Terceiro volume de“Mû”

Um atónito Corto Maltese contempla, impotente, o desaparecimento em cinzas da ilha-porta de acesso a outra dimensão da realidade O diálogo silencioso com as estátuas gigantes da ilha de Páscoa revela-lhe que está na presença do que resta do reino de Mû. A seguir descobre que Soledad não foi raptada e que, pelo contrário, acaba de encontrar o caminho da felicidade. Depois enfrenta corajosamente os homens-aranha para recuperar os seus amigos perdidos e constata que o fogo dos sonhos não o pode queimar. De etapa em etapa e de descoberta em descoberta, o marinheiro de Malta cumpre assim o seu percurso pelos mundos misteriosos e estranhos do sonho, da imaginação e dos labirintos da Terra. No termo de todas as peripécias, um atónito Corto contempla, impotente, o desaparecimento em cinzas da ilha-porta de acesso a outra dimensão da realidade. Mas ele sabe muito bem que isso não é o fim do mundo - existe sempre uma possibilidade, "talvez recomeçar do zero". A seguir parte com o seu amigo Levi Columbia. É este o conteúdo do terceiro e último volume de "Mû", a banda desenhada de Corto Maltese que hoje é distribuída com o PÚBLICO.

Depois desta história, Corto Maltese não volta a ser o protagonista de qualquer outra aventura, embora Hugo Pratt ainda tenha escrito e desenhado outras nos anos seguintes. Em todas as obras está presente, por interposição dos seus personagens, a "curiosidade intelectual" que guiou a sua vida, como revelou ao seu biógrafo Dominique Petitfaux: "A minha vida está cheia de surpresas e prazeres. As minhas buscas em diferentes domínios permitiramme compreender melhor o mundo e a mim mesmo."

No momento da morte, o seu pai pôs-lhe nas mãos um exemplar de "A Ilha do Tesouro", de Robert L. Stevenson, enquanto dizia: "Também tu encontrarás, um dia, a tua ilha do tesouro." Quatro anos antes da sua morte, numa hora que já era de balanço de uma vida, perguntaram a Hugo Pratt se a tinha encontrado:

"O meu pai tinha razão, encontrei a minha ilha do tesouro. Encontrei-a no meu mundo interior, nos meus encontros, no meu trabalho. Passar a minha vida com um mundo imaginário foi a minha ilha do tesouro."