Gosto muito de banda desenhada e, em particular, do desenho de Hugo Pratt. O retrato psicológico de Corto Maltese corresponde a uma espécie de herói cínico e vagabundo - do tipo do poeta francês Rimbaud, que, aliás, é citado com frequência. É o único herói mítico do século XX, com uma característica que, para mim, constitui uma coisa sublime - a preguiça. Tenho em minha casa uma imagem dele, politicamente incorrecta nos tempos de hoje, que ilustra bem isso: Corto Maltese está sentado numa cadeira com os pés em cima da mesa, enquanto fuma uma cigarrilha. Descobri-o já como adulto, há cerca de 13 anos, através de uma edição italiana de "A Balada do Mar Salgado", oferecida por um italiano que defendi, como advogado, de uma acusação de pertencer às Brigadas Vermelhas. Depois disso, correspondi-me com Hugo Pratt e estive quase a convencê-lo a colaborar com a "Grande Reportagem", de que eu era director na altura, para fazer a prépublicação de criações suas inéditas. Infelizmente, ele faleceu antes de essa colaboração se concretizar.
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