Breve paragem do herói em Hong Kong, onde Rasputine o encontra sentado num banco de
jardim. Partem pouco depois para leste, onde os esperam mil riscos e homens muito perigosos
O marinheiro de Malta está em
Hong Kong quando os jornais anunciam
o fim da I Guerra Mundial na
Europa. Lê as últimas notícias num
banco de jardim, onde é surpreendido
pela sinistra silhueta de Rasputine,
que já não via há dois anos. Para
Corto, a situação parece um bizarro
prolongamento do breve sonho em
que mergulhou enquanto Vida
Longa desenhava laboriosamente
o hexagrama Kui Me. Quem fala
de Rasputine fala de sarilhos, e o
herói acaba na esquadra policial mais próxima, onde é submetido
a interrogatório cerrado, mas sem
consequências.
Sob o olhar enigmaticamente
afectuoso de Madame Hu, que faz a
manutenção da sua residência na
cidade — um porto de abrigo seguro
e confortável onde repousa entre duas
viagens —, Corto Maltese recebe
a visita das emissárias da sociedade
secreta das Lanternas Vermelhas,
que lhe propõem um negócio: recuperar
o tesouro imperial russo, nas
mãos do almirante Kolchak desde
o derrube do regime czarista pelos
bolcheviques. O herói aceita e vai envolver-se numa movimentada e
perigosa aventura que só terminará
nos confins da Ásia. É este o tema
central de “Corto Maltese na Sibéria”,
uma história publicada pela
primeira vez na revista italiana
“Linus” entre Janeiro de 1974 e
Julho de 1977.
No primeiro volume desta aventura,
que será distribuído amanhã
com o PÚBLICO, já é possível observar
o resultado da colaboração
de Guido Fuga com Hugo Pratt, a
quem este último recorreu para
desenhar os comboios blindados
onde decorre uma boa parte da acção. acção.
Os leitores mais críticos nunca
perdoaram ao criador italiano esta
“traição”, que o criador italiano
explicou nestes termos:
“Há pessoas que não acharam
isso justo, eram de opinião que eu
deveria desenhar os comboios...
Mas eu estou-me nas tintas,
porque o que me interessava era
que as carruagens ficassem bem.
Acrescentei as sombras e dei-lhes
movimento, mas os rodados eram
tão belos que os deixei ficar assim,
como um instantâneo de uma
fotografia, sem lhes acrescentar
movimento.”
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