Segundo volume de “Sob o Signo do Capricórnio”
Por: CARLOS PESSOA

Corto Maltese continua a percorrer os caminhos da aventura. Antes de perder a memória, Rasputine volta a estar no seu caminho, e cruza-se com mulheres belas e inteligentes...

Uma gaivota distrai por instantes Corto e assinala a sua posição a um atirador emboscado. O herói escapa por um triz à morte, para se encontrar a delirar nos braços de Soledad Lokäart, amnésico e com uma violenta dor de cabeça. Um herói sem memória não é uma situação inédita. No caso do personagem criado por Hugo Pratt, o que o distingue é o facto de ele acabar por fazer exactamente o que faria se não tivesse perdido o sentido da sua identidade pessoal. Mas o que acontece a seguir é algo que os leitores só terão oportunidade de saber depois de lerem “Por Culpa de uma Gaivota”, uma das bandas desenhadas que fazem parte do segundo volume de Sob o Signo do Capricórnio, à venda dia 18 de Outubro com o PÚBLICO.

Sabe-se que Hugo Pratt gostava muito de gaivotas, que estão muitas vezes presentes nas histórias do seu herói. “Uma gaivota é um planador elegante e perfeito”, disse um dia. Em contrapartida, nunca
atribuiu grande importância à opção por um parêntesis amnésico no percurso do marinheiro de Malta: “Acho bem que ele tenha perdido a memória. Isso dá-me a possibilidade de desenvolver algo de diferente a seguir”.

Inteiramente lúcido ou imerso nas brumas do esquecimento, o certo é que o marinheiro de Malta exibe sempre um invulgar sentido de humor, desconcertante e imprevisto na sua formulação e nas suas consequências. Talvez por isso, parece estar permanentemente sobre o fio da navalha, dando a impressão de que um gesto a mais será a sua perdição ou que um gesto menos deixará tudo na mesma. Isso jamais acontecerá. Ganhador ou perdedor dos seus desafios, Corto Maltese exibe a discreta superioridade de quem sabe que mais importante do que a vida e a morte, a vitória ou a derrota, a posse ou a perda, é atravessar o mundo e a existência sem abdicar de uma ética que nunca perde de vista o sentido último das coisas. Mesmo sabendo que elas são, por definição, inatingíveis.