectivo do fundador, Sir Thomas Beecham, era levar as melhores composições de sempre a cada canto do Reino Unido, Tchaikovsky foi um compositor com um percurso singular e controverso.