As mulheres de Corto - Xangai-Li

Eliminada a duquesa Seminova e o comandante Semenoff em fuga, Xangai-Li troca a sua pele de leopardo na alcova do ex-oficial cossaco pela farda de activista das Lanternas Vermelhas e militante revolucionária. O comentário de Corto Maltese é sibilino: “A pele de leopardo ficava-te melhor... minha pequena Xangai-Li.” Mas a resposta da sua interlocutora está à altura: “Já não tenho a pele de leopardo, mas ainda tenho as suas unhas.” Quatro profundos arranhões na face do marinheiro ilustram dolorosamente a afirmação.

Os dois voltarão a encontrar-se, pela última vez, algum tempo depois de o herói ficar seriamente ferido na sabotagem do comboio do general Chang. Corto desloca-se então à longínqua província de Kiangsi, onde chega numa manhã de Abril, luminosa e invadida por uma miríade de borboletas. É recebido por Ling, um engenheiro agrónomo que desconhece a identidade do homem que aprendeu a admirar através dos relatos chegados de longe. Corto, por seu lado, vai encontrar uma professora da nova escola de Kiang, que substituiu a antiga comissária do Kuomintang e futura combatente comunista do exército de Mao Tsé- Tung. Mas ignora que a jovem casou com Ling e, ao sabê-lo, decide partir imediatamente para um destino desconhecido pelos seus amigos desta aventura siberiana.

Xangai-Li é o pseudónimo conspirativo de Tian Hua, nascida em 1897, que participou em todos os grandes movimentos da história chinesa depois da I Guerra Mundial. São contraditórias as informações disponíveis sobre a sua morte, ocorrida em 1968, em plena Revolução Cultural: para uns, em consequência de maus tratos infligidos na prisão durante aquele período conturbado da história da República Popular da China; para outros, sumariamente condenada à morte e executada em 3 de Setembro de 1968. Um dos pontos da acusação foi ter escondido uma carta assinada por um ocidental chamado Corto Maltese.