O que mais me fascina
em Corto Maltese, de
quem gosto muito, é a
sua faceta de herói...
anti-herói. Apesar da
reserva com que todos
os paralelismos devem
ser olhados, ele é um
dos ícones da nossa
história, comparável a
Ulisses, Che Guevara ou
Salgueiro Maia — é um
daqueles indivíduos que
sentem ter uma missão,
um papel a desempenhar
na história. À boa
maneira dos heróis,
está sempre do lado
dos “bons” e defende
os valores mais nobres.
Depois de interferir
nas histórias, sai delas
e segue para outra
viagem. Por tudo isso,
Corto Maltese é muito
fascinante e representa
algo de que estamos
muito necessitados.
Vale a pena referir
também a dimensão
romântica do herói,
sempre com uma
participação apaixonante
nos acontecimentos. O
que me entusiasma em
Corto Maltese é uma
certa costela anarquista
“light”, pois é um
personagem cioso da
liberdade e de saber
gozá-la, procurando
para os outros o mesmo
que quer para si, sem
desprezo pelas coisas
boas da vida, como a
aventura, as mulheres ou
as viagens.
Foi na revista “(À
Suivre)”, no final dos
anos 70 e durante toda
a década seguinte, que
tomei contacto com as
histórias de Hugo Pratt.
A banda desenhada
de que mais gosto é a
“Fábula de Veneza”, que
foi também a primeira
que li. Ficou para sempre
no meu imaginário,
porque é intrigante,
está cheia de mistério e
decorre naquele cenário
fabuloso de Veneza. E depois há aquele
traço expressivo,
sintético e depurado,
que é genial, utilizando
apenas pequenos
sombreamentos ou um
traço mais grosso para
dar mais profundidade à
cena. Isso é feito de uma
forma simultaneamente
fantástica e abrangente.
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