Primeiro volume "na Sibéria"
Por: CARLOS PESSOA

Breve paragem do herói em Hong Kong, onde Rasputine o encontra sentado num banco de jardim. Partem pouco depois para leste, onde os esperam mil riscos e homens muito perigosos

O marinheiro de Malta está em Hong Kong quando os jornais anunciam o fim da I Guerra Mundial na Europa. Lê as últimas notícias num banco de jardim, onde é surpreendido pela sinistra silhueta de Rasputine, que já não via há dois anos. Para Corto, a situação parece um bizarro prolongamento do breve sonho em que mergulhou enquanto Vida Longa desenhava laboriosamente o hexagrama Kui Me. Quem fala de Rasputine fala de sarilhos, e o herói acaba na esquadra policial mais próxima, onde é submetido a interrogatório cerrado, mas sem consequências.

Sob o olhar enigmaticamente afectuoso de Madame Hu, que faz a manutenção da sua residência na cidade — um porto de abrigo seguro e confortável onde repousa entre duas viagens —, Corto Maltese recebe a visita das emissárias da sociedade secreta das Lanternas Vermelhas, que lhe propõem um negócio: recuperar o tesouro imperial russo, nas mãos do almirante Kolchak desde o derrube do regime czarista pelos bolcheviques. O herói aceita e vai envolver-se numa movimentada e perigosa aventura que só terminará nos confins da Ásia. É este o tema central de “Corto Maltese na Sibéria”, uma história publicada pela primeira vez na revista italiana “Linus” entre Janeiro de 1974 e Julho de 1977.

No primeiro volume desta aventura, que será distribuído amanhã com o PÚBLICO, já é possível observar o resultado da colaboração de Guido Fuga com Hugo Pratt, a quem este último recorreu para desenhar os comboios blindados onde decorre uma boa parte da acção. acção. Os leitores mais críticos nunca perdoaram ao criador italiano esta “traição”, que o criador italiano explicou nestes termos:

“Há pessoas que não acharam isso justo, eram de opinião que eu deveria desenhar os comboios... Mas eu estou-me nas tintas, porque o que me interessava era que as carruagens ficassem bem. Acrescentei as sombras e dei-lhes movimento, mas os rodados eram tão belos que os deixei ficar assim, como um instantâneo de uma fotografia, sem lhes acrescentar movimento.”