Banda desenhada “Tango”

Relato de uma investigação, com um peculiar sabor policial, empreendida por Corto Maltese para descobrir a fi lha da sua velha amiga Louise Brookszowyc

Cadinho de encontros culturais e raciais, a grande cidade sul-americana de Buenos Aires é o ponto de confluência de vários destinos — o dos “gangsters” norte-americanos Butch Cassidy, Sundance Kid e Etta Place, mas também o da “Warsavia”, rede clandestina de prostituição de jovens oriundas da Europa Central. E de Louise Brookszowyc, que abandonara Itália no final de “Fábula de Veneza” para se radicar na Argentina.

Tudo isso está em “Tango” (distribuído hoje com o PÚBLICO), cuja acção decorre no ano de 1923. A história “transpira” literatura — pensa-se de imediato em Jorge Luís Borges, mas de facto são os escritores Leopoldo Lugones e Roberto Alt que tutelam o enredo. E, sobretudo, há nesta banda desenhada a presença incontornável da música, sublinha Hugo Pratt: “O título é uma homenagem ao tango. A minha juventude foi marcada por dois tipos de música, primeiro o jazz e depois o tango. E foi em Buenos Aires, em 1955, que encontrei Dizzy Gillespie, que ficou meu amigo.”

A história, publicado pela primeira vez, com o título “Y Todo a Media Luz”, na revista italiana “Corto Maltese”, entre Junho de 1985 e Maio do ano seguinte, é o relato de uma investigação com um peculiar sabor policial empreendida por Corto para descobrir a filha da sua velha amiga. Pela primeira vez, o leitor depara-se com um Corto vingador, alguém que não tem problemas em afirmar: “Se alguém te mata um amigo, só te resta vingá-lo.” E que, de permeio, não hesita em enfrentar os grandes capitalistas latifundiários do país, verdadeiros responsáveis pela morte de Louise Brookszowyc. “Quando matam os seus amigos, Corto quer vingá-los. É compreensível que ele não deixe passar em claro uma coisa dessas”, sublinhou o criador italiano. “Tango” é uma história anticapitalista? “Pode dizer-se isso. Não sou forçosamente contra o capital, mas quando os capitalistas chegam ao ponto de matar pessoas…”, limitou-se Pratt a responder.