Terceiro volume de "A Balada do Mar Salgado"
Por: CARLOS PESSOA

É o tubarão Mao que assina o destino de todos os protagonistas da aventura. Corto Maltese e Rasputine partem da Ilha Escondida, onde outros encontram a última morada

São momentos dramáticos, mas também mágicos, os que Pandora e Tarao vivem a bordo de uma frágil embarcação que os levará até à Ilha Bura-Nea e à liberdade. De dia, o jovem maori da Nova Zelândia orienta-se pelo sol, mas à noite a situação muda de figura e então resta-lhe a ajuda de Mao, o tubarão ancestral e amigo de todos os maoris, a quem faz companhia há séculos em todas as grandes travessias do imenso oceano Pacífico.

Depois desta belíssima sequência, inserida no enredo do terceiro e último volume de “A Balada do Mar Salgado”, que hoje é distribuído com o PÚBLICO, os acontecimentos vão precipitar-se. Dir-se-ia que abominável mesquinhez dos homens, com os seus desígnios menores, respondem os deuses com a fúria dos elementos e da sua própria ira, forçando o desenlace de uma história em que nem todos conseguem manter o pé. O Monge foge, o oficial alemão é fuzilado e os britânicos tomam conta da Ilha Escondida. Corto Maltese, por seu lado, decide ficar e não hesita em fazer chantagem com o Comandante Groovesnore para salvar Rasputine e partir da ilha. Nem tudo é o que aparenta ser. De facto, na mesquinha trama de interesses que se desenha à sua volta, o marinheiro parece ser o único a manter total lucidez e um sentido ético na acção.

Hugo Pratt dirá muitos anos depois que a ideia de usar Corto, que nesta aventura ainda não tem o estatuto de um herói de corpo inteiro, só lhe surgiu mais tarde, numa viagem de Génova para Paris, onde ia encontrar-se com o chefe de redacção da revista “Pif” para discutir projectos de trabalho: “No comboio surgiume a ideia de pegar de novo em Corto Maltese, que em ‘A Balada’ era apenas um personagem entre outros, e de fazer dele o herói de uma série de episódios.”

Assim foi, mas essa é uma outra história que começará a escrever-se a partir da próxima semana.