Ludwig Van Beethoven
Um génio salvo pela arte

Se se fizesse um inventário das personagens que habitam a história da música, uma das primeiras constatações é a de que existem milhares de bons compositores e intérpretes. Porém, são poucos os que conseguiram transmitir uma visão pessoal e uma compreensão além do que está escrito. Ainda que seja raro, a palavra génio pode aplicar-se a Ludwig van Beethoven.

Nascido em Bona, na Alemanha, em 1770 e falecido em 1827, em Viena, Beethoven era neto de um músico, Ludwig o Velho, que por sua vez descendia de camponeses belgas, dos quais herdou o “van” que não significa qualquer distinção de nobreza. Desde pequeno, Beethoven revelou-se um menino-prodígio, aptidão que lhe causou inúmeros dissabores: o pai queria fazer dele um segundo Mozart à custa de trabalhos contínuos e até de castigos corporais. A entrega do pai ao alcoolismo levou o jovem a ser acolhido pela família von Breuning.

Mais tarde, será o conde de Walstein que, ao escutar o jovem músico, consegue que Beethoven realize uma viagem de estudo a Viena. As suas primeiras composições revelaram-se convencionais, mas pressente-se progressivamente um afastamento do classicismo e a procura por uma revolução melódica. Beethoven considerar-se-á livre e começa a forjar o estilo que lhe trará grandes êxitos como compositor, apesar de perder muitas vezes a batalha da aceitação pública, que nem sempre compreenderá a mudança artística.

Em 1795, estreia o seu primeiro concerto para piano e orquestra e, de seguida, escreve as sonatas Opus 7. O público adora o resultado e a nobreza disputa as suas aparições nos seus salões luxuosos. Porém, um grave problema de saúde começa a revelar os primeiros sintomas: a surdez, enfermidade que o impossibilitará de fazer uma vida normal na sociedade vienense e que, seguramente, contribuiu em muito para o fracasso das suas ilusões sentimentais. Entre as suas paixões inspiradoras contam-se Teresa de Brunswick, Giulietta Gucciardi, Teresa Malfatti ou Amélia Seldab.

Com a Revolução Francesa, Beethoven confessa-se admirador de Napoleão Bonaparte. Ao compor a Terceira Sinfonia, conhecida por “Heróica”, o músico chegou a dedicá- la “à memória de um grande homem”, Napoleão, para depois acabar por riscar a inscrição por já não confiar nas ambições do líder militar francês que se quis denominar Imperador.

Numa conhecida carta dirigida a um amigo de Viena, em 1 de Junho de 1801, confessa o seu estado de saúde e, apesar da perda considerável da audição, admite ser capaz de continuar a ter uma vida social intensa, como era seu hábito até então. Começa a época da solidão, mas também a das grandes obras que somente se podiam conceber nesse grande isolamento e melancolia em que iria passar o resto da sua vida. “Foi a arte e só a arte que me salvou”, chegou a desabafar.

Da sua vasta obra, destaque para as sinfonias “Heróica”, Quinta e “Pastoral”, além dos cinco concertos para piano, a ópera “Fidelio” e as sonatas para piano solo. Sobre a Nona Sinfonia em Ré Menor Op. 125, que se estreou a 7 de Maio de 1924, o compositor reconheceu tê-la concebido como um hino à fraternidade e assinala passagens como esta: “Alegres, alegres, alegres, voam as estrelas através dos céus, andai irmãos no vosso caminho, alegres como heróis até à vitória.” Esta obra é entendida como o motor precioso que contribuiu para o florescimento do romantismo nas artes – sobretudo na música e na pintura.

PRÓXIMO COMPOSITOR

Richard Wagner

Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) é uma das figuras mais célebres da história da música e também uma das mais polémicas. Tanto do ponto de vista pessoal, como do ponto de vista musical ou político, suscitou mais discussões, estudos e interpretações do seu pensamento do que qualquer outro compositor. Depois da sua morte, os seus escritos voltaram a dar lugar a posições diametralmente opostas. O que causou esta situação foi o seu ideal que tentava unir um pensamento tipicamente libertário e anarquista a um elitismo tipicamente burguês, para não dizer – já que não era – aristocrático. Nascido em Leipzig, na Alemanha, escreveu uma tragédia shakespeariana aos 14 anos e começou a estudar música, influenciado por Beethoven e Weber, para que a sua obra pudesse ser cantada. Aos 20 anos, tornou-se maestro do coro de Wurzuburgo e nunca mais parou. Quando chegou à idade de se dar a conhecer como compositor, o romantismo já estava no seu apogeu. Entre as suas obras mais famosas contamse “O Navio Fantasma” (1843), “Tanhäuser” (1861), “Tristão e Isolda” (1865) e “O Anel de Libelungo”(1876). Dedicou-se também às meditações filosóficas e estéticas, publicando as obras teóricas “A Obra de Arte do Futuro” (1849) e “Ópera e Drama” (1851).