A primeira vez que vi
uma banda desenhada
de Corto Maltese tinha
10 anos e foi na revista
“Pif-Gadget”. Eu adorava
esta publicação que se
editava em França, mas
os meus pais detestavamna
porque era feita por
uma empresa ligada
ao Partido Comunista
Francês. O problema é
que eu e as minhas amigas
não percebíamos nada
das histórias e, por isso,
passávamos à frente para
ler outras coisas mais
interessantes, como o
Rahan. Ainda por cima,
era a preto e branco e uma
semana depois já não me
lembrava nada do que
tinha acontecido antes…
Enfim, não era uma série
politicamente correcta.
Entre os 15 e os 20 anos
já foi diferente, pois
estava muito na moda,
sobretudo entre os
estudantes franceses da
“rive gauche”, em Paris.
Era uma época em que os
meios intelectuais, que eu
frequentava, começaram
a valorizar a banda
desenhada. Não era toda,
claro, mas Corto Maltese
estava entre as que se
safavam. O que mais me
marcou então era que eu
gostava de conhecer um
homem assim… E depois
havia as viagens, que
eram outra coisa que me
fascinava imenso.
Hoje, acho que o herói é um
indivíduo especialmente
irritante e que tem muito
pouco sentido de humor.
É claro que continua a
ser muito giro, mas é um
estereótipo, com o brinco
na orelha e o boné que
se tornaram lugarescomuns.
Para mim, é
francamente desagradável
aquele desprendimento
que ele exibe e que já
não me provoca o menor
fascínio. O desenho é
superforte, mas já nem
isso me toca. Em suma,
Corto Maltese foi um
sonho de adolescente que
durou muito pouco tempo.
Há pouco tempo fiz um
pequeno inquérito pessoal
entre várias mulheres que
eu conheço e chegámos a
uma conclusão terrível: o
Corto Maltese é o Ken dos
intelectuais…
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