A rota da seda liga a China ao Mediterrâneo. Corto Maltese empreende o caminho inverso,
à procura de um tesouro. Conseguirá atingir os seus objectivos?
A extensa rota terrestre entre
o Mediterrâneo e a fronteira
do Império das Índias é uma
das mais longas distâncias percorridas
por Corto Maltese nos
seus périplos aventureiros. Através
da Ásia, continente onde se
assistia na altura ao nascimento
de três repúblicas — a Turquia,
a URSS e o Irão —, esta viagem
constitui um enorme teste à
capacidade de o herói passar
incólume através dos massacres,carnificinas e vinganças com
que a Terra mata a sua infinita
sede de sangue humano. Como
se verá, o marinheiro é um
espectador atento — e nunca
indiferente — de tudo isto em “A
Casa Dourada de Samarcanda”,
banda desenhada da qual é hoje
distribuído o primeiro volume
com o PÚBLICO.
O herói parte de Rodes em
Dezembro de 1921, em busca
do mítico tesouro de Alexandre,
“O Grande”. Nesse tempo,
a viagem através de territórios sem lei nem ordem era muito
perigosa. Mais arriscada ainda,
quando era feita por um
ocidental muito parecido com
Chevket, um general turco
aliado e amigo de Enver Pacha,
antigo ministro da Guerra do
seu país e responsável pelo
holocausto arménio de 1915.
No seu caminho, o herói cruza-
se com velhos conhecidos
— o oficial italiano António
Sorrentino, que conhecera em
1917 em Veneza, e Venexiana
Stevenson, que tenta em vão matá-lo outra vez. Sonha com
Rasputine, que apodrece numa
prisão de Samarcanda, com o
seu “duplo” Chevket e com
Pandora, que não voltou a ver
desde que partiu da ilha Escondida,
em 1915. Encontra-se pela
primeira vez com Marianne e
John Bull, comediantes que dão
espectáculos para os soldados
da frente oriental.
Em Janeiro de 1922, Corto
atravessa a cidade de Adana e
prossegue para leste. É brutalmente
espancado quando assiste
a uma sessão do teatro karagoz
e acorda num camião de soldados
curdos que se dirigem para
Van, perto da fronteira entre o
Curdistão e o Azerbaijão. É aqui
que lhe pedem para levar para a
Arménia russa uma criança cuja
família foi assassinada. Porquê
ele? Responde enigmaticamente
o interlocutor de Corto: “Cada
um escolhe o seu caminho e age
de acordo com isso. Afinal, tudo
é ‘kismet’.”
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