Tal como Corto Maltese
gosto de viajar. Muitas
vezes saí do meu quarto
para ir correr o mundo.
Mas nunca fui nem,
porventura, chegarei
algum dia a ir a tantos
sítios da Terra como o
marinheiro romântico
nascido em Malta de
um cruzamento entre a
Andaluzia e a Cornualha.
Por isso mesmo, gosto de
viajar pelos seus álbuns
de banda desenhada.
É precisamente por a
viagem poder ser todos
os dias substituída pela
ficção da viagem, pela
imaginação da viagem,
que tenho os álbuns de
Corto à cabeceira no meu
quarto.
De resto, começa-se
sempre por se viajar
no próprio quarto. O
romântico Almeida
Garrett intitula o primeiro
capítulo das suas “Viagens
na Minha Terra”,
inspirado nas “Viagens à
Volta do Seu Quarto” de
Xavier de Maistre: “De
como o autor deste erudito
livro se resolveu a viajar
na sua terra, depois de ter
viajado no seu quarto.”
E, tal como Garrett sai do
seu quarto (“Que viaje à
volta do seu quarto quem
está à beira dos Alpes, de
Inverno, em Turim, que
é quase tão frio como S.
Petersburgo — entende-se.
Mas com este clima, com
esse ar que Deus nos deu,
onde a laranjeira cresce
na horta, e o mato é de
murta, o próprio Xavier
de Maistre, que aqui
escrevesse, ao menos ia
até o quintal.”), também a
mim, depois de ler o Corto,
me apetece viajar, partir à
aventura.
Os álbuns do Corto
despertam-me, como
nenhuns outros, o apetite
das viagens. Perto deles,
numa estante do meu
quarto, estão uns volumes
antigos da revista “Corto
Maltese” e um número
especial da revista “Geo”
dedicado a Corto: têm
marcas que me recordam
viagens que sonhei fazer
e ainda não fiz. Ah,
ainda um dia me hei-de
aventurar, na realidade,
aos sítios fantásticos onde
o Corto, em ficção, se
aventurou...
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