A primeira publicação de "A Balada do Mar Salgado" teve uma vida quase tão atribulada como a dos seus personagens. As pranchas iniciais surgiram no primeiro número da revista mensal "Sgt. Kirk" (Julho de 1967), editada em Génova por Florenzo Ivaldi, um empresário que adorava a banda desenhada- "comportava-se como um Médicis", disse dele Hugo Pratt.
A história suspendeu-se logo no mês seguinte, regressando de novo em Outubro do mesmo ano. Publicou-se sem interrupção até Setembro de 1968, e depois de um só fôlego entre Novembro do mesmo ano e Fevereiro de 1969. Esta irregularidade tem muito a ver com as frequentes viagens que o desenhador fazia pelo mundo, o que deixava os editores à beira de um ataque de nervos.
O episódio fundador da série Corto Maltese passaria, na altura, praticamente despercebido. A revista tinha muita qualidade, mas a tiragem era pequena - apenas três mil exemplares - e a difusão praticamente restringida a Génova. Também Corto atravessa de forma bastante discreta esta primeira aventura e nem o próprio Pratt podia adivinhar no que ele viria a tornar-se. No final de 1969 a revista francesa "Pif" pede-lhe que crie um herói e é assim que ele decide relançar o marinheiro de Malta. Os 21 episódios surgidos entre Abril de 1970 e Abril de 1973 projectam o autor e o seu personagem para o êxito.
Mas em 1967 Hugo Pratt era apenas um criador de banda desenhada - um "fumettaro", como reivindicava orgulhosamente - que tentava ganhar a vida. A "Balada", afirmou, era "o resultado de 25 anos de experiências e influências", nos quais cabiam "as bandas desenhadas de Caprioli, o meu 'Capitain Cormorant', romances ou filmes como 'Revolta na Bounty'". Tudo isso desempenhou "um papel na minha visão da Oceânia", embora o seu conhecimento directo do Pacífico e das suas ilhas fosse, na época, muito reduzido:"Eu só vi o Pacífico a partir da costa chilena."
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