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Ludwig van Beethoven
No dia em que Ludwig van Beethoven (1770-1827) dirigiu pela última vez fê-lo com o propósito de repetir a sua Nona Sinfonia, acabando por abandonar o pódio de direcção ao ver – não ouvir – que a música que soava na sua cabeça não correspondia à que os músicos da orquestra executavam. A surdez total era um problema antigo que, inexoravelmente, foi avançando, mas não conseguiu domar o seu génio ao ponto de ter produzido as suas melhores obras quando se encontrava já totalmente afastado dos sons que continuavam a nascer na sua cabeça.
No final dos últimos dez anos da sua vida, compôs as quatro Sonatas para Piano, da 29 à 32, a Missa em Ré, as Doze Bagatelas para o mesmo instrumento, Op. 119, a Nona Sinfonia, “Coral”, e os cinco Quartetos de Cordas que vão da Op. 127 à 135. Uma obra enorme que deu finalmente origem ao movimento romântico embora, na verdade, este tenha começado a evidenciar-se com as últimas sonatas, sinfonias e quartetos de Haydn e Mozart.
A Nona Sinfonia estreou-se a 7 de Maio de 1824 e foi recebida pela crítica como “um erro, produto da surdez do compositor”. A reacção esteve intimamente ligada à teimosia do público perante a novidade melódica. Na realidade, a “Ode à Alegria” foi, inicialmente, uma “Ode à Liberdade”. Beethoven concebeu-a como um hino à fraternidade e assinalou passagens como esta: “Alegres, alegres, alegres, voam as estrelas através dos céus, andai irmãos no vosso caminho, alegres como heróis até à vitória.”
A principal novidade da Nona Sinfonia em Ré Menor Op. 125 foi a inclusão de voz humana num tema universal, embora tenha sido concebida como uma sinfonia convencional. Sobre o primeiro andamento, “Allegro ma non troppo, un poco maestoso”, Beethoven escreveu: “Isto conduzir-nos-à, por meio da recordação, ao nosso estado de desespero.” As três notas iniciais deste movimento foram esboçadas por Beethoven para a cena das bruxas de um “Macbeth” que nunca chegou a escrever e que, ao mesmo tempo, tem certas relações com o começo da Quinta Sinfonia.
O segundo andamento, “Molto vivace, presto”, é, na verdade, um “scherzo” e dos mais típicos deste compositor. Há quem afirme que se tratou de um tema de uma dança russa, mas o que sobressai é a forma abrupta como termina, para dar lugar a “Adagio molto e cantabile – Andante moderato”, que é o terceiro andamento. Beethoven, que parecia medir a duração de cada andamento com a precisão digna de um relógio suíço, valoriza a arquitectura musical exacta e o efeito final da sua Nona Sinfonia traduz um equilíbrio entre a música e o drama (destaque para as vozes do coro em “Allegro assai”).
A marca de um génio
O estilo de Beethoven possui traços marcantes: grandes contrastes de dinâmica e de registo (grave/agudo), acordes carregados, temas breves e incisivos, variações de compasso e vitalidade rítmica. Filho e neto de músicos, Beethoven foi um menino-prodígio que sofreu na infância. Era forçado a treinar exaustivamente porque o seu pai queria vê-lo a seguir os passos de Mozart. Impressionando como pianista, aprendeu também a tocar violino, viola e órgão.
Em 1792, mudou-se para Viena e conseguiu entrar na vida luxuosa dos palácios, contactando com altas individualidades que o ajudaram a desenvolver o seu inegável talento. Três anos depois, estreou o seu primeiro concerto para piano e orquestra e, de seguida, escreveu as sonatas Opus 7. Porém, o grave problema de saúde começou a revelar os primeiros sintomas: a surdez impossibilitou Beethoven de fazer uma vida normal na sociedade vienense e, seguramente, contribuiu para o fracasso da sua paixão inspiradora por Giulietta Gucciardi.
Entre 1801 e 1814, compôs a Segunda, Terceira (conhecida por “Heróica”), Quarta, Quinta e Sexta sinfonias. A principal característica destas composições foi o desejo de reformar a estrutura clássica. A versão definitiva da ópera “Fidélio” estreou-se em 1814 e, neste trabalho único que foi alterado por diversas vezes, Beethoven explorou os temas do amor pela liberdade e o empenho em afirmar a fidelidade conjugal. Este foi também o período em que compôs as sonatas “Aurora”, “Appassionata” e “Sonata a Kreutzer”.
Nos primeiros meses de 1827, o estado de saúde agravou-se. Uma infecção intestinal e uma pneumonia comprometeram para sempre os projectos que Beethoven ainda sonhou concretizar: uma décima sinfonia, uma réquia e uma outra ópera. Porém, as dezenas de composições que deixou para a posteridade influenciaram definitivamente os rumos da música ocidental.
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PRÓXIMO COMPOSITOR |
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Richard
Wagner
Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) é uma das figuras mais célebres da história da música e também uma das mais polémicas. Tanto do ponto de vista pessoal, como do ponto de vista musical ou político, suscitou mais discussões, estudos e interpretações do seu pensamento do que qualquer outro compositor. Depois da sua morte, os seus escritos voltaram a dar lugar a posições diametralmente opostas. O que causou esta situação foi o seu ideal que tentava unir um pensamento tipicamente libertário e anarquista a um elitismo tipicamente burguês, para não dizer – já que não era – aristocrático. Nascido em Leipzig, na Alemanha, escreveu uma tragédia shakespeariana aos 14 anos e começou a estudar música, influenciado por Beethoven e Weber, para que a sua obra pudesse ser cantada. Aos 20 anos, tornou-se maestro do coro de Wurzuburgo e nunca mais parou. Quando chegou à idade de se dar a conhecer como compositor, o romantismo já estava no seu apogeu. Entre as suas obras mais famosas contamse “O Navio Fantasma” (1843), “Tanhäuser” (1861), “Tristão e Isolda” (1865) e “O Anel de Libelungo”(1876). Dedicou-se também às meditações filosóficas e estéticas, publicando as obras teóricas “A Obra de Arte do Futuro” (1849) e “Ópera e Drama” (1851). |
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