Nathalie Ballan - Irritante e pouco sentido de humor
EMPRESÁRIA E ESPECIALISTA DE COMUNICAÇÃO NA ÁREA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A primeira vez que vi uma banda desenhada de Corto Maltese tinha 10 anos e foi na revista “Pif-Gadget”. Eu adorava esta publicação que se editava em França, mas os meus pais detestavamna porque era feita por uma empresa ligada ao Partido Comunista Francês. O problema é que eu e as minhas amigas não percebíamos nada das histórias e, por isso, passávamos à frente para ler outras coisas mais interessantes, como o Rahan. Ainda por cima, era a preto e branco e uma semana depois já não me lembrava nada do que tinha acontecido antes… Enfim, não era uma série politicamente correcta. Entre os 15 e os 20 anos já foi diferente, pois estava muito na moda, sobretudo entre os estudantes franceses da “rive gauche”, em Paris. Era uma época em que os meios intelectuais, que eu frequentava, começaram a valorizar a banda desenhada. Não era toda, claro, mas Corto Maltese estava entre as que se safavam. O que mais me marcou então era que eu gostava de conhecer um homem assim… E depois havia as viagens, que eram outra coisa que me fascinava imenso.

Hoje, acho que o herói é um indivíduo especialmente irritante e que tem muito pouco sentido de humor. É claro que continua a ser muito giro, mas é um estereótipo, com o brinco na orelha e o boné que se tornaram lugarescomuns. Para mim, é francamente desagradável aquele desprendimento que ele exibe e que já não me provoca o menor fascínio. O desenho é superforte, mas já nem isso me toca. Em suma, Corto Maltese foi um sonho de adolescente que durou muito pouco tempo. Há pouco tempo fiz um pequeno inquérito pessoal entre várias mulheres que eu conheço e chegámos a uma conclusão terrível: o Corto Maltese é o Ken dos intelectuais…